O ano está apenas começando e, com ele, iniciamos aquele momento prazeroso de mergulhar no calendário e planejar o que fazer nos feriados que virão ao longo de 2019. Como por aqui o nosso lema é “trabalhar para viajar”, aproveitamos os maiores feriados para curtir pequenas viagens e praticamente já temos destino certo para as folgas do primeiro semestre deste ano. Nada melhor que ter planejamento para não perder essas datas e aproveitar as boas promoções.
Alguns feriados internacionais, como Dia da Confraternização Universal (1/1), Dia do Trabalho (1/5) e Natal (25/12), também são comemorados por aqui nas mesmas datas. Fora essas celebrações, o calendário de feriados na Grécia é um pouco diferente do Brasil. Além, obviamente, das datas históricas e políticas serem diferentes, aqui eles seguem as datas religiosas da Igreja Católica Ortodoxa.
Por isso, nesse artigo, vou compartilhar um pouco do significado por trás dos feriados nacionais mais relevantes e que só existem na Grécia. Além de ser um guia para planejar as viagens do ano, acho que também pode ser uma forma de conhecer um pouco mais da História e das tradições dessa terra tão singular.
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Epifania: 6/01
Para nós brasileiros, este dia é conhecido como Dia de Reis. Para os gregos, é a celebração do batismo de Cristo, simbolizando também o renascimento do homem, a purificação das pessoas e a proteção contra as influências do mal.
Este feriado também celebra a “Grande Benção das Águas”, momento que marca o início da época das navegações marítimas, uma vez que as tumultuadas águas de inverno estão mais calmas e convidativas.
Popularmente, este feriado tem o nome de “Luzes”, em grego fóta. Isso porque, na véspera da Epifania (palavra grega que significa manifestação), existe um ritual que ainda hoje acontece, principalmente nos pequenos vilarejos: o padre caminha pela cidade carregando uma cruz e, de porta em porta, “ilumina e santifica” as casas, borrifando água benta. Fogueiras também são acesas com o mesmo propósito.
Já no dia 6 de janeiro, acontecem o ritual do “Mergulho da Cruz”: uma cruz é jogada ao mar pelo padre e, segundo as tradições, esse ato tem o poder de limpar e purificar as águas. Em seguida, as pessoas têm o costume de lavar seus objetos, como imagens santas ou mesmo amuletos, nessas águas, para restaurar seus poderes.
Segunda-Feira Limpa: 11/03
Este é mais um feriado religioso e que acontece 48 dias antes da Páscoa Ortodoxa. Marca o início da Quaresma ou, como eles chamam aqui, do Grande Jejum. Neste dia, chamado pelos gregos de Kathará Deftéra, tradicionalmente são consumidos frutos do mar e um tipo de pão delicioso que só é fabricado neste dia, chamado lagána. Confesso que “caí de boca” nessa tradição!
Esta celebração prega limpar corpo e alma dos pecados e dos alimentos não permitidos no jejum, como carnes, ovos e lácteos. Apesar de a maioria dos gregos não seguirem à risca os 40 dias de jejum desses tipos de alimentos, é super interessante observar que os restaurantes e até os aplicativos de entrega de comida têm cardápios especiais para o período.
A Segunda-Feira Limpa marca também a aproximação da primavera e, por isso, é bem comum e quase tradicional ver, neste dia, crianças soltando pipas nas ruas.
Dia da Independência Grega: 25/3
No dia 25 de março de 1821 teve início a Revolução Grega ou a Guerra da Independência Grega. Este movimento durou oito anos, e foi uma ação bem-sucedida para libertar a Grécia do controle do Império Otomano, que dominava o território grego desde 1453.
Atualmente, o dia da independência é celebrado com desfiles e paradas escolares por todo o país, com tradicionais roupas folclóricas e bandeiras gregas. A maior comemoração acontece em Atenas, com o desfile militar com membros do Exército, Bombeiros e Polícia e é assistido pelo Presidente da República, outros oficiais de alto escalão e centenas de espectadores presentes nas ruas da capital.
Neste mesmo dia, também é celebrado mais um feriado religioso, conhecido como Anunciação de Nossa Senhora.
Páscoa Ortodoxa: 26/04 – 29/04
A Páscoa é o maior e o mais celebrado feriado na Grécia. Até agora, passamos apenas uma Páscoa aqui, mas a sensação que tenho é que esse feriado é mais comemorado que o Natal e tem a duração de um Carnaval! O fluxo de pessoas viajando para visitar suas famílias é enorme e a preparação para os rituais e para a comilança é super intensa.
A Páscoa Ortodoxa é celebrada um pouco depois da Páscoa Católica Romana por conta de um “desentendimento” sobre os calendários lá em 1582, quando a Igreja Católica Romana decidiu adotar o calendário gregoriano e a Igreja Ortodoxa preferiu permanecer no calendário juliano. As duas Páscoas só coincidem as datas de quatro em quatro anos!
A semana de Páscoa começa na quinta-feira, quando os tsourekis – uma espécie de pão recheado – vão para o forno e as crianças pintam os ovos de vermelho, representando o sangue de Cristo e a renovação da vida.
A Sexta-feira Santa é o dia do luto e os sinos das igrejas tocam de hora em hora anunciando a morte de Cristo. É neste dia também que acontece uma procissão solene, às 21 horas. O clima fica mais pesado e triste e a sensação é realmente de estar em um velório. O silêncio é absoluto.
Já no sábado à noite, todos se reúnem na igreja para a missa principal e para a celebração da ressureição com velas brancas, que são acesas pela “chama sagrada”. Conta a tradição que a chama foi transportada de Jerusalém e espalhada, vela por vela, por toda a Grécia. À meia-noite, há fogos de artifício e todos se cumprimentam falando “Christós Anésti”, que significa “Cristo ressuscitado”.
Muitas pessoas carregam essas velas acesas para suas casas e, como forma de abençoá-las, desenham cruzes com o fogo das velas nas entradas. É bastante comum observar as marcas em preto em muitas casas ao longo do ano todo, principalmente em cidades pequenas.
O fim desse ritual de sábado representa também o fim do jejum de 40 dias. A primeira refeição geralmente é uma sopa conhecida como magiritsa: um prato meio controverso e que divide os gregos entre aquelas que amam e aqueles que odeiam, já que o principal ingrediente é a tripa de cordeiro.
Já no Domingo de Páscoa, as famílias se reúnem para a grande refeição que geralmente inclui cordeiro assado e os pratos gregos típicos como salada, azeitonas e tzatziki. E como uma boa e intensa celebração, a segunda-feira também faz parte do feriado. Os gregos aproveitam para descansar da maratona e comer o que sobrou do domingo.
Dormição de Maria: 15/8
É uma das grandes festas da Igreja Ortodoxa e celebra a dormição ou morte da Virgem Maria. Sua figura é importante não apenas de forma religiosa, mas também política. Os gregos acreditam que ela está ligada à liberdade da Grécia também.
Aqui a Virgem Maria é conhecida como Panagia que, em tradução livre, significa “Toda Sagrada”, e é considerada a mãe de todos os homens e símbolo de proteção e conforto. Por isso, é muito comum encontrar muitas igrejas dedicadas a Panagia. E no dia 15 de agosto são realizadas procissões e festas em sua homenagem.
O Dia do Não: 28/10
Este é um dia que lembra e celebra a bravura dos gregos em um período da Segunda Guerra Mundial. No dia 28 de outubro de 1940, o ditador italiano Benito Mussolini envia um ultimato ao primeiro ministro grego Ioannis Metaxas.
Por ter uma posição estratégica, a Grécia era um território bastante desejado e quem a ocupasse teria controle sobre o Mar Mediterrâneo. Com o objetivo de ocupar parte do território e avançar na sua estratégia durante a Segunda Guerra Mundial, Mussolini “ofereceu” à Grécia a chance de sucumbir à ocupação de forma pacífica.
O ultimato dizia que “se a Grécia não deixar o Eixo ocupar certas partes estratégicas do país, essa recusa será entendida como um ato de guerra”. A resposta do primeiro ministro grego foi um simples e poderoso Oxí (não), lançando a Grécia à guerra contra a Itália.
Apesar desta atitude ter resultado na entrada da Grécia na Segunda Guerra Mundial, essa data é até hoje celebrada pela coragem em ser a primeira nação a se posicionar contra os países do Eixo.
Este dia marca o espírito da bravura grega e é orgulhosamente comemorado com muitas bandeiras do país hasteadas por todos os lados.