Para começar, preciso esclarecer uma coisa: sou uma apaixonada pela China e o objetivo desse artigo não é desencorajar ninguém que pretende viver do outro lado do mundo, mas somente mostrar que a moeda tem dois lados, sempre.
Acredito que podemos (e devemos) aceitar os desafios que a vida nos impõe da maneira mais natural possível. Como diz um ditado popular: ‘se só temos limão, então vamos fazer uma limonada’. Não adianta reclamar da nossa sorte e destino, pois o tempo gasto com isso só vai nos impedir de ver o lado bom e tentar fazer nossa vida melhor. Lembre-se que a felicidade está dentro de nós, não nas coisas que nos cercam.
Vir para a China, no caso da minha família, foi uma oportunidade de carreira para meu marido e não pestanejamos. Somos otimistas e aprendemos, juntos, a lidar com as dificuldades e adaptação à nova cultura. Mas muitas pessoas me escrevem perguntando sobre ir ou não para a China. Aceitar ou não o desafio. Enfrentar ou não as barreiras culturais?
Só posso responder que isso é um fator muito pessoal e depende das condições e da realidade de cada um. Mas uma coisa é certa: é uma montanha russa de emoções!
Por isso, resolvi elencar alguns pontos que farão você colocar na balança se a China é ou não é uma boa opção de lugar para chamar de lar. Sabendo das coisas que pesam e das que agregam (que escrevi aqui), fica mais fácil decidir.
O que enfrentamos na China
- A poluição – esse é o fator número um para ponderar. Ela existe, é fato. Os índices são altos, muitas vezes alarmantes, e quem vive aqui tem que conviver com isso. Muitas pessoas usam purificadores de ar em casa para amenizar o problema e máscaras para sair na rua nos dias de pico. Quem tem problemas respiratórios vai sofrer mais por aqui. Então se informe, saiba como lidar com esse fator que afeta toda a população.
- O idioma – essa é a segunda grande dificuldade de quem vem morar na China – pode ser a primeira também, vai depender de cada um. Se a cidade escolhida for Shanghai (Xangai) ou Beijing (Pequim) ainda dá para afirmar que o inglês te ajudará, ao menos, a conhecer alguém que te auxilie nos locais onde ninguém fala outro idioma além do mandarim. Dentro da bolha em que vivem os estrangeiros nessas cidades, é possível frequentar escolas, restaurantes e comércio onde o inglês é usado diariamente. Fora isso, esqueça! Se saiu desses locais, piora muito o acesso a serviços em inglês. E não se iluda com a história de que a China é o centro da economia mundial, que o país está voltado para o mundo. Apesar de isso ser um fato, não significa que 1 bilhão e 400 milhões de chineses dominam outro idioma além do materno. E para ser bem sincera, os chineses possuem problemas de comunicação entre eles, já que, além do idioma mandarim, o governo reconhece outros 55 dialetos.
Outra coisa que vivo escutando é a exclamação: – Mas como eles não falam inglês? Eles deveriam falar! – E aí eu pergunto: – Porque ‘deveriam’? Por acaso no Brasil as pessoas falam inglês em lojas, restaurantes, serviços públicos? Só para pensar…
- Cultura e educação – é fundamental conhecer e entender esses pontos: as regras são outras, os códigos sociais são completamente diferentes, a linguagem corporal é deles e por aí vai. Cospem no chão, escarram, arrotam à mesa, falam alto. Dizer ‘ok’ para um chinês não faz sentido, bem como sair abraçando e beijando todos que encontramos pela frente.
Aí vem (de novo) as exclamações: – Que povo mal educado! – Não, não são mal educados, são educados com outros códigos que nós não entendemos. Para eles, mal educados somos nós. E ponto. Então, insisto, esse é um fator muito sério a ponderar. Ninguém, nenhum ocidental, nem brasileiro (em especial), vai chegar aqui e ditar as regras de educação que acreditam ser as melhores. Quando se muda para a China, devemos lembrar que nós somos os hóspedes, os intrusos. Aprender sobre a cultura é fundamental. Fica mais uma dica!
- A comida – pessoalmente, gosto muito da culinária chinesa. Mas não é todo mundo que gosta e hoje em dia é muito mais fácil encontrar comida internacional aqui. Mas é cara, afinal, são todos produtos importados. Novamente: viver na tal ‘bolha internacional’ facilita muito, mas saiu dela, na maioria esmagadora das cidades, vai ficar bem mais complicado encontrar produtos iguais aos que se consumia em casa. Tenha isso em mente.
- A numeração – encontrar roupas e sapatos aqui é um martírio, principalmente se você não possui o corpo e os pés dos chineses! O M (médio) do Brasil é facilmente o XXL (2x extra largo). Não se acha roupa para pessoas obesas, só mandando fazer. Com os calçados é a mesma coisa: quem usa mais do que 38 (Europa – feminino) e 43 (Europa – masculino), que correspondem ao 36 e 41 no Brasil, vai ter muita dificuldade de encontrar sapatos.
- Somos diferentes – um outro fator que deixa muitos estrangeiros estressados, principalmente os que vivem em cidades de interior, é o assédio. Somos diferentes e isso é mais um fato que ninguém vai mudar. Eles pedem para tirar foto, gostam de tocar, riem de nós. Mas o que dizer de pessoas que nunca viram um loiro, ruivo, negro ou olhos azuis? Todos somos alvos de olhares e da curiosidade chinesa. Já escrevi em outros artigos que nunca passaremos despercebidos vivendo na China.
- A internet é bloqueada – para quem não sabe, na China existe a grande ‘China Firewall’, que bloqueia e controla todo o acesso a internet. Claro que os estrangeiros (e alguns chineses) acessam Facebook, Google e outros websites através de um VPN mas isso vai te custar algum dinheiro extra por mês e tornará sua internet bem mais lenta – é isso ou nada!
- O regime de governo é ditatorial – não se esqueçam que, por mais capitalista que possa parecer, a China é uma ditadura. Com novos moldes, sim, mas o governo é quem dita as regras. Estar ilegal aqui é quase impossível e as penas são duras: prisão, multa e deportação. As regras são para serem seguidas e ser estrangeiro não dá nenhuma vantagem ou imunidade à pessoa: não cumpriu a lei é convidado a se retirar do país na hora. Não tem jeitinho brasileiro, principalmente com o visto de permanência.
Então é isso: se está pensando em vir, venha sabendo (quase) tudo que te espera. Com conhecimento, fazemos escolhas mais coerentes e seguras. A China não é país para ‘tentar a vida’ ou se aventurar – apesar de que viver aqui é uma aventura diária!
Até a próxima.
11 Comments
Obrigadíssimo pelo seu artigo! É objectivo! A China tem muitos problemas, mas nenhum país sem problema, mesmo Suíça tem. Gosto muito do seu conteúdo, especialmente o parte sobre idioma, o inglês não é nossa língua materna e oficial, para nós, não é uma obrigação de falar inglês. Para vocês, é igual. Acredito que fora dos países que falam inglês, existe muitas pessoas não conhecem falar inglês, por isso, isto não é big deal. Vem um país, quer ter uma memória, deve adoptar.
Olá Alex!
Obrigada você, pelo seu comentário.
Fico muito feliz quando recebo um retorno de chineses, que apoiam o que escrevo, minhas impressões. Isso só dá mais credibilidade para meu trabalho.
Grande Abraço (no estilo brasileiro de ser!)
Adorei teus comentários Chris! São todos ótimos, verdadeiros e de grande valia na hora de avaliar uma possível mudança para a China.
Acredito que seja muito válido e positivo um tempo morando na China, nada é para sempre. E sempre vamos aprender com esta experiência incrível.
Eu sou exemplo vivo disto.
Morei no interior da China de 2008 até 2011 com uma filha de 2 anos e marido (fui por causa do emprego dele) e morei todo 2012 em Shanghai até voltar para o Brasil. E digo foi a melhor experiência da minha vida com seus pontos positivos e negativos, claro!
Beijão!
Olá Luciana.
Obrigada pelo seu depoimento aqui.
Vindo de quem já viveu a experiência é um presente!
E afinal, ninguém vem para a China e sai ileso, né?
Abraço.
Adorei o texto. Eu sou mexicana e morei na China 2 anhos. Suas palavras ñ podem ser mais certas. Foi difícil no começo mas eu adorei meu tempo lá e feliz voltaria.
Olá Alejandra,
Onrigada pelo seu comentário. Receber um elogio de quem sabe como é a vida aqui é uma grande alegria.
Abraço.
Ola Christine!
Muito valido tuas dicas pra quem não conhece o outro lado do Planeta. heheheh
Cheguei a China em Agosto de 2008 e de la pra ca, posso dizer que seguramente sou outra pessoa, digo, em termos de evolução em todos os sentidos. Vim pra ca depois de meu esposo ser contratado por uma Cia de Exportacao de calcado, trabalhei nesta área também de 2008 a 2011, morei em lugares onde não se falava nada de inglês, e onde não se encontravam produtos importados, interior mesmo. Atualmente moramos em Guangdong, mais precisamente em Dongguan. No começo enfrentamos vários obstáculos, com a língua, a comida, o assedio ( por eu ser de origem alemã), roupas ( no meu caso), mas hoje sou grata pela oportunidade de poder estar aqui e um dia ter tantas historias incríveis pra contar aos meus netos. Um abraço!
Olá Marcia,
Obrigada por deixar esse comentário tão bacana!
Fico muito feliz em perceber que toco as pessoas que realmente conhecem a realidade da China.
Grande abraço.
Acho q não concordo em algumas coisas…já fui duas vezes a China e foram duas grandes aventuras…me apaixonei!!
Oá Hugo,
Obrigada pelo comentário. Mas como escrevi no inicio do texto: “Para começar, preciso esclarecer uma coisa: sou uma apaixonada pela China e o objetivo desse artigo não é desencorajar ninguém que pretende viver do outro lado do mundo, mas somente mostrar que a moeda tem dois lados, sempre.”
E, vivendo aqui há 12 anos, e convivendo com muitos estrangeiros que vão e vem, esses pontos são os que mais ‘pegam’ para todos.
A China é um país magnifíco, mas viver aqui, como em qualquer outro lugar do mundo, tem seus desafios. E o objetivo desse texto foi exatamente esse: mostrar que dentre as coisas ótimas, existem as nem tão boas. Assim, quem decidir vir, terá um contraponto para pensar.
Abraço.
Eu quero morar na China,o q devo fazer ,Chris , é fácil arrumar um emprego Air ?