Um ano de França e férias no Brasil.
Tinha ido ao Brasil em março de 2017 para resolver algumas pendências e finalizar esse capítulo da minha vida que estava em aberto. Para minha alegria, no mês de dezembro, aproveitei as férias de uma semana no novo emprego para voltar ao Brasil sem pendências para resolver. Segui apenas com um coração livre de pesos desnecessários e cheio de novas visões e aprendizados.
Não poderia ter voltado em uma época melhor, no Natal – justamente a data que escolhi para deixar o meu lar, meu companheiro e anjinho de patas Doug (meu Golden Retriever) e meu porto seguro – minha família amada.
Cheguei à França no dia 24 de dezembro de 2016 com duas malas que onde estavam todas as minhas roupas de frio. Além das malas, estava com meu coração apertado, uma mente cheia de angústias e o medo de imaginar o que poderia acontecer. Apesar disso, tinha apenas uma certeza: não queria planejar nada. Minha meta era viver um dia de cada vez. Só tinha um plano pré-determinado e que iniciaria depois do Réveillon: fazer intercâmbio de um mês para estudar inglês na Inglaterra.
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O Réveillon
Na semana que cheguei em Toulouse, comecei um trabalho que a princípio, pensei que fosse durar apenas uma semana. Semana finalizada, viajamos com destino a Foix, próximo a Andorra para o Réveillon. Confesso que me senti uma estranha no ninho, pois nunca tinha passado a virada do ano com pessoas que não conhecia, mas foi uma boa oportunidade de testar o que chamo de viajar como um “copo vazio”- sem expectativas, crenças ou opiniões formadas.
E lá estava eu, quieta, rindo de uma piada lá e outra acolá. Preparamos as comilanças, comemos, conversamos sobre trabalho no geral e eis que deu meia noite e… e nada, só teve o som da noite sendo quebrado por um simples Happy New Year / Bonne Année / Feliz Ano Novo. Nada de fogos de artifício e da alegria que estamos acostumados. Achei aquilo tão vazio, senti falta dos fogos e, principalmente, de toda a felicidade que é só nossa, dos sorrisos das pessoas nas ruas cumprimentando desconhecidos sem se importar com crença ou raça, dos abraços calorosos e carinhosos dos amigos e família. Talvez seja o calor que deixe a gente mais feliz, não sei. E olha que sempre achei que seria maravilhoso passar o Réveillon em um lugar frio, com neve e tudo mais!
Depois dos cumprimentos e desejos de um feliz ano novo, terminamos de jantar. Teve um pouco de música e na sequência fomos dormir por volta das 2h da manhã, acho eu, o que normalmente não acontece tão cedo no Brasil já que ou estamos voltando da praia nesse horário ou estamos curtindo a ceia. No outro dia, acordamos, tomamos café, arrumamos nossas coisas e voltamos para Toulouse. Valeu pela experiência de ter dirigido pela primeira vez na França, foi bem divertido, até porque, encontrei ovelhas fofas e felpudas no meu caminho que ficaram rodeando o carro e nos olhando.
2017 foi um ano de muitas descobertas
Mais uma semana de trabalho e logo fiz a primeira viagem para outro país, o Líbano. Destino maravilhoso e surpreendente em vários sentidos. Enfim, troquei as libras (dos planos do intercâmbio, lembram?) Resolvi aproveitar a oportunidade e ver o que aconteceria. Posterguei o intercâmbio de inglês e me joguei de vez no processo “um dia de cada vez”, viver o agora sem planejamento a longo prazo.
A primeira quinzena de janeiro foi em Toulouse; depois 30 dias em Beirute, etapas quebradas por Helsinki; depois Kiev, Bergen Op Zoom (Holanda), Montpellier e por último, Istambul. Dei uma parada no trabalho no final de julho para buscar meu apartamento, resolver algumas pendências financeiras e fazer um curso de francês. Fiz amizades maravilhosas nesse período por aqui e também mudei de trabalho. Gratidão total.
Às vezes, escuto pessoas dizerem: “Nossa que maravilha morar fora, quanta sorte”, mas o que ninguém sabe é sobre tudo que você precisou abdicar para buscar realização pessoal, trilhar um novo caminho, das difíceis escolhas que precisou fazer para deixar as pessoas que você mais ama e que mais te amam, sair da sua zona de conforto e, principalmente se autodescobrir em meio a tudo isso. Não é fácil e estar só, muito menos. E não, não foi e não é sorte. Tenho várias definições: esforço, perseverança, determinação, mas sorte, com certeza não é. Sorte seria brotar dinheiro dentro de casa.
Bom, fiz a minha retrospectiva 2016/2017, e agora vou contar como foi voltar para as festas de fim de ano no Brasil. Posso dizer que cheguei diferente: menos crítica comigo, com os outros e com um olhar renovado sobre meu país. Rever a bagunça dos primos, a família com alma portuguesa falando alto e ao mesmo tempo e no fim todos se entendendo. As comidas, ahhhh as comidas, afinal, algumas lembram a infância, lembram nossa origem. Além dos abraços quentinhos (ao estilo Olaf), não tem nada melhor que a comilança em época de festas. Você come sem culpa, sem se importar com o dia de amanhã.
No Natal, como de costume em toda grande família, nos reunimos, mas a diferença é que minha família e eu curtimos a véspera do Natal em alto mar. Já em terra firme, terminamos a preparação das comidas, doces e arrumações em geral, incluindo as nossas “novas” roupas, amigo secreto (normal), risadas, bobeiras, mais risadas e hora do ataque: comilança total.
Entre o Natal e Ano Novo reencontrei amigos de mais de 20 anos, pessoas que fizeram e ainda fazem parte da minha história e com certeza contribuíram para que eu seja a pessoa que sou hoje. Pessoas que por mais que eu esteja longe, sempre estarão em meu coração. São amizades que não esperam por recompensa e nos aceitam como somos e é justamente nesses momentos, que percebemos o quanto a vida é mágica.
Acredito que seja assim para todos. No Réveillon, fomos para praia já que fazia algum tempo que não passava a virada de ano na praia e matei completamente a saudade do que não participei no ano passado, apesar de ter vivenciado um novo jeito de “curtir” o Réveillon. Foi realmente mágico, encantador e gratificante estar no Brasil novamente.
Viver uma semana de férias no Brasil foi engraçado também, pois eu nunca havia tirado férias no meu país, foi maravilhoso! Por mais que seja meu lar, sei que estou diferente, isso porque quando vivemos em outro país, seja ele qual for, nos muda completamente. Meu olhar sobre o Brasil e nosso povo mudou muito e para melhor. Passei a perceber como o brasileiro realmente é forte e, posso dizer, sem desmerecer nenhum outro país, que sim, somos incríveis e podemos muito mais se realmente tivermos um objetivo em comum. Somos únicos e apesar de todas as crises e problemas econômicos, conseguimos transformar o nosso olhar sobre as coisas. Claro que temos muito para caminhar ainda, mas acho que tudo isso só nos fortalece e nos torna melhores.
Começando 2018
Voltei para Toulouse renovada e com o coração leve, tudo está bem e em paz. Acho que é esse o sentimento que devemos ter – de que estamos fazendo o bem e que estamos no caminho certo, esse é o sentido da vida.
Acredite em seu coração, se ele estiver inquieto, mude o rumo, pois algo está errado. Ele sempre sabe o caminho. Às vezes, pode parecer doloroso ou estranho no início, mas depois você perceberá que vale a pena sair da zona de conforto e arriscar, afinal, o amor e a vida são para os fortes e corajosos!
Feliz 2018!!! Bonne Année!!!
6 Comments
Lindo texto! Parabéns por ser tão verdadeira e seguir seu coração!
Oi Luciana. Obrigada, me redescobrir e redescobrir minhas origens foi realmente mágico. Muito feliz por conseguir passar isso pra ti (meu lema é esse: seguir o coração e ser verdadeira), não é fácil e nem tão bem aceito, mas é compensador. Bj gde
Rafaela, mas vamos combinar que voce tem sorte em poder passar ferias no Brasil, ainda mais Revellion e Natal! Morando em Londres ha 5 anos confesso: esse e meu sonho de consumo. Amei o texto!!! Sucesso.
Oi Mônica… imagino o quanto deva ser difícil pra ti. O bom é que a empresa “trabalha em plantão” nesse período, a ajuda do universo colaborou para as férias ?. Gratidão por suas palavras. Logo logo seu sonho de consumo se realiza! Muito sucesso pra ti Tb. Bj
Oi Rafaela, parabéns pela coragem! Vc foi pra França sem falar muito bem o idioma? Conseguiu o emprego por lá ou já havia alguma coisa prevista desde o Brasil? Para essa viagem, com qual visto vc foi? Estou pensando em me aventurar, por isso tantas perguntas né?! rs
Oie…sim cheguei aqui sem falar (e nem falo ainda). A principio era apenas de passagem, mas surgiu um trabalho logo na primeira semana aqui e em julho mudei para o q estou hoje. Sobre o visto, tenho dupla vidas (portuguesa) então nao preciso de visto, nessa parte nao posso te ajudar muito. Mas se aventure sim, a vida é muito curta e o não todos nos ja temos, vale a pena garantir os sins da vida. Muita sorte. Bj gde e obrigada.