O número de brasileiros que pretendem sair do país tem aumentado consideravelmente nos últimos anos – e eu já escrevi aqui – sobre alguns dos motivos que têm levado muitas pessoas a pensarem seriamente no assunto.
Independente do motivo da mudança, ou seja, por ter decidido recomeçar uma nova fase, por ter recebido uma oportunidade para estudar, trabalhar; ou, ainda, porque o companheiro(a) recebeu alguma proposta, mudar de país realmente não é fácil, pois além de demandar muita pesquisa, reflexão e planejamento é preciso ter clareza de que muitos desafios deverão ser enfrentados. Por exemplo: cultura, idioma, clima, burocracias, etc.
Moro com meu marido nos EUA há quase 2 anos porque ele recebeu uma proposta de trabalho e como eu tenho uma profissão que me permite trabalhar à distância, nossa mudança foi muito rápida.
Eu gosto e sempre gostei de trabalhar. Sou muito grata por poder continuar trabalhando na minha área, ter outro trabalho em tempo parcial e ser voluntária em uma instituição por aqui. Meu marido até me fala: “você trabalha mais que eu” – ele tem total razão – mas de uns tempos para cá, comecei a receber, entre um comentário e outro, algumas piadinhas ácidas relacionadas ao fato de morarmos fora e, por conta disso, fui me dando conta de que ainda existem alguns mitos sobre o tema.
Pensando em minhas experiências e conversas que tive com outras brasileiras que não vivem no Brasil, compartilho com vocês 5 coisas que muita gente pensa quando moramos fora.
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Vocês são ricos
Muita gente acha que quando mudamos de país nos tornamos ricos porque passamos a ser remunerados na moeda local. Quem pensa desta forma, chega a tal conclusão depois de fazer uma rápida conversão da moeda brasileira com outra moeda estrangeira, simples assim.
Para mim, riqueza é algo complicado de se definir, mas independentemente de qualquer coisa, algo primordial a ser levado em consideração e que talvez muita gente se esqueça é que quando mudamos de país, ganhamos e gastamos na moeda local.
Vale dizer, também, que enquanto não houver uma mudança definitiva, pagam-se impostos nos dois países.
A mulher que acompanha o cônjuge é madame ou dondoca
O que acontece mais comumente é o marido receber uma proposta para trabalhar fora quando uma família ou casal se muda de país. No entanto, é importante frisar que o inverso também acontece. Para terem uma ideia do que estou falando, vejam aqui e aqui duas entrevistas bem interessantes sobre o assunto.
Considerando que a primeira opção ocorre com maior frequência, ouve-se muito que a mulher que vai acompanhar o marido passará a ser uma madame ou dondoca, mas aí eu pergunto: o que a gente tem a ver se ela realmente for ou virar uma madame ou dondoca?
Muita gente não sabe ou não para pensar que nem todo o companheiro(a) tem permissão para trabalhar no outro país e muitas pessoas até se deprimem por isso. Há quem aproveite para estudar, se reinventar e até começar a trabalhar em áreas diferentes, mas talvez no imaginário coletivo, muitas mulheres que acompanham seus maridos passam a viver de uma forma, como diz uma parte da música “Burguesinha”, do cantor Seu Jorge:
“Vai no cabeleireiro
No esteticista
Malha o dia inteiro
Vida de artista”
Embora nós, brasileiras, sejamos vaidosas e adoramos cuidar da nossa aparência, devo dizer que tanto eu quanto muitas compatriotas que vivem no exterior tivemos que mudar alguns hábitos nesse sentido. Primeiro, porque é caro ir frequentemente a um salão de beleza em terras estrangeiras e segundo, porque a maneira como alguns serviços são feitos deixam muito a desejar.
Manicure, faxineira e consertos residenciais básicos são exemplos de alguns serviços considerados caros fora do Brasil. Por esse motivo, a frase “faça você mesmo” é literalmente colocada em prática. Eu mesma fui uma vez a um salão para fazer minhas unhas e não gostei. Depois de passar por tal experiência, aprendi a fazer sozinha. Assumo que o resultado final fica longe do que eu gostaria, mas a vida segue.
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Tudo é mais fácil
Ouço com relativa frequência muitas pessoas dizendo que “tudo no exterior é mais fácil” e confesso que nunca compreendi o que isso quer dizer.
Como disse inicialmente, mudar de país não é tão simples quanto parece. Até que alguém consiga se sentir um pouco mais confiante e adaptado à nova cultura, demanda-se tempo, persistência e certa dose de paciência. Questões de cunho emocional são colocadas em xeque diariamente e, infelizmente, há quem não consiga lidar muito bem com isso.
Há pessoas que sentem muitas saudades da família e dos amigos, não aguentam o clima, não gostam da comida, às vezes demoram para encontrar um trabalho e acabam sofrendo muito. Por essas e tantas outras razões que eu nunca compreendi por que as coisas serão mais fáceis quando se trata de morar em outro país. Tenho quase certeza que quem se mudou, precisou lidar em vários momentos com algum tipo de dificuldade.
Tudo é perfeito
Esse é um dos maiores mitos que se pode ter. A realidade é que não existe perfeição em nenhum lugar do mundo. Problemas existem em todos os cantos em maior ou menor escala.
Sabe aquela história de achar que a grama do vizinho é sempre mais verde que a nossa? Pois bem, eu acredito que muitos brasileiros pensam exatamente desta forma. Acho importante dizer que o Brasil – tem sim – muita coisa boa que precisamos aprender a valorizar, de verdade!
Você se mudou e não pode opinar sobre o que acontece no Brasil
Há quem acredite que brasileiros que moram no exterior não devem opinar sobre qualquer coisa relacionada ao Brasil. Outra frase comum de se ouvir é “vocês não estão mais aqui e não sabem como é”. Sendo muito sincera, eu acho bem radical esse tipo de pensamento, pois mesmo que alguém possua ou não outra cidadania e, por algum motivo, não more mais no Brasil, é muito provável que ainda exista alguma ligação com o país. Quem mora fora provavelmente deixou uma história, familiares e amigos. Garanto que a maioria daqueles que saíram se preocupam com os que ficaram e querem ver um Brasil melhor.
A vida nem sempre é um mar de rosas. Viver fora ou em qualquer outro lugar sempre terá seus prós e contras – por esses motivos, posso afirmar que nem tudo será do jeito que muita gente imagina.
Até o próximo post!
4 Comments
Liliane gostei muito do teu texto. Agora estou no Brasil de novo,(por enquanto) mas quando estava na España eu não podia opinar ou criticar, pois eu estava “europeizada”. Acho uma pena estes preconceitos e acho também que algumas pessoas dizem coisas acidas, porquê sabem que nunca teriam a coragem de fazer o que fizemos. Bjs e boas maratonas.
Olá Maira,
Tudo bem?
Pois é, dia a dia vou me conscientizando que somente quem mora fora é que entende “a dor e a delícia de ser o que é” como já dizia a música. No entanto, tudo acaba sendo aprendizado, não é mesmo? Aprendi que a gente tem mais é que tocar a vida sem dar muita importância para alguns comentários que nos fazem.
Muito obrigada pela leitura, comentário e votos de boas corridas, ADOREI!
Bjs,
Liliane
Como sempre, arrasou! Morar em outro país exige equìlíbrio emocional, persistencia e fé principalmente no primeiro ano! Como é difícil as vezes! Sensação de vida trincada, quebrada e o pior é qdo n se tem fluência na língua local, me senti analfabeta total! Ufa! Adorei, escreva sempre q continuarei lendo. Esses textos me trazem conforto e acariciam meu coração, ????????
Olá Keilamar,
Fico muito feliz em receber sua mensagem, sempre carinhosa. Também fiquei contente em saber que você continuará me acompanhando. 🙂
Muito obrigada, de verdade!
Beijão,
Lili