Transplante capilar na Turquia.
Mês passado, publiquei um texto sobre turismo de saúde e prometi explanar mais sobre cada procedimento realizado por aqui e muito procurado por estrangeiros, um deles é o transplante capilar na Turquia.
Vamos começar pelo transplante capilar, líder no ranking. Os países que lideram a procura por esse procedimento, segundo as clínicas que visitei, (e foram muitas!) são, em primeiro lugar, os árabes; e em segundo, o Brasil. Nesse caso, é um assunto bem interessante para nós, brasileiros, já que ocupamos essa segunda posição no ranking.
Eu costumo conviver com muitos turistas desde que me mudei para Istambul. Muitos deles vêm para fazer o transplante capilar. Ouço suas histórias, seus desejos e como esse procedimento se tornou o sonho de consumo em suas vidas. Vou enriquecendo com essas experiências e tornando minha vida com mais sentido. Para essas pessoas, o transplante capilar se torna o objeto de desejo, fazendo com que a autoestima cresça e transforme a vida em momentos de mais prazer.
Escutei a história de um deles que, de alguma forma, me tocou profundamente e me tornou mais curiosa em relação ao assunto. Isso me incentivou a percorrer ainda mais as clínicas e conhecer, de perto, cada etapa do procedimento, cada momento de encontro entre as partes e avaliar essas relações de uma forma mais analítica. Compreendi que se trata de vidas, sonhos, expectativas, saúde… Com isso não se brinca.
A história desse rapaz é que era calvo há mais de 11 anos. Sempre morou com a mãe e ela nunca percebeu por que ele usava uma prótese. Nunca apareceu sem a prótese, nesses 11 anos. Ninguém nunca soube da calvície. Um dia, tomou a decisão de fazer o transplante e precisou contar à sua mãe.
Fez um acordo no emprego, pegou toda a rescisão trabalhista e veio para a Turquia, mesmo com a mãe e toda a família achando-o louco. Era um sonho. Fez o transplante capilar e o resultado não ficou bom. Fez em uma clínica em que os técnicos realizam o procedimento do início ao fim. Não há presença do médico responsável nem para supervisão. A área doadora dele (parte de trás da cabeça) era muito boa, o que permitiu uma segunda seção para tentar corrigir a primeira. Como isso aconteceu há cerca de dois meses (estamos em outubro), ainda não conseguimos saber se a correção aconteceu ou não. Mas isso acabou com a autoestima dele. Não saiu mais de casa, não procurou mais um emprego fixo e resumiu sua vida a juntar dinheiro fazendo bicos para realizar um segundo transplante.
Desde então, isso tem me dado um olhar diferenciado para essas questões, por aqui. Procurei ler sobre o assunto com determinação. Assisti a procedimentos em várias clínicas para compreender a diferença nos valores e principalmente em como o paciente é visto e tratado.
Descobri um mundo em que “o tratamento dos sonhos de cada um” não é visto como algo a se valorizar sempre. Vi clínicas sem higiene, sem médicos e para minha felicidade encontrei clínicas de referência. Em uma delas eu até conheci um modelo de robô, a única que possui esse equipamento na Turquia, que faz o transplante capilar. O robô atua sob a supervisão constante do médico responsável.
Quando uma pessoa decide fazer o transplante, começa a pesquisa mais profunda sobre onde fazer, com quem fazer e as diferenças de valores. Como a oferta é grande e a procura também, os valores são sempre uma forma de atrair clientes, principalmente para aqueles que olham para esse quesito em primeiro lugar, primeiro ponto errado.
O custo é algo a ser pensado, sim, mas levando-se em consideração os valores no Brasil, mesmo em uma clínica com um valor um pouco mais alto, ainda fica mais barato. Lembrando que ao optar por fazer na Turquia, estará fazendo em um local de referência nesse assunto, com um custo realmente mais baixo.
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Vou citar aqui alguns pontos que devem ser avaliados criteriosamente no momento de decidir por uma clínica.
Prédio próprio ou aluga andar em hospital? Caso seja a segunda opção, há quanto tempo atua nesse hospital? Costuma mudar muito de endereço? Porque há muitas clínicas que utilizam andares de hospitais para a realização do transplante, e isso não quer dizer que todos os serviços do hospital estejam à sua disposição. Caso necessite de alguma emergência, a responsabilidade é da clínica contratada e não do hospital, pois ali a clínica é apenas um inquilino.
Os médicos estão presentes em todos os procedimentos? Seja para a realização ou para supervisão. É muito difícil um médico realizar um procedimento completamente, pelo tempo e pelo movimento repetitivo exigido. A equipe é composta por pelo menos três pessoas. Mas em uma boa clínica o médico realiza a abertura de todos os canais (um ponto extremamente importante, isso determina o ângulo do fio implantado). Em muitas clínicas isso é feito por técnicos, o que não exime o médico da responsabilidade, mas independente disso, um ângulo mal feito não terá conserto.
Quantos pacientes atendem por dia? Isso deve ser bem considerado. Observei que as clínicas que atendem muitos pacientes diariamente não possuem nem de perto a qualidade e compromisso que outras clínicas que atendem uma quantidade menor de pacientes. É claro que há exceções, por exemplo, nessa clínica que possui o robô. A quantidade de médicos e a estrutura de um centro cirúrgico permitem que atendam até 15 pessoas por dia sob a supervisão direta de um médico.
Tempo de garantia do procedimento. Pergunte muito sobre isso. Muitas clínicas dão entre 5 e 10 anos, mas excelentes clínicas dão garantia vitalícia. Por que a diferença? Aprendi observando os procedimentos e conversando com diferentes médicos que quando se usa pelos da barba ou do peito (muitas clínicas usam) ou de qualquer outra parte do corpo que não seja a cabeça, jamais podem dar garantia vitalícia. Pêlos da barba tem 50 a 70% de chance de permanecerem e do peito apenas 20%. O que observei é que muitas pessoas vêm para o transplante sem saber que serão usados pelos dessa parte do corpo. Isso acontece porque a área doadora não é boa, não sendo possível preencher toda a área calva com cabelos da parte de trás e laterais da cabeça.
Certificados dos médicos. Todos os médicos que realizam esse procedimento devem possuir certificado, um dos mais importantes é o do ISHRS – INTERNATIONAL SOCIETY OF HAIR RESTORATION SURGERY. Um técnico jamais possui esse certificado ou qualquer outro para a realização do transplante. Essa é uma importante certificação, mas não é determinante para o sucesso do procedimento, já que um em cada dez médicos realizam todo o procedimento. Porém, deve ser considerado e exigido pelo menos o diploma de formação em medicina com especialização em procedimentos estéticos cirúrgicos.
Há alguém que fale português para atender diretamente ao paciente durante todo o tempo em que estiver na Turquia? Oito entre dez clínicas apenas contratam tradutores para o tempo em que o paciente estiver na clínica. Isso é um fator que deve ser muito bem analisado. Eu ajudo muitos brasileiros que vêm fazer o procedimento em clínicas que não contam com brasileiros ou um turco que fale português para ajudá-los a se locomover, caso queiram passear um pouco.
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Mas, mais do que isso, no caso de extravio de bagagem, o que ocorre com frequência, não há quem os auxilie. Como participo de vários grupos de viagem e transplante capilar, sempre me pedem auxílio, nesses casos. Isso me faz pensar o quão importante é isso. Se o paciente chegar aqui em um horário que no Brasil será madrugada, por exemplo, e o contato com a clínica está apenas no Brasil, caso haja algum problema, a comunicação será muito difícil. A internet do aeroporto funciona por 15 minutos, mas o formulário a ser preenchido para uso está todo em outro idioma.
Após essas observações, compare os valores, porque encontrará procedimentos a custos baixíssimos e aí poderá entender o motivo. Tome cuidado com esses valores baixos demais. Desconfie. Como em todo lugar, qualidade, higiene, quantidade de profissionais envolvidos e controle de qualidade exigem um custo maior. Cuide se a clínica pela qual optou lhe dará assistência pós-cirúrgica. Isso faz muita diferença.
2 Comments
Muito boa a materia, essas dicas são fundamentais para um procedimento bem sucedido.
Eu fiz um implante desatroso a 1 ano e meio mais ou menos, logo que sai da clinica minha cabeça sangrava muito, ele disse que era normal, voltei para casa e criou uma crosta de sangue grossa, quando caiu minha cabeça nao tinha cabelo e pior, ela estava cheia de cicatries e uma parte da lateral da cabeça estava funda, o medico disse para eu voltar e aplicou minha gordura e melhorou porem as cicatrizes continuam, agora ele tem me enrolado para eu voltar e fazer outro implante nas areas onde não tem cabelo e onde ficou as cicatrizes mas não tenho muita area doadora e tenho medo de voltar e fazer outro implante, gostaria de saber se voce tem contato de algum advogado para entrar com processo contra o medico, se vale a pena fazer isso ou tenho que aceitar do jeito que ficou e tentar seguir a vida? Estou realmente perdido, obrigado!
Olá Marcio,
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