5 hábitos gregos curiosos.
Durante o período que vivo aqui na Grécia, tenho percebido cada vez mais que a personalidade dos gregos é bastante semelhante à dos brasileiros. Calor humano, hospitalidade e extroversão ajudam a diminuir a saudade que temos da nossa terra e da brasilidade.
Mas é claro que não posso deixar de observar alguns aspectos diferentes na cultura grega que encontro diariamente e que me chamam bastante atenção. Não significa que são hábitos bons ou ruins. São simplesmente manias curiosas e que ajudam a moldar as características de um povo tão orgulhoso de suas tradições.
1: Valorização do passado
É lindo de ver o respeito e o orgulho que os gregos têm de toda a sua História e cultura. Não importa a idade que tenham, todos transmitem um conhecimento enorme sobre tudo o que foi originado na Grécia: a vida e a contribuição dos principais pensadores que mudaram o mundo, os anos de guerras, a mitologia e, não menos importante, as vitórias e conquistas particulares de suas famílias. Existe uma honra muito grande desse povo de pertencer à antiga e poderosa Grécia.
É muito comum surgir, nas conversas com os locais, a referência ao passado – seja ele antigo ou recente – como os “bons tempos”. É possível sentir um imenso saudosismo no discurso de todos os gregos, mesmo aqueles que não conheceram os tempos de prosperidade.
A mentalidade grega entende que é no passado que está enraizado o futuro e, por isso, eles são tão ligados no que já aconteceu. Em tempos de crise, vejo como esse pensamento traz uma enorme dificuldade para os gregos buscarem a inovação e usarem a criatividade para construir uma nova Grécia.
Nós, brasileiros, que nascemos em um país tão jovem e muito pouco apegado ao passado, não entendemos exatamente a valorização dessa carga histórica tão grande. Somos um país que vive de futuro, enquanto a Grécia vive de passado.
2: Vamos tomar um café?
Quando você estiver por aqui e algum grego te convidar para tomar um café, reserve, pelo menos, duas horas do seu dia! Esse é o programa favorito no país: sentar à mesa em um café (em grego, kafeneio), pedir um espresso ou um freddo cappuccino e conversar (ou discutir – outro passatempo favorito!). E durante essas horas, UM copo de café é realmente tudo o que eles consomem! Nada de bolinho ou biscoitos para acompanhar. Café com prosa e só!
Nos finais de semana, esse hábito é ainda mais evidente. Os cafés ficam lotados de famílias aproveitando o Sol e vendo a vida passar, começando às 10h até a fome bater lá pelas 15h, quando todos migram para os restaurantes. Só para reforçar: não é café da manhã, com salada de frutas ou pães. É só café! Por cinco horas! Entendeu porque eu acho curioso?!
Tanto tempo dedicado à essa bebida deixa os gregos bem exigentes quanto à sua qualidade e ao seu preparo. Os blends mais comuns vêm da Colômbia, do Oriente Médio e do Brasil.
3: A felicidade de comer é compartilhada
A culinária grega é maravilhosa! Baseada nas tradições mediterrâneas, é muito saborosa além de super saudável. Tantos pratos gostosos fazem com que os gregos sejam um pouco exagerados à mesa.
O primeiro aspecto curioso é não olhar para o cardápio do restaurante. É verdade que a maioria dos lugares mais tradicionais oferecem basicamente os mesmos pratos típicos, então não há muito o que pensar e eles sempre sabem o que querem. Na hora do pedido eles capricham e pedem muito mais do que aguentam comer!
Tanta comida à mesa nos leva à outra mania curiosa: raramente os pratos são individuais. Tudo é compartilhado. Desde a entrada – geralmente uma salada muito bem servida – aos pratos principais.
Tanto é assim que as mesas dos restaurantes são arrumadas com pratos pequenos, tipo os de sobremesa. A ideia é que os pratos principais sejam servidos no centro da mesa e que cada um pegue a porção do que quer comer. Isso quando eles não resolvem beliscar direto do prato principal!
Rapidamente, eu já incorporei esse hábito, pois assim consigo experimentar de tudo um pouco e ficar ainda mais apaixonada por essa cozinha. Kalí Óreksi! (Bom apetite).
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4: Sem vaga certa
Apesar de ser uma cidade grande, capital do país, Atenas tem um trânsito razoavelmente tranquilo quando comparado aos enormes engarrafamentos que vemos nas principais cidades do Brasil.
Os cidadãos são bastante adeptos ao transporte público, por ser um sistema barato e com boa cobertura. O problema do trânsito aqui não é a quantidade de carros circulando e sim o hábito de estacionar literalmente em qualquer lugar. Esta falta de organização nos estacionamentos ocasiona o bloqueio de ruas e de cruzamentos, congestionando a cidade.
Diariamente me surpreendo com as mais surreais formas de estacionar os carros. Parar em fila dupla, nas esquinas ou em cima das calçadas já nem me chocam mais. Já vi veículo estacionado no meio da rua! Não é maneira de dizer não, estava no meio da rua mesmo! Tem também tanto carro parado na contramão que fica até difícil entender para qual sentido é a rua. “Ah, mas é rapidinho e o pisca-alerta está ligado!” é a principal justificativa.
De todos, esse é o hábito grego que não acho apenas curioso, mas também ruim, pois acaba sendo uma enorme falta de respeito ao próximo. Não tem vez para pedestres, carrinhos de bebê ou cadeirantes. Além disso, deixa a cidade caótica e feia, parece sempre que é uma grande bagunça.
Dizem que as prefeituras multam esses motoristas, mas a verdade é que a não existe uma cobrança séria dos órgãos responsáveis e, por isso, continuamos a ver barbaridades diariamente.
5: Lugar de pedestre é na rua
Justamente pelo péssimo hábito de estacionar os carros de qualquer maneira, é super comum ver os pedestres caminhando no meio das ruas. A calçada é do carro, a rua é do pedestre!
De início, me pareceu um hábito um pouco estranho e muito perigoso, claro. Mas são tantos os obstáculos para desviar nas calçadas (além dos carros, são muitos buracos e árvores), que acaba sendo mais prático andar no asfalto. Obviamente, nas grandes avenidas e lugares mais movimentados, isso não acontece. Mas nas ruas dentro dos bairros, que são mais calmas, é possível ver verdadeiras caravanas de pessoas andando fora das calçadas.
Confesso que aderi a essa mania também, sempre prestando bastante atenção! O curioso é que já ficou tão comum que, mesmo quando a calçada está livre e não tem nenhuma necessidade de andar pela rua, lá estou eu!
Viver uma outra cultura, diferente daquela que estamos acostumados, é muito interessante para criarmos empatia, tolerância e respeito. Existem os hábitos que nos adaptamos rapidamente, outros que nos parecem estranhos e ainda aqueles que são simplesmente divertidos. Fato é que mergulhar em outra cultura nos ensina a ser cada vez mais humanos.
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Parabéns pelo texto Marina! A leitura me fez ter a sensação de estar presenciando cada cena grega.