Conforme já foi mencionado algumas vezes, a Polônia é um país muito católico e, por isso, os feriados religiosos têm um grande significado para a maioria da população. O dia de Todos os Santos e Finados na Polônia não poderiam ser diferentes.
A primeira vez que a Igreja Católica celebrou o Dia de Todos os Santos foi em 1° de novembro de 731. Na Polônia, essa celebração começou após Mieszko I aceitar o cristianismo em 966.
Como no Brasil, o dia de Todos os Santos (Dzień Wszystkich Świętych), 1° de novembro, é o feriado onde se celebra todos os santos, mártires e heróis. No dia 2 de novembro, Finados (Dzień Zaduszny ou Zaduszki), relembramos nossos entes que partiram e as almas que estão no purgatório. Os dois dias na tradição polonesa são para lembrar os mortos em geral.
Tradições e Rituais Antigos:
Em toda a Polônia acreditava-se que na madrugada do dia 1°, as almas presas no purgatório voltavam para a terra, andavam pelos cemitérios pedindo ajuda, orações e sacrifícios. Elas chamavam a atenção rangendo pisos, batendo portas, soprando vento, aparecendo em sonhos ou mesmo como sombras. As almas vinham com sede e fome, precisando de descanso e proximidade com os parentes, então, era dever do vivo satisfazer a todos os desejos das almas para que elas não trouxessem nenhuma infelicidade, desgraça ou, até mesmo, morte prematura. Principalmente nas aldeias, cozinhavam vários tipos de alimentos e uma mesa era preparada com pães, grãos, mel e vodca para os mortos. A porta da frente da casa era deixada aberta para que as almas pudessem visitar sua antiga casa; isso era um sinal de hospitalidade, bondade e lembrança. Algumas famílias deixavam preparada uma mesa com um jarro d’água, sabonete e toalha, para que a alma pudesse se lavar. Nos dias 1 e 2 de novembro existiam muitas proibições: evitava-se sair de casa para visitar amigos, trabalhos com ferramentas que pudessem colocar a alma em perigo, como tecer, moer, cortar palha, talhar algo na madeira, entre outros. Muitas fogueiras eram acessas nas encruzilhadas para indicar o caminho para a alma e também para aquecê-la. Acreditava-se que o fogo também tinha o poder de proteger contra os poderes do mal.
Visitar cemitérios não era comum, na mente das pessoas este era um lugar cheio de medo, aonde só se iria caso fosse extremamente necessário. Quando uma pessoa morria, ela era mantida em casa por 3 dias e todos os rituais eram feitos ali. O cemitério era só um complemento para certos rituais. A forma como conhecemos hoje começou na virada do século XIX para o século XX, quando a igreja adotou regulamentos legais e considerações de higiene. Foi só após a Segunda Guerra Mundial que proibiu-se manter pessoas mortas nas casas e, por esse motivo, as pessoas sentiram uma grande necessidade de visitar os túmulos de seus entes queridos.
Alguns dos rituais eram pagãos e foram sendo modificados e adotados pela Igreja Católica, já outros, foram eliminados. As tradições eram muitas, mas com o tempo e a correria do dia a dia, algumas coisas acabam se perdendo, principalmente nas grandes cidades, por isso, muitas vezes, pra presenciar algumas tradições remanescentes, precisamos viajar para aldeias ou conversar com pessoas mais idosas, que contam o que aprenderam com seus antepassados.
Na época do comunismo, a República Popular da Polônia (PRL), as autoridades comunistas perceberam que não conseguiriam lutar contra uma tradição ligada ao cristianismo tão antiga e forte. Então, mudaram o nome para Dia dos Mortos, com o intuito de tirar um pouco a religiosidade da data. Esse nome é usado muitas vezes até hoje.
Atualmente, na semana que antecede o feriado, notamos que muitas pessoas se dirigem aos cemitérios para limpar o túmulo da família. Geralmente essa tradição é mantida pelos mais idosos, pois têm mais tempo livre para fazer isso. No entanto, o que mais chama a atenção é a grande quantidade de pessoas no dia 1°; uma multidão que caminha para os cemitérios, o que faz com que algumas ruas ao redor sejam fechadas, com que outras tenham a direção do trânsito mudadas e que linhas especiais de ônibus e bonde sejam disponibilizadas. Todos os cemitérios têm os horários de abertura ao público estendidos e alguns ainda contam com celebração de missas.
Barracas de velas e flores são montadas do lado de fora. Os escoteiros também vendem velas e flores para, com o dinheiro arrecadado, pagarem pelos acampamentos de férias dos escoteiros que não tenham condições.
Famílias inteiras visitam os túmulos de seus familiares, muitas vezes em mais de um cemitério. Pessoas viajam para suas cidades-natal também para visitarem os túmulos de entes queridos. Quem não conseguiu limpar o túmulo durante a semana, muitas vezes vai bem cedinho, arruma tudo e depois volta no final da tarde com a família reunida para rezar, acender velas e deixar flores. Isso mostra que se lembram daqueles que já partiram. Também é comum visitar túmulos de pessoas importantes para o país como escritores, poetas, políticos e jovens que morreram lutando pela liberdade da Polônia. Escoteiros, freiras e pessoas em geral se reúnem para limpar túmulos abandonados, rezar e também cantar.
Com o cair da noite o que se vê é um mar de velas acessas. Todo o cemitério fica iluminado, nos deixando hipnotizados e impressionados com tamanha quantidade de luzes. Além dos cemitérios, há velas também em pontos importantes da cidade, principalmente lugares relacionados à Segunda Guerra Mundial e ao Levante de Varsóvia.
Caso tenha a oportunidade de estar na Polônia nesse dia, não deixe de passar por algum cemitério.
2 Comments
Olá, Gizelli! Parabéns pelo blog, encontrei informações interessantes nele. A propósito desse feriado, vi que museus, comércio e repartição pública fecham no feriado de Todos os Santos em Varsóvia, mas é possível visitar algo além de cemitérios e parques? A parte de alimentação funciona nesse dia?
Abs.
Oi, Cristina!
Fico feliz que você acompanha e gosta do blogue!
Dia 01/11 é difícil encontrar alguma coisa aberta mesmo. Você consegue encontrar restaurantes abertos, principalmente nas partes mais turísticas da cidade, mas muitas vezes em horário reduzido.
Boa sorte e bom passeio!
Gizelli