Sofri um acidente na viagem. E agora?
Acidentes acontecem, certo? Nas viagens também, embora a gente sempre torça e nunca espere que eles vão acontecer no meio das férias, do intercâmbio, e por aí vai. Eu sempre contratei seguro saúde para viagens internacionais e sempre fiz questão de que ele tivesse uma cobertura ampla e fosse bem avaliado. Tá aí um dinheiro que eu realmente não economizo, porque se ter um problema de saúde ou acidente no meio da viagem pode ser ruim, se sentir desamparada e ficar endividada numa hora tão vulnerável é, a meu ver, pior ainda.
Eu já estava fora do Brasil por alguns meses, viajando pela Ásia e sobrevivendo ao caos do trânsito de lá. Quem já visitou a Índia, o Nepal, o Vietnã, o Camboja ou a Tailândia sabe bem do que estou falando: carros e ônibus trafegam fora das faixas, milhares de motos brotam do nada e ocupam toda a rua – e às vezes a calçada também -, tem ainda tuk-tuks, alguns animais (as vacas na Índia, por exemplo), e nós, pedestres. Quando eu cheguei à Tailândia – que foi o último país dessa lista que visitei – eu consegui relaxar um pouco, porque embora o trânsito de lá também seja intenso, é o mais organizado. E com essa de relaxar, acabei sofrendo um pequeno acidente com uma moto. Não tive nenhum ferimento gravíssimo, mas foi o suficiente pra criar uma lesão séria no meu braço e me levar à peregrinação por hospitais.
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Eu estava numa ilha, no golfo da Tailândia, e fui direto ao hospital/posto de saúde. O único médico do plantão já estava quase indo embora e eu simplesmente não conseguia ligar para o meu seguro. Ficou aí a primeira lição: você só consegue ser atendida se ligar de um número local. Pode parecer meio óbvio, mas vira uma pequena cilada. Vou explicar o porquê: eu costumo comprar o chip em cada país que visito, mas não me preocupo em plano com ligação – afinal de contas, tudo se resolve por Internet, concorda? Pois é… na hora de falar com o seguro saúde, a ligação não completava e o aplicativo simplesmente não respondia (problema que, aliás, continuou acontecendo em outros países e já me levou a questionar a empresa diversas vezes. Afinal, pra que ter um chat no aplicativo se a gente NUNCA consegue falar com a atendente?) Mas eu tive a sorte de ser atendida por duas enfermeiras maravilhosas, que não só cuidaram de mim como ligaram para o seguro e me ajudaram a resolver tudo. E, justiça seja feita: assim que conseguimos falar com a atendente, tudo foi resolvido com muita rapidez.
Passei uma semana de molho e nada do braço melhorar. Fui para a capital, Bangkok, e pedi uma nova consulta. Depois de um tempinho esperando ao telefone, descobri que na clínica indicada eu teria que pagar por tudo e pedir reembolso ao plano. E, segundo o atendente, o reembolso seria autorizado após análise do valor gasto. Como eu já não tinha urgência, consegui prestar atenção nesse detalhe que poderia virar uma dor de cabeça. Já pensou ir ao hospital que o seu seguro indica, usar seu cartão e depois descobrir que pagou mais caro do que o seguro aceita? Eu já tinha uma lesão no braço pra cuidar e não tava nem um pouco a fim de lidar com outro tipo de desafio (leia-se: problema). Mais uma hora de conversa e consegui ser atendida em um hospital excelente, mas do outro lado da cidade (Bangkok é enorme, diga-se de passagem). Passei o dia por conta disso e voltei ao hotel com o braço imobilizado, parecendo uma múmia, cheia de remédios na bolsa e a recomendação de repouso por mais uma semana.
Pra encurtar a história, fui ao hospital em Bangkok mais uma vez e vi que ia precisar dar um tempo para o meu corpo se recuperar – e me mostrar se a saga ia terminar por ali. O médico até pediu um novo retorno antes que eu saísse da Tailândia, mas como já tinha passagem marcada e sentia que estava melhorando a cada dia, decidi relaxar um pouco, aproveitar a viagem e procurar atendimento no meu próximo destino – onde, finalmente, consegui o pedido de uma ressonância (que é algo que eu, na minha opinião leiga, mas formada pela série de TV Grey’s Anatomy, rs, queria ter feito desde o começo).
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Agora vem uma parte menos prática da experiência: depois que o susto do acidente passa e você vê que está recebendo cuidado profissional, começa a cair a ficha do que é se sentir tão vulnerável – e do impacto que isso ainda tem no seu lado emocional. Eu não posso me queixar de nada, em nenhum momento, porque diante de todos os desafios, recebi ajuda. E isso me tocou profundamente porque eu sentia que era como se Deus estivesse conversando comigo e me mostrando que eu não estava sozinha e que tudo ficaria bem. Não é fácil sofrer um acidente estando tão longe de casa, imersa numa cultura tão diferente da sua e num lugar onde você tem tão poucas – ou quase nenhuma- referências. Eu também decidi não contar nada, de imediato, pra minha família, porque ninguém teria como me ajudar e a notícia deixaria todo mundo preocupado e imaginando que a minha situação era mais grave do que foi. Escolhi, então, algumas pessoas próximas que conseguiriam ser mais neutras para eu poder desabafar e receber carinho à distância. E eu tenho certeza que elas sabem que foram importantes pra mim, mas talvez não tenham ideia de como foi fundamental poder conversar e confiar na discrição de cada uma.
Eu sinto também que nunca vou agradecer o suficiente aos dois conhecidos que me levaram ao hospital na ilha, ficaram lá comigo e me deixaram na porta do hotel. Nem ao funcionário do hotel em Bangkok que se tornou uma grande companhia na minha semana de repouso. Uma das inúmeras gentilezas dele foi aparecer com uma sobremesa típica para eu provar, simplesmente porque tinha dito a ele que queria saber onde podia comprá-la.
Então, se minha experiência puder servir para outros viajantes, eu vou sempre frisar que seguro saúde é essencial (e ainda assim pode trazer contratempos); que se a situação não for urgente, é bom esmiuçar todos os detalhes e informações com os atendentes para não cair em cilada (como a do reembolso que poderia não ser total). Outra coisa importante: você pode não ser médico, mas você conhece seu corpo e tem condição de saber se está respondendo bem ao tratamento. Insista em exames, em esgotar as dúvidas e suspeitas que podem surgir. Recorra a todos os meios de comunicação do seguro: eu não consegui falar pelo chat do aplicativo, mas tive resposta por mensagem inbox do Facebook. Além disso, a pessoa que me vendeu o seguro no Brasil me deu o número do WhatsApp, para alguma urgência, e foi um anjo quando precisei – fez contato com a empresa e nos colocou em conversa por e-mail. Por fim, eleja alguém querido pra ser seu apoio emocional, porque segurar a barra sozinho não é fácil, e pedir ajuda e colo também fazem muito bem à saúde.