Largar tudo no Brasil e tentar a vida em outro país é o sonho de muita gente e, com muito trabalho e um pouquinho de sorte, muitas pessoas conseguem realizá-lo. Sobretudo se o país de escolha tiver uma economia forte e crescente, um idioma familiar, ou minimamente possível de ser aprendido rapidamente, e uma abertura à entrada de trabalhadores estrangeiros.
Indo direto ao ponto, esse não é o caso da Grécia. Para tentar a vida por aqui, é preciso mais do que muito trabalho e um pouquinho de sorte. É preciso resiliência, coragem, versatilidade e cabeça erguida.
O cenário do mercado de trabalho na Grécia ainda hoje, quase 10 anos após o início da crise econômica, não é nada favorável. Dados de novembro de 2018 apontam para uma taxa de desemprego na ordem de 18,9% da população. Entre os jovens, o dado é ainda mais assustador: 39% na faixa de 15 a 24 anos e 24%, entre 25 e 34 anos. Esse é o pior resultado de toda a União Europeia. Apenas como referência, em países como Alemanha e Holanda, esse indicador fica na faixa de 3,5% para a população geral.
Apesar de serem números extremamente preocupantes, percebe-se uma melhora na tendência, tanto da taxa de desemprego quanto de recuperação da economia. Ainda assim, a situação do mercado de trabalho é muito difícil. Um país que não tem emprego para o seu próprio povo não vai – nem pode – priorizar a contratação de estrangeiros.
As oportunidades são poucas, mas existem
A maioria dos estrangeiros que buscam trabalho por aqui, conseguem empregos no setor de serviços, como hotéis e restaurantes, principalmente durante a alta temporada de verão. Porém, ter conhecimento do idioma grego é fundamental, afinal, a função é atender o público, que apesar de contar com muitos turistas estrangeiros, também tem muitos gregos.
Há ainda oportunidades em empresas de telemarketing. Aqui, a Teleperformance é a principal contratante de estrangeiros, incluindo os brasileiros, pois o trabalho consiste em basicamente entrar em contato com bases de clientes de Portugal e do Brasil. Pelo que conheço, as condições de trabalho e salário são adequadas e há sempre vagas disponíveis.
Há ainda a presença de algumas multinacionais de diversos segmentos de mercado, que estão voltando a crescer e a investir no país. Durante este 1 ano que vivo aqui, venho buscando oportunidades nessas empresas, pois têm a ver com meu histórico de carreira.
Posso contar nos dedos de uma mão a quantidade de boas entrevistas que consegui fazer. E a barreira para a contratação é sempre a mesma: o fato de eu ser estrangeira, não dominar o idioma e não compreender a mentalidade grega.
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E isso acontece, pois essas empresas, apesar de serem multinacionais, estão focadas no desenvolvimento do mercado local. A cultura interna é bastante globalizada e permite que um estrangeiro sobreviva bastante bem, porém da porta da empresa para fora, a cultura grega é predominante e seu entendimento é fundamental para a boa execução do trabalho.
Fala-se, inclusive, em um certo “protecionismo” que as empresas gregas e multinacionais têm em relação ao talento de profissionais locais. Conversando com algumas pessoas, entendi que existe um incentivo ou uma cobrança do governo em priorizar a contratação do cidadão grego versus o estrangeiro.
Quando uma empresa decide por contratar um profissional estrangeiro, é necessário justificar a escolha junto ao governo, explicando que aquela determinada pessoa reúne qualificações profissionais que não são encontradas em outros perfis de trabalhadores gregos.
Chegar empregado é fundamental
Diferentemente de outros países da Europa, não dá para chegar na Grécia sem emprego. Como descrevi, as oportunidades são poucas e o tempo passa muito rápido. Quando nos damos conta, os meses voaram, o dinheiro acabou e viver bem virou um problema.
Por isso, é fundamental planejamento, muita pesquisa prévia em sites como jobinathens.com e Linkedin e tentar a contratação ainda antes de chegar aqui. Assim, é possível organizar toda a mudança dentro do orçamento e garantir uma qualidade de vida adequada para o novo momento.
Definitivamente, o mercado de trabalho na Grécia não está favorável e percebo haver uma resistência à diversidade e à inovação. Por conta da crise, as oportunidades aqui não surgem em profusão como em alguns outros países europeus. Por isso, mais do que em qualquer outro lugar, é preciso realmente planejar, pesquisar e se possível carimbar a carteira de trabalho antes de carimbar o passaporte.
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muito bom a materia foi otima.