Asiático é tudo igual… Essa é uma frase que nós, ocidentais, temos o costume de usar e, outro dia, em uma brincadeira pelo messenger, decidimos fazer uma comparação entre os países que vivemos, China e Filipinas, e ver o quão real era essa afirmação.
Partimos do principio que vivemos na Ásia e muitos dos costumes são iguais ou bem parecidos. Mas ficou a questão: até onde?
Já sabemos que todos os asiáticos querem ser brancos como o papel, adoram uma soneca (onde quer que estejam), comem noodles e arroz. Têm os olhos puxados, cabelos escuros e adoram um produto de grife com o logo super (hiper, mega no caso da China) destacado, de preferência.
As estruturas familiares são muito parecidas e bem diferentes da ocidental na qual o núcleo familiar é composto pelos pais e pelos filhos; na Ásia, tanto nas Filipinas quanto na China, a “família próxima” é composta pelos pais, pelos avós (no caso da China, pelos avós paternos), pelos tios (no caso das Filipinas porque a China tem a controversa lei do filho único), pelos filhos e pelos esposos dos filhos. A família íntima, nos dois países, é muito maior que no ocidente.
O tamanho das famílias, no entanto, difere por causa das políticas de cada um dos países. Na China, a política do filho único adotada no final de 1970 encara o aborto como um procedimento bastante normal. Nas Filipinas, em contrapartida, devido a religião, o aborto é considerado um assassinato e a lei que regulamenta o acesso ao controle de natalidade pela população mais pobre (o RH Bill) passou pelo congresso e foi assinada pelo presidente somente em dezembro de 2012.
Em questões culinárias, ambos têm seus “ovos nojentos” como parte do cardápio. Na China, os ovos preservados são, basicamente, ovos podres que são enterrados por 100 dias antes de serem cozidos. Nas Filipinas, o balut é uma das iguarias locais. Embora não seja podre, é um ovo fecundado no qual o embrião do pato (mais comum) já está formado. Em ambos os casos, os ovos são cozidos. Esteticamente, os ovos preservados são mais bonitos (a gelatina marrom formada pela clara é linda) enquanto uma foto do balut consegue revirar o estômago das pessoas mais fortes.
O trânsito é caótico aos nossos olhos nos dois países. Colocamos ‘aos nossos olhos’ porque chegamos à conclusão que por mais caótico que seja o trafego, quase não há acidentes e de alguma forma eles se entendem, então deve ter alguma lógica que nos escapa o entendimento, certo?
Mas o que difere um Filipino de um Chinês?
Depois de muitos devaneios filosóficos chegamos à conclusão existem diferenças entre os dois povos e entre os países. Em termos de povo, a grande diferença é o patriotismo, o orgulho nacional. Ou seja, um chinês jamais nega suas origens, mesmo tendo nascido em outro país.
Geralmente quando nasce nos EUA, por exemplo, ele se define como um ‘chinês americano’.Já um filipino, mesmo quando tenha nascido em terras pinoys, se puder, não se definirá como filipino 100%. Respostas como “sou 50% filipino, mas sou 25% chinês e 25% espanhol” são muito comuns porque ele busca as raízes de seus antepassados. Isso parece absurdo, mas é uma realidade que se aplica à maior parte da população.
A violência social, ou seja, assaltos e roubos de carteiras são muito mais comuns nas Filipinas que na China. Em Manila, a presença de trombadinhas no centro histórico é muito comum e lojas de armas de fogo estão espalhadas pela cidade. Na China, as armas de fogo são proibidas e, sem levantar a polêmica sobre se isso é democrático ou não, se é justo ou não, o fato é que não há a violência nas ruas e ninguém irá te agredir para levar seu celular. O que se vê na China é o ‘pickpocket’, mas são tão ágeis que sempre a vítima fica na dúvida se foi furtado ou perdeu o objeto em questão.
A pobreza é algo muito mais perceptível nas grandes cidades filipinas que nas chinesas. Acreditamos que isso se deva ao fato de que a política chinesa, por partir do socialismo, trata os cidadãos de forma mais igualitária que a política filipina, baseada no capitalismo selvagem. Mas concordamos que a globalização está mudando o conceito de socialismo chinês. A infraestrutura da China atende melhor as necessidades da sua população, com transporte público, hospitais equipados (ao menos nas grandes cidades) e educação. Em contrapartida, o transporte coletivo nas Filipinas é um quebra-cabeça chinês (desculpem-nos o trocadilho), os hospitais bem equipados são privados e a educação pública deixa a desejar. Para se ter uma ideia, parece que o governo filipino simplesmente decide algo (por exemplo, ter o inglês como um dos idiomas oficiais) e deixa a população se virar para fazer isso acontecer.
Por ser um Estado socialista regido pela ‘ditadura democrática’ (esse termo é o máximo), segundo a constituição chinesa, existem restrições aos cidadãos, como acesso à mídia internacional (o Facebook é proibido, por exemplo), à migração entre províncias e às decisões governamentais (se o governo precisa construir um viaduto para melhorar o tráfego, quem mora no caminho será ‘remanejado’ para outro local mais conveniente). Nas Filipinas, essa restrição não existe, mas as necessidades da população tampouco são atendidas.
Citamos somente alguns pontos mais latentes, e de maneira superficial, pois não era nosso objetivo desenvolver uma tese! Mas, resumindo, a China e a Filipinas tem suas peculiaridades, suas semelhanças e diferenças. Por serem próximas, no mesmo continente, e as pessoas terem olho puxado, acaba virando essa confusão e a comparação é inevitável. Além de que ainda temos Japão, Coréia, Cingapura, Tailândia, Vietnã, Hong Kong… E cada um desses países asiáticos tem as suas peculiaridades.
Mas nós, brasileiros, passamos por isso dentro do próprio Brasil. Do Oiapoque ao Chuí são tantos Brasis, que no final fica meio complicado generalizar. Vemos isso também nos grupos de hispânicos (que falam a língua espanhola), mas são 24 nacionalidades diferentes e a generalização é um perigo para os desavisados.
Esse é o mundo, a humanidade e a delicia de se descobrir a peculiaridade de cada cultura, de cada país, de cada continente, como fazemos aqui no ‘Brasileiras pelo Mundo’. De que outra maneira iríamos gastar horas de chat discutindo quem estava vivendo melhor?
Cheers!!!
16 Comments
Desfazendo esteriótipos. Muito bem!
ADOREIIII … meninas super parabens pelo texto, assim até fica divertido entender os asiaticos hahahah… aqui em Cinga eu vejo tudo o que esta escrito no meu dia a dia também, esta comparação acontece a todo momento… incrivel nao e mesmo… amo esta diversidade cultural…
Muito legal o post! Mas eu acho a China e as Filipinas tão diferentes quanto elas e o Brasil! Por sinal, acho que as Filipinas são um capítulo à parte na Ásia, pq a gente nem sente que está na Ásia quando está em Manila, de tão ‘americanizada’ que é. E eles adoram isso…
Eu acho as diferenças físicas entre os asiáticos muito fortes… aliás, essa coisa de que oriental é tudo parecido só existe na nossa cabeça brazuca, porque recebemos praticamente só imigrantes japoneses. Não existe uma imigração chinesa, filipina, tailandesa, malaia, etc., forte no Brasil. Acho que por isso que a gente acha que eles todos têm os traços dos japoneses.
Eu moro em Copenhague e convivo com muitos asiáticos, pois sempre trabalhei com IT em empresas multinacionais… muito rápido a pessoa já começa a conseguir ver as diferenças físicas entre os orientais. Hoje em dia, eu sei identificar um indiano, japonês, tailandês e chinês tranquilamente… pra mim, particularmente, malaios e paquistaneses (diferenciar do indiano) são os mais difíceis de acertar.
Mas é claro que há pontos muitos comuns, como a comida… em geral, eu amo a Ásia toda! 🙂
Olá Leticia,
Obrigada pela visita e os comentários. Mas acho que não são só os brasileiros que confundem os asiáticos (rs), pelo que vejo aqui essa é uma dificuldade ocidental! E hoje também já sei exatamente quem é coreano, japonês ou chinês. Os Filipinos e tailandeses e outros asiáticos vc reconhece de longe pelo tom da pele, já que eles são mais expostos ao sol do que os outros (que simplesmente tem pavor do sol e da pele bronzeada – aqui na China os cremes de beleza são whittening, qto mais barnca melhor). Quem é de Cingapura e HK é fácil de reconhecer pelo estilo de vestir e a educação mais ocidentalizada. Resumindo, essa Asia é uma festa mesmo! =]
Abraço.
Oi Letícia! Obrigada por ler o texto e comentar! <3
Então, chamamos os filipinos de "latinos-asiáticos" porque eles são os latinos na Ásia! Concordo com você que parte de Manila é muito estados-unidense (me recuso a usar o termo "americanizado"! Hehe) e existe uma adoração pelos Estados Unidos que, acredito, seja resultado de lavagem cerebral! 😉 Mas o interior das Filipinas não é assim… Sempre digo que há duas Filipinas, a das cidades grandes e das províncias. Um dia, escrevo sobre isso.
Mas o conceito de que asiático é tudo igual não é só do Brasil! Na Europa, se considera quase todos os asiáticos chineses: já fui parada no bairro chinês de Dublin por chineses que achava que eu falava mandarim.
Aqui mesmo, os filipinos acham que sou mistura, parte alguma coisa (escolha: chinesa, japonesa, coreana) e parte filipina, pelo meu tom de pele. Já perguntaram se sou coreana também… Acho que tenho uma cara de oriental genérica! Haha!
Mas existem muitos hábitos comuns entre os dois povos (esquecemos de mencionar o "sim que quer dizer não") e muitas diferenças entre os dois países. Foi bem interessante escrever esse texto! 😉
Um beijo
Ninguem segura voces duas hein!! Otima ideia, otimo texto….Bj
Parabéns meninas, acabei de ter uma aula cultural. Adorei!!!!
Parabéns! adorei o texto, bj.
Juliana, Ju, Monica, Eliana e Emilia:
Obrigada pelo retorno! =]
Nós nos divertimos muito fazendo esse texto, que como curiosidade, foi feito no Brasil, no mesmo dia da foto que estamos juntas!
E também teve o lado de refletir sobre os esteriótipos mesmo, os pré conceitos e a visão de quem está vivendo em cada lugar.
Beijo grande.
Faço das palavras da Chris, minhas! Foi bem legal refletir sobre esse tema e escrever também! Adoro a forma como a Chris escreve e acho que temos boa sintonia! <3
Obrigada pelos comentários! Beijos!
Muito bom!
Gosto muito de ler como vocês escrevem docemente e tantas informações não pejorativas sobre os asiáticos. Nada como ver a cultura dos povos sem atravessar com o olhar da nossa cultura, no que se refere ao incansável julgamento que muitos brasileiros fazem.
Tem um livro chamado “Matizes do Amarelo” , Rogério Dezem. Este livro aborda mais a imigração japonesa, mas a chinesa é considerada a primeira no Brasil , ele aborda o inicio da nossa rejeição aos asiáticos e principalmente a maioria das construções de negação ao comportamento e cultura chinesa. Esta construção foi tão violentamente reforçada que ao passar quase 200 anos, ainda temos uma relação muito preconceituosa com os asiáticos em nosso país.
Oi Marta! Obrigada pelo comentário! =)
Bom, considerando que meus avós eram todos japoneses, eu não posso ser perjorativa em relação aos asiáticos e sei que a Chris tem muito respeito pelos chineses! Hehe!
Acho que houve muito preconceito em relação aos asiáticos, no Brasil, durante o século XX porque somos diferentes. Quero dizer, a presença dos negros no território brasileiro data de séculos (literalmente), enquanto a presença asiática data do princípio do século XX. Lembro-me, há 20 anos (Jesus… Quanto tempo!), descia uma rua perto da minha casa e fui assediada por um cara que ficava, ao meu lado, me chamando de japonesa e chinesa e que deveria voltar ao meu país… Só que o meu país sempre foi o Brasil!
Em relação ao julgamento, acho que isso é uma questão de ser humano… Nós pré-julgamos o que não conhecemos e, quando conhecemos, começamos a julgar as coisas através de nossas próprias lentes. Tento sempre escrever o que observo, de forma neutra, e, se coloco meu ponto de vista, faço questão de dizer que é algo que penso. Depois de viver nas Filipinas por três anos e deparar com as amarras dos meus próprios preconceitos e julgamentos, tento vê-los de uma óptica mais neutra. Isso não quer dizer que eu não me revolte com coisas que vejo ou passo por aqui! 😉
Um beijo
Ameiio o Texto meninas !!!! Bem criativo por desconhecimento acabamos comprando frases compradas
Pingback: Filipinas – Páscoa & Tradições
Pingback: Asiático é tudo igual? Confere no Brasileiras pelo mundo… |
Não sei se é sorte, destino ou questão de poder, mas sei que é um privilegio o conhecimento que tens e distribuir.