Você fala francês fluentemente?
Eita perguntinha complicada! Meu processo seletivo para vir estudar na França requeria no mínimo, o nível B2 em francês e em inglês. Para quem não conhece, B2 é um dos níveis do QECR, o Quadro Europeu Comum de Referência para as línguas. Esse quadro foi desenvolvido pelo Conselho da Europa para designar as habilidades linguísticas de uma pessoa em qualquer idioma europeu. Não leva em consideração horas de estudo ou diplomas, mas sim o que a pessoa consegue fazer em determinado idioma.
O tal do QECR
São seis os níveis do QECR: A1, A2, B1, B2, C1 e C2. Os dois primeiros se referem ao usuário elementar, ou iniciante. Os níveis B1 e B2 são aplicados ao usuário independente, também conhecido como intermediário/intermediário avançado. Já os últimos dois níveis representam os usuários proficientes, sendo o C1 um falante autônomo e o C2, um falante fluente. O Conselho da Europa disponibiliza uma tabela para que os estudantes possam se autoavaliar.
Então, se você pretende fazer uma graduação ou uma pós na França, você precisa ter no mínimo o nível B2 de francês – algumas poucas universidades aceitam nível B1 pois oferecem cursos de FLE (Français Langue Etrangère – francês como língua estrangeira). Mesmo que você possa vir com o B1, tente melhorar seu francês antes de chegar. Eu vim com B2 para uma graduação sanduíche em engenharia urbana, mas passei os dois primeiros meses tendo que adquirir vocabulário técnico suficiente para poder acompanhar as aulas.
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Se o curso que você pretende fazer é em inglês, também vai precisar de B2, dessa vez no inglês. Por outro lado, cursos curtos ministrados em francês, como de cultura francesa ou culinária, normalmente só requerem o nível A2. A saber: a Universidade de Cambridge estima a quantidade de horas estudadas para atingir cada nível. Para o nível A2: 180-200 horas; nível B1: 350-400 horas; nível B2: 500-600 horas; nível C1: 700-800 horas, e o nível C2: 1000-1200 horas. Ou seja, aproximadamente 200 horas a mais por nível.
E a fluência?
Talvez você esteja se perguntando: “Mas afinal, o que define uma pessoa fluente em francês?” Bom, a definição do QECR para falante fluente é:
“É capaz de compreender sem esforço praticamente tudo o que lê ou ouve. É capaz de reconstituir fatos e argumentos de fontes diversas, escritas e orais, resumindo-as de forma coerente. É capaz de se exprimir de forma espontânea, fluente e precisa e de distinguir pequenas diferenças de sentido, relacionadas com assuntos complexos.”
Como perceber isso e como chegar lá?
Na prática, isso quer dizer que a pessoa não precisa parar para pensar em suas interações com falantes nativos. Ao longo do meu tempo na França, eu fui notando pequenas mudanças em meus contatos com os francófonos. Logo que cheguei eu odiava falar ao telefone, pois não podia fazer mímica e ficar pedindo que as pessoas se repetissem era frustrante. Alguns meses depois, me vi preferindo ligar para reclamar de um problema com um pedido, em vez de mandar e-mail. Foi minha primeira esculhambação em francês. E gente, a primeira briga em outra língua você nunca esquece.
Dali em diante, foi só melhorando. Sonhos em francês, escrever cartas formais sem olhar o dicionário, ouvir conversas alheias e entender sem ter que prestar atenção, reparar nos diferentes sotaques dos franceses e saber reconhecê-los, usar gírias e “internetês” sem pensar, entender jogos de palavras, distinguir ironia (e franceses adoram uma ironia) e compreender piadas, participar de debates de igual para igual, conhecer palavrões, quando e como usá-los… Até que me vi falando em francês sem perceber. Enquanto conversava nem notava mais em que língua estava acontecendo o diálogo.
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Enfim, como se tornar fluente? A curva de aprendizado inicial é íngreme, mas quando se chega no intermediário (B1-B2), é quase como se o esforço não levasse a lugar algum. Portanto, é preciso sair dessa areia movediça. Forçar-se a estar em contato com o francês o tempo todo. Ouvir músicas do Stromae com seu verlan, assistir a talk shows, arrumar um pen pal para trocar mensagens, ver séries francesas, participar de encontros poliglotas e até mesmo brincar de dar nome a cada um dos seus objetos do cotidiano (você nunca sabe quando vai precisar explicar que a descarga quebrou e o vaso está entupido). Se quiser mais dicas, deixe um comentário ou leia o artigo da Sabrina.
E qual a resposta para a pergunta inicial? Sim, o francês está fluente e vai très bien, merci.
3 Comments
Muito bacana seu texto, obrigada!
Fico feliz que gostou, Stela!
Laura amei o artigo!!
Estou a duras penas aprendendo Francês para fazer trabalhos voltados para o autismo. Como conseguir um contato com alguém fluente para praticar ?