Na Dinamarca o mês de dezembro é completamente dominado pelo Natal. Ano passado eu dei uma geral de como é a festa por aqui. Esse ano vou me aprofundar mais em algumas das tradições de Natal na Dinamarca
Querem conhecer algumas das tradições importantes daqui? Eu selecionei 10 tradições mais marcantes para um natal tipicamente dinamarquês.
1. Julebryg
A cerveja de Natal, ou julebryg, marca o início das festividades de Natal. Todos os anos, na primeira sexta-feira de novembro às 20:59 é feito o lançamento da cerveja de Natal em todo país com celebrações super animadas, e esse dia é chamado de J-dag ou dia da cerveja de Natal. O nome faz alusão ao Dia D e foi chamado assim para denotar sua importância no calendário dinamarquês. Além da distribuição gratuita da cerveja, usa-se neve artificial na entrada de bares como parte da decoração e o slogan da festa é ‘snestorm’ ou “tempestade de neve” porque anuncia, junto com o Natal, a chegada do inverno e da neve . É tradição beber julebryg durante todo o mês de dezembro. Além da cerveja de Natal normal, com 4,6% de álcool, existe também uma cerveja de natal mais fraquinha, com teor alcoólico entre 1,6% a no máximo 2, 25%, a hvidtøl, que apesar de seu nome (significa cerveja branca, por causa do tipo de malte que se usa em sua fabricação) pode ser clara ou escura, e que por seu teor alcoólico baixo também pode ser usada na preparação de comida natalina. Há uma versão levemente doce, chamada Nisseøl (cerveja do nisse), que parece a Malzbier do Brasil e é servida aquecida e adoçada, como acompanhamento para o risengrød, no início do jantar da véspera de Natal. A receita da hvidtøl é a mesma que se usava para fabricar cervejas na Dinamarca até meados do século 15, quando se iniciou a fabricação de acordo com o método alemão, portanto, pode-se dizer que esta é a verdadeira tradicional cerveja dinamarquesa.
2. Nisser
Os nisser são criaturas mitológicas muito presentes nas decorações tradicionais do Natal dinamarquês. A figura do nisse remete aos lares da mitologia romana e sua origem remonta as cerimônias de solstício de inverno que, com o advento do cristianismo, foram associadas ao Natal cristão. Essas pequenas criaturas, que medem não mais que alguns centímetros e são conhecidas por viverem secretamente nas casas, fazendas e propriedades, agindo como guardiões e protegendo do mal, possuem um temperamento bastante forte: se bem tratados e agraciados com presentes como mingau de arroz – o famoso risengrød – e outros mimos, irão proteger a casa e as crianças; caso sejam maltratados ou insultados, pregam peças nos humanos e podem matar o gado ou outros animais de criação. No dia 12 de dezembro os nisser pregam peças nos humanos e esse dia é conhecido como drillenissen – pais de crianças pequenas preparam as ‘brincadeiras’ dos nisser, que podem ser aranhas de plástico nas lancheiras, pedras nas meias, entre outras; os pequenos adoram! Há também as brincadeiras entre os adultos. Nesse dia, para acalmar os nisser é preciso servir a eles uma porção de risengrød acompanhada de nisseøl. Na tradição antiga escandinava eram os nisser que entregavam os presentes de Natal e não o Papai Noel. Dentre as fábricas dinamarquesas que produzem os nisser as mais famosas são Anne Beate Design, Pixy Co/Caja Company e Trip Trap.
3. Risengrød
Uma tradição ligada ao culto aos nisser, o risengrød nada mais é que o nosso conhecido arroz doce, aqui servido antes da refeição da noite do dia 24 de dezembro e acrescido de manteiga por cima. Acredita-se que o risengrød era o pagamento dos nisser por sua proteção às casas: na noite de Natal as crianças costumavam colocar um tacho com o mingau para o deleite dessas criaturinhas que, sentindo-se apreciados pelo dono da casa, seguiriam protegendo a família por mais um ano. Hoje em dia há dois tipos de arroz doce servidos no Natal dinamarquês: as famílias mais tradicionais optam pelo risengrød, enquanto que os jovens e famílias mais modernas geralmente servem o que se conhece como risalamande, um arroz doce sem canela, servido com uma calda de cerejas por cima. A tradição de servir risalamande surgiu na Dinamarca por volta de 1900, quando as famílias ricas resolveram inovar o tradicional risengrød, dando-lhe um ar mais sofisticado: com um nome afrancesado, já que era elegante falar francês na época, incluíram chantilly no preparo do mingau, tiraram a canela com açúcar e a manteiga da cobertura e no lugar entrou uma calda de cerejas, sendo servido agora frio e como sobremesa, após o jantar, ao contrário do risengrød. Mas a tradição não para por aí. Nesse prato – seja risengrød, seja risalamande – é colocada uma amêndoa inteira, e a pessoa que a encontrar ganha o que se chama de mandelgave ou presente da amêndoa. No passado esse presente era um porquinho feito de marzipã; hoje são caixas de bombons e chocolates. Quem encontrar a amêndoa deve esperar que todos se sirvam, e é tradição servir pelo menos duas porções, ou até que o tacho esteja vazio, aí sim se revela quem encontrou a amêndoa e tem direito ao presente.
4. Vela do Advento ou calendário da vela
Uma tradição tipicamente dinamarquesa, a vela do advento é um tipo de calendário para os dias que antecedem o Natal, e surgiu em 1935 como uma atividade artesanal para se fazer em casa com as crianças, sendo atualmente produzida em escala industrial. Consiste basicamente de uma vela comprida onde estão marcados os dias de 1 a 24 de dezembro. Essa vela faz parte da decoração natalina dinamarquesa e deve ser acesa em todos os dias do advento.
5. Julefrokost
O almoço de Natal é uma tradição das mais difundidas na Dinamarca e apesar de se chamar almoço (frokost, em dinamarquês), é muito frequentemente um jantar. É um momento de confraternizar com amigos, colegas de trabalho e família (em eventos separados) e uma boa oportunidade de conhecer melhor as pessoas, sobretudo colegas de trabalho, já que a tradição é beber muito e quando as pessoas bebem elas ficam desinibidas. Mas lembre-se de que o que acontece no julefrokost da empresa, lá deve ficar, e no dia seguinte à festa a discrição é recomendada!
6. Guloseimas tradicionais
Além do risengrød ou risalamande há outras guloseimas importantes no Natal dinamarquês. Konfekt, pebernødder, brunkager, vaniljekranser, brunede kartofler e flæskesteg são comidas tipicamente natalinas, e são feitas praticamente apenas nessa época do ano. As comidas do jantar são ricas e pesadas, e em vez de pavês e pudins, a mesa de doces para acompanhar o café vem com frutas, biscoitos natalinos e os bombons tradicionais (konfekt). Os biscoitos também podem estar à mesa para um café da tarde com amigos, por exemplo. A tradição é fazer esses biscoitos e bombons para presentear amigos, colegas de trabalho e familiares.
7. A árvore de Natal
A árvore de Natal é uma tradição alemã que veio para a Dinamarca no início do século 19. Existe todo um ritual para a escolha da árvore, sua decoração e o grande dia quando ela é acesa e as pessoas dão voltas em torno dela, na noite de Natal. O costume é ir buscar a árvore nas florestas de plantação dessas árvores com uma ou duas semanas de antecedência ao dia 24 de dezembro, e a decoração é feita pela família. Além das tradicionais bolas de vidro também se usa fazer cones de papel (kræmmerhus) decorados e corações de papel recortado e dobrado, formando um cesto. A decoração com corações de papel, muito popular e exclusiva da Dinamarca, é atribuída ao autor Hans Christian Andersen (1805-1875), que além de ser poeta e escrever os famosos contos de fadas era também muito talentoso na arte de recortar figuras em papel. As árvores de Natal são preferencialmente naturais e se recomenda ‘montá-las’ no dia 23, para preservar o frescor da planta até o dia 6 de janeiro, quando ela é desmontada. O ponto alto da noite do dia 24 é quando as luzes da árvore se acendem e as pessoas, de mãos dadas, dão voltas em torno da árvore cantando hinos cristãos e músicas de Natal. A tradição é de se usar velas de cera para iluminar a árvore, mas hoje em dia mais e mais pessoas utilizam iluminação por meio de leds, para evitar desastres como incêndios caso uma vela caia, por exemplo.
8. Snaps
Snaps é um destilado ou eau-de-vie, por aqui chamado de akvavit, que tem o mesmo significado da palavra em francês: água da vida. É uma bebida feita a partir de batata ou de cereais, com teor alcoólico variando entre 38% a 40%, e o maior produtor fica na cidade de Aalborg. Serve-se snaps durante os julefrokosts de dezembro e também no jantar da noite de Natal. Há uma variedade grande de snaps no mercado, algumas aromatizadas com dill ou limão, por exemplo (para combinar com o arenque em conserva normalmente servido como entrada nos jantares) ou envelhecida. Apesar de seu consumo ser mais popular no mês de dezembro, um barman em Copenhague tem empregado a bebida para fazer coquetéis. Na tradição natalina à mesa cada vez que alguém levanta o copo e grita ‘skål’ todos devem esvaziar o copo de snaps. Existem, inclusive, copos sem ‘pé’ para que a pessoa, não podendo repousar o copo, seja obrigada a beber todo o seu conteúdo.
9. Dançar em volta da árvore
Calma, não se assuste. Ninguém vai ‘dançar’ de verdade! O costume é que todos os convidados para a festa de Natal deem as mãos e façam um círculo em volta da árvore de Natal. As luzes/velas da árvore são acesas e então começa-se a cantar hinos natalinos dando voltas de mãos dadas em torno da árvore. A tradição teve início alguns anos após a primeira árvore de Natal ter sido montada na Dinamarca, entre 1808 e 1811, e consta que começou por causa de um conto do autor Johan Ludvig Heiberg escrito em 1817, onde uma menina de Copenhague ‘dançava com os anjos’ em volta da árvore de Natal. O costume acabou sendo incorporado pelas famílias e hoje passou a ser um item indispensável nas tradições natalinas locais.
10. Presentes: a lista do que você quer e as trocas sem culpa
Essa é uma tradição muito prática, principalmente para presentear pessoas com quem não temos muita intimidade, e tanto amigos quanto família mandam suas listas com ‘desejos para o Natal’ (ønskeseddel). Nas lojas, basta dizer que é para presente que o item recebe uma etiqueta, byttemærke, que garante a troca do produto. As trocas normalmente acontecem na semana seguinte ao Natal mas há lojas esse ano oferecendo a possibilidade de troca até a páscoa! E diferentemente do que estamos acostumados no Brasil, não é considerado ofensivo trocar um presente do qual não gostamos ou trocar presentes repetidos. Quem dá o presente não se ofende com a troca. Outra coisa bem bacana é que todos os presentes vêm com cartõezinhos “de-para”, e em algumas famílias é tradição escrever nos cartões o que ganhou daquela pessoa e guardá-los num livro de recortes de Natal, o Julebog, junto com fotos, receitas e ideias para o Natal e que servirão de inspiração para natais futuros.
Há muitas outras tradições do Natal dinamarquês – eu tenho um ‘Julelexicon‘ que é um dicionário com mais de 40 verbetes sobre as tradições – e espero que vocês tenham gostado de conhecer um pouco mais a fundo sobre o Natal dinamarquês.
Glædelig Jul!
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7 Comments
Cris , adorei os nisser !!!
Hola.
Primeiramente quero dizer-la que adoro seu blog, tem sido muito útil para mim, uma vez que tenho um namorado Dinamarquês.
Agora neste natal (será meu primeiro) vou a Dinamarca celebrar a data com ele e sua família, e realmente não faço idéia de quais presentes poderia dar que estivessem do agrado de todos. Se tu pudesse me dar uma sugestão, ficaria muito agradecida hehehe.
Grande abraço.
Oi Bárbara e muito obrigada por ler o BPM e a minha coluna 🙂
O que posso lhe dizer é que o normal aqui é que as pessoas façam listas de desejos para o Natal e lá nessa lista indiquem o que gostariam de ganhar. Não sei se você já conhece a família do seu namorado ou se será a sua primeira vez na Dinamarca; é realmente difícil dar sugestões sem conhecê-los. Eu quando vim pela primeira vez visitar meus sogros trouxe chocolates do Brasil e cosméticos da Natura pra minha sogra, mas até hoje, depois de quase 4 anos ela nunca usou um dos cosméticos e ele vai acabar indo pro lixo, rs… Sugiro dar uma perguntada pro seu namorado, já que ele conhece bem a família que tem, ou então deixe pra comprar algo aqui, mesmo. Os dinamarqueses são bem homogêneos no tocante a decoração da casa, por exemplo, e comprar algo conhecido deles é certeza de sucesso.
Aproveite e veja o meu outro texto sobre o Natal, aqui mesmo no blog.
Abraços e aproveite bem o Natal daqui – esse ano já tivemos a primeira neve e provavelmente vamos ter um Natal branco! 🙂
Tô querendo ser um nisser pra comer esse arroz doce! Tô achando que vou fugir pra Dinamarca no Natal, amei a ideia de dançar ao redor da árvore! Muito legal esse texto!!
Muito bacana mesmo! Adoro seu blog! Parabéns!
Obrigada por ler, comentar e compartilhar as matérias 🙂
Abraços
Obrigado , o seu blog esta bem escrito/elaborado eu estou fazendo um trabalho de portugues sobre as tradiçoes de natal sobre a Dinamarca então voce me ajudou bastante , obrigado