Sustentabilidade na Holanda.
Ao retornar para o Brasil pela primeira vez após minha mudança para a Holanda, percebi que, apesar da felicidade do retorno, alguns itens da cultura holandesa já estavam arraigados. Por exemplo, a falta do separador de compras na esteira do supermercado para delimitar a compra de cada cliente, o retorno do carrinho de compras para o seu devido local mesmo não tendo que recuperar nenhuma moeda e, o controle da minha compulsão para o consumo. Contudo, dois itens foram os mais difíceis: orientar as crianças a não tomar água da torneira e a não jogar papel higiênico no vaso sanitário.
Tais orientações podem parecer estranhas em um primeiro momento, mas acreditem, faz parte da cultura holandesa beber água potável diretamente da torneira e não utilizar o nosso velho cesto de banheiro, sendo este último considerado nojento pelos holandeses.
Obviamente, estamos diante de choques culturais, entretanto, essas diferenças são originárias da forma que os holandeses lidam com seus recursos, em especial o hídrico. A relação holandesa com a água é antiga, desde a era medieval em que esse povo defende e recupera a sua terra do mar.
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Essa luta pela sobrevivência os fizeram especialistas em tecnologia aquática. Qualquer água suja pode ser transformada em água potável e sem cloro pelos holandeses. Por este motivo, 99,9% das residências holandesas recebem água pura diretamente da torneira.
Segundo o site Water and the Dutch, o sistema de tubos de água dos Países Baixos tem uma taxa de fuga entre 3% e 5%, bem abaixo da média de 10% dos outros países europeus devido em grande parte, à tecnologia de sensores e manutenção regular. A qualidade da água e a utilização correta desse recurso são assuntos de extrema relevância pelas autoridades holandesas.
Assim como no tratamento da água, o descarte do lixo também é considerado muito importante. A coleta é feita semanalmente, de forma alternada conforme um calendário determinado pela prefeitura de cada cidade e os moradores, são responsáveis pela correta separação dos detritos da seguinte forma:
Lixo orgânico – denominado aqui pela sigla GFT (groeten,fruit,tuin), vegetais, frutas, restos de jardins e resíduos biodegradáveis. Este lixo é colocado em um container verde e recolhido pela prefeitura a cada duas semanas;
Lixo de papel – todo papel reciclável e papelão é colocado em um container azul;
Lixo comum ou restafal – é colocado em um container cinza dentro de um saco preto que deve ser comprado no supermercado. Este tipo de lixo inclui tudo aquilo que não pode ser reciclável;
Lixo reciclável – plásticos, metais, embalagens de leite, latas e entre outros, devem ser descartados em sacolas plásticas próprias distribuídas de forma gratuita nos supermercados. Recentemente, foi disponibilizado um container laranja para as residências;
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Vidro – existe uma lixeira própria com separador de cores para vidros verdes, brancos e marrons. É interessante observar que as garrafas de cerveja podem ser trocadas por centavos em máquinas de troca dentro dos supermercados, juntamente com as garrafas pets.
As lâmpadas, pilhas e baterias podem ser descartadas em locais específicos nos supermercados. Artigos eletrônicos quebrados podem ser coletados nas lojas de eletrônicos.
Os remédios vencidos são entregues para o descarte diretamente nas farmácias. Os resíduos grandes, como por exemplo, um móvel velho, sobras de pequenas manutenções em casa, grandes caixas de papelão ou isopor devem ser levados para um depósito de reciclagem localizado em um ponto específico de cada cidade e que impressiona pela organização.
As roupas e sapatos em bom estado são recolhidos dentro de um saco exclusivo para essa finalidade uma vez por mês.
A conscientização holandesa sobre a maneira correta de descartar o lixo é alta, porém, isto se deve às altas taxas de impostos de coleta de lixo não reciclável, além das multas por descarte incorreto.
Segundo dados da NVRD – órgão holandês que une municípios responsáveis pela gestão de resíduos e a gestão do espaço público e seus resíduos e empresas de limpeza, na Holanda 80% dos resíduos sólidos são reciclados, 16% incinerados e somente 4% destinados a aterros sanitários, gerando assim, o uso de energia renovável e diminuindo consideravelmente o impacto sobre o meio ambiente.
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Outra forma de reduzir o impacto ambiental é através da redução de consumo e, nesse quesito os holandeses também são exemplo. Em cada cidade existe uma Kringloopwinkel, que nada mais é do que uma loja de artigos de venda de produtos de segunda mão.
Essas lojas vendem de tudo: pratos, roupas, sapatos, brinquedos, móveis, eletrônicos CDs e DVDs dentre outras coisas. O estímulo ao reuso é forte em toda a comunidade inclusive, em alguns centros comunitários existem pontos de escambo, ou seja, você leva o que não precisa mais e troca por algo que queira.
A forma sustentável holandesa de descarte de resíduo e tratamento de água é admirável e com certeza, há exemplos a serem seguidos. As crianças, crescem dentro de um ambiente onde o cuidado com a natureza e a maneira adequada de descartar os detritos, fazem parte do contexto cultural do dia-a-dia do indivíduo.
E na sua cidade, existe reciclagem de lixo? Conta pra gente!
Te vejo no próximo post.