Um dos temas mais delicados e complexos para se adaptar após uma mudança de país é o sistema de saúde local. Falo isso não só por mim, mas venho acompanhando também mudanças de amigos para diferentes países e esse é um assunto sensível para todo mundo.
Os sistemas de saúde pelo mundo são muito específicos e, mesmo na Europa, onde eu imaginava que houvesse uma integração também nesse sentido, cada país tem um sistema particular e distinto um do outro.
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E esses sistemas são, sobretudo, diferentes do Brasil. Então, demanda pesquisa, atenção e paciência para se adaptar à estrutura e conseguir garantir o melhor atendimento e acompanhamento para a nossa saúde.
Felizmente, nós aqui ainda não tivemos necessidade de usar muitos serviços de saúde, nem públicos e nem privados. Dessa forma, aqui vou relatar um pouco do processo que conheço e deixar informações para pesquisas mais completas.
A saúde pública
Antes da crise de 2009, a saúde pública grega era uma das referências na Europa. Durante a crise e com o corte significativo de investimentos, esse setor sofreu bastante, principalmente em relação à estrutura de hospitais e rede de médicos.
Ainda assim, comparado com o Brasil, é um sistema confiável e utilizado amplamente pelos cidadãos. O que se fala por aqui é que em casos de emergência, a rede pública é onde se encontra o melhor atendimento. Já para check-ups e consultas, reclama-se bastante da demora em ser atendido.
Durante o segundo semestre do ano passado, o governo grego começou a implementar o conceito de “médico da família”, inspirado no sistema de saúde de Portugal. Até o momento, minha única experiência com esse projeto foi a designação do médico que irá nos acompanhar. Fizemos todo o cadastro on-line e achei superprático. Mas ainda não agendamos a consulta.
Além disso, um aspecto um tanto interessante do sistema de saúde público grego me chamou atenção. Não sei se esta foi uma solução justamente para evitar uma decadência no serviço durante a crise, mas o fato é que existe uma rede de hospitais, médicos e laboratórios privados que são credenciados ao sistema público.
Uma vez cadastrado na Segurança Social – abaixo descrevo o passo a passo para emitir o cadastro – o cidadão tem direito de utilizar essa rede privada pagando os valores reduzidíssimos – até 15% do total – usufruindo da estrutura particular.
Eu costumo fazer exames laboratoriais em uma clínica privada e não gasto mais de 5 euros para realizar uma bateria de exames. Uma ultrassonografia de mamas neste mesmo laboratório custa irrisórios 1,25 euros para quem é registrado no sistema público.
Além de consultas e exames, o cadastro na Segurança Social permite o acesso à remédios por valores subsidiados e o processo é bem simples. O médico emite um formulário padrão com os dados do paciente e as medicações. Com essa prescrição, é só se dirigir a qualquer farmácia para retirar os remédios, que entrarão para o seu histórico no sistema de saúde.
No meu caso, preciso fazer um tratamento contínuo e se não tivesse o cadastro da Segurança Social, teria um custo em torno de 60 euros mensais. Com os valores subsidiados, gasto – pasmem! – 4 euros por mês em remédios de referência e não genéricos.
Como fazer o cadastro na Segurança Social
Para um estrangeiro ter acesso à saúde pública, é necessário passar por um processo um pouco burocrático. Primeiro de tudo, é preciso ter um emprego formal ou ser dependente legal de alguém que o tenha.
Isso permite que seja possível fazer o registro como residente permanente na Grécia. Ter a cidadania de outro país da União Europeia não garante o direito de uso da saúde pública. O registro de residência permanente é realmente necessário.
Com a residência permanente, emite-se o AFM (fala-se “afimi”), que nada mais é que o CPF local e fundamental para qualquer coisa que se deseje fazer por aqui (abrir conta em banco, alugar apartamento, etc).
Com o AFM em mãos, o estrangeiro se dirige ao IKA da região onde vive – organização de Segurança Social – o que seria o SUS para eles. Lá, é emitido o AMKA, o número de Segurança Social. Qualquer pessoa que tenha trabalhado ao menos 50 dias no ano tem direito à emissão do AMKA. Após a conclusão e ativação do AMKA, o estrangeiro já está segurado no sistema de saúde público.
Uma dica para quem não domina o idioma grego: contrate um advogado ou despachante. Para todo o processo que descrevi, tivemos o acompanhamento de um advogado que nos ajudou muito, não só com o idioma, mas com a preparação de toda a documentação. Nos poupou muito retrabalho e dor de cabeça.
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A saúde privada
Existem diversos planos de saúde privados disponíveis para os cidadãos e pelas minhas pesquisas, é possível contratar um a partir de 25 euros mensais. A maioria dos empregos formais também oferece plano de saúde privado nos seus benefícios.
A grande vantagem de ter um plano de saúde particular é o acesso a uma rede de médicos muito maior, diferenciada e, no meu caso, bilíngue! Hoje, se eu preciso de um atendimento com um médico de confiança e que não tem plano, utilizo o reembolso, que gira em torno de 80% do valor da consulta, dependendo do plano. Mesmo assim, o valor integral de uma consulta particular gira em torno de 50 ou 60 euros.
A minha sensação é que os planos daqui não chegam nem perto dos planos privados no Brasil. Acho a cobertura, o atendimento e a burocracia muito piores do que os brasileiros. Mas entendo também que é porque a dependência da saúde privada na Grécia é muito menor do que no nosso país, tornando os planos de saúde privados gregos mais básicos.
Chegar em um novo país é uma montanha russa de emoções e se adaptar às regras e costumes locais é uma jornada lenta e delicada. Estar com a saúde em dia é essencial para tornar esse momento mais agradável.
Onde quer que você esteja, tome tempo para entender o sistema de saúde do país e registrar-se oficialmente nele. Por mais chato que seja o processo, é melhor que ele aconteça num momento tranquilo e sem emergências. Ter a garantia de que você e sua família estão cobertos é essencial para viver melhor no seu novo país.