A Bélgica e seus idiomas
Eu sempre gostei de conversar, desde de pequena sempre me consideraram uma “matraca”. Sabe aquele tipo de pessoa que conversa sobre tudo e sobre nada ao mesmo tempo? Pois é, sou eu. E esta característica se intensificou depois que vim para a Bélgica, deve ser por causa do francês, no meu caso, a falta dele, porque só conhecia aquelas palavras “adotadas” pelo nosso português (tipo: buffet, sutiã, moi e etc.). Descobri-me aqui, uma “muda-falante”, eu podia falar mas não sabia falar. E quando encontrava alguém que entendesse o meu português, falava pelos cotovelos. Foi uma fase difícil, meu marido (coitado!) foi quem mais sofreu.
Aqui na Bélgica, falar sobre idioma é bem mais complicado, isso porque a Bélgica tem três idiomas oficiais; o francês, o neerlandês e o alemão. E se não bastasse os três oficiais, tem o não oficial inglês. Aqui quase todo mundo fala inglês, entre os mais jovens ele é super popular.
Eu moro na região francófona, onde se fala o francês. Meu aprendizado, atualmente, tem sido totalmente dedicado a ele, tanto que meu inglês foi para uma gaveta esquecida no meu cérebro, mas pretendo retomá-lo e aprender os outros idiomas assim que o francês deixar de ser o meu desafio. Até porque aqui vivemos um problema com a questão do idioma…
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O problema é que o governo belga quando oficializou os três idiomas, dificultou muito as coisas para o imigrante, que além de ter de aprender a língua da sua região de escolha, ainda precisa aprender pelo menos mais duas se quiser se dar bem por aqui. Se alguém pretende trabalhar em qualquer área ligada a atendimento público, precisa da língua local, de mais uma oficial e do inglês. Por exemplo, quem quiser trabalhar como vendedor em uma loja no centro de Bruxelas, tem que saber falar francês, neerlandês e inglês.
Claro que é possível viver aqui sem falar nenhuma língua diferente da sua, sei de brasileiros e imigrantes de outras nacionalidades que moram aqui a anos e só sabem dizer “Bonjour”, “Merci” e “Au revoir”. A Bélgica é muito democrática neste quesito, tem bares, restaurantes, mercados de várias culturas. Mas o fato é que se você escolher não aprender o idioma local, você ficará muito restrito e seria muito pouco educado também.
Mas o país por ser multicultural, oferece bastantes oportunidades para se aprender os idiomas oficiais. Tem cursos de idiomas para todos os gostos, bolsos e velocidade de aprendizado, tudo depende do seu interesse e disponibilidade.
Existem cursos ministrados por algumas universidades ou escolas particulares de idiomas, que dão fluência em tempo recorde, alguns meses e você sai um papagaio no idioma de escolha, mas terá de dedicar de 3 a 5 horas diárias para as aulas, e ainda mais horas de estudo em casa, porque os cursos são bem puxados. Esses cursos costumam ser mais caros. Alguns oferecem até alojamento, são ideais para os jovens aventureiros e/ou os mais focados que pretendem fazer cursos universitários ou especializações posteriormente.
Há os cursos de “promotion sociale” que são cursos oferecidos pelo governo nacional ou regional. Com maior carga horária (de 6 a 12 meses) e menor custo (alguns são gratuitos) estes costumam ensinar a ler e escrever num ritmo menos intenso. É o ideal para os mais “adultos”, que trabalham e/ou já tem família, os que pensam em fincar raízes, enfim, aqueles quem tem de dividir mais o seu tempo e por isso, não podem se dedicar exclusivamente a um curso.
E para aqueles mais velhos e/ou mais envergonhados de voltar a escola, há cursos ou plataformas na internet que podem ajudar bastante. Um que conheço e recomendo, pois me ajudou muito enquanto não se iniciava o ano letivo, é o Wallangues .
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É uma plataforma simples e eficiente que oferece os 3 idiomas oficiais e o inglês, mas infelizmente ele não é 100% aberto, exige um cadastro que é limitado a certos códigos postais. Além dessas opções, sei de algumas igrejas e associações que oferecem voluntariamente cursos de francês, tudo para que nenhum estrangeiro fique limitado a sua comunidade e deixe de ser um “mudo-falante” aqui na Wallone, e em que todas as regiões da Bélgica.
O que percebo é um grande esforço do governo belga, na ressocialização dos estrangeiros. Tornar os idiomas oficiais mais acessíveis é só mais uma das ações demonstradas pelo governo, a intenção de fazer da Bélgica um país cada dia mais disposto a abrir suas fronteiras e diminuir o abismo entre os povos.
À bientôt!