A dificuldade de manter amigos no Brasil e fazer novas amizades no exterior.
Shakespeare tem um ditado que diz: “Amigos são a família que a vida nos permite escolher” e pouco a pouco, vou tendo cada vez mais certeza disso.
É comum ouvir que os estrangeiros acham o povo brasileiro comunicativo, sorridente, alegre e na minha singela opinião, boa parte dos gringos têm razão. Com todos os problemas que o Brasil possa ter, o brasileiro, se puder, tentará ajudar ou acolher alguém da melhor forma possível – às vezes até sem falar outro idioma. Na teoria, entretanto, esse “jeito brasileiro de ser” pode até ajudar a fazer novas amizades.
Não gosto de fazer generalizações, mas falando exclusivamente das minhas experiências morando fora, percebo que muitos estrangeiros não são dos mais receptivos. Não critico, em hipótese alguma, esse tipo de comportamento e entendo que questões pessoais e culturais possam até explicar a falta de receptividade de algumas pessoas. Por isso, acredito que não exista um jeito certo ou errado de agir nesse sentido. Cada um é de um jeito e temos que respeitar, simples assim.
Quando eu morava no Brasil, eu era a filha do João e da Maria, funcionária da empresa X, vizinha da Ana e cliente do salão de manicure, mas quando mudamos de país, todas as referências constituídas ao longo do tempo deixam de existir em solo estrangeiro. Construir novas relações demandam certo tempo e até começarmos a formar uma rede de contatos em um novo país, seremos totalmente anônimos.
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É claro que tudo isso faz parte do processo de mudança. A gente aprende, evolui, cai, levanta, descobre, redescobre, assim é a vida e sendo muito honesta, penso que esse seja um dos maiores ganhos que alguém pode ter quando mora fora. Mas mesmo tendo plena clareza de que algumas situações podem ajudar um novato a construir novas relações, ou seja, trabalhando, estudando, voluntariando em algum lugar ou estando envolvido em qualquer outro grupo, devo dizer que não tenho achado fácil fazer novos amigos, aqui, nos EUA.
Amigos no Brasil
Considero-me uma pessoa comunicativa e, talvez, por esse motivo, sempre tive muita facilidade para fazer novas amizades. Gosto de gente, gosto de conhecer gente, gosto de conversar e sempre estive aberta para me relacionar com pessoas por todos os lugares por onde passei. Contudo, a vida muda, nós mudamos, as amizades mudam e com o passar do tempo, vamos percebendo que vai ficando complicado manter contato com nossos amigos.
No dia a dia, somos engolidos pela correria. O tempo vai ficando escasso e aí fica cada vez mais improvável estabelecer contatos frequentes com pessoas tão queridas – mesmo que tenhamos toda facilidade de acesso às redes sociais.
Antigamente, pagava-se muito caro para fazer uma ligação ou esperava-se até meses para receber uma carta com notícias de quem morava longe. Atualmente, é possível conversar em tempo real com uma pessoa do outro lado do mundo sem pagar nenhum centavo, mas muitas vezes, não conseguimos.
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A vida é corrida para todos e entendo perfeitamente que seja difícil falar com nossos amigos sempre, porém, eu realmente penso que temos 365 chances por ano para mandar uma mensagem ou fazer uma ligação para pessoas que gostamos e queremos manter ao nosso lado, mesmo estando distante geograficamente.
Nunca fiz questão de ter “um milhão de amigos” como diz uma música do cantor Roberto Carlos, mas até me mudar eu achava que tinha mais amigos do que realmente tenho. Foi duro admitir e me conscientizar disso, mas essa é a realidade.
Fui percebendo que algumas pessoas que eu achava que eram minhas amigas só entravam em contato comigo para me pedir algo ou alguma informação (sempre com pressa) para só depois perguntar como eu estava. Algumas só me chamavam para pedir encomendas. Quando isso aconteceu, achei o cúmulo do absurdo! Aproveitei para explicar que não levo nada para ninguém quando vou ao Brasil a não ser que eu ofereça. Outras, vieram para cá e antes de virem, mandaram mensagem dizendo que queriam me encontrar. Fiquei e fico super feliz quando recebo mensagens do tipo e compreendo que seja corrido, principalmente para quem vem de férias. Porém, em duas situações, as pessoas vieram, voltaram e nem se deram ao trabalho de me mandar uma mensagem para dizer que não poderiam me encontrar. Confesso, fiquei bem chateada, pois nos dois casos eu tinha reservado uma parte do dia para estar com elas.
Eu já vinha pensando bastante sobre minhas relações de amizade muito antes do último período eleitoral brasileiro e acho que só não perdi mais amigos porque não me posicionei politicamente nas redes sociais.
Depois de muito refletir fui chegando à conclusão de que a vida passa tão rápido que temos mesmo é que aproveitar os bons momentos, as oportunidades que surgirem e preservar nossas amizades, de verdade!
Um dia uma amiga me disse algo bem verdadeiro: “Se alguém parou de falar com você é porque pararia a qualquer momento, então ela não era sua amiga.” Eu realmente acredito que hoje, mais do que nunca, é possível, sim, manter contato com alguém em qualquer canto do planeta, basta querer. Nada substituirá uma conversa pessoal, um abraço, o olho no olho, mas receber uma mensagem ou um telefonema de alguém que você gosta é sempre gostoso. Quem não gosta de ser lembrado, não é mesmo?
Sou uma privilegiada por ter encontrado pessoas que se tornaram minhas amigas ao longo da vida. Sempre que posso, mando nem que seja um oi para saber se meus amigos estão bem; e, quando possível, marco uma conversa por telefone.
Agradeço às amigas que tive oportunidade de fazer aqui no Brasileiras Pelo Mundo e aos meus amigos de longa data pelo carinho, troca de ideias e, acima de tudo, pela amizade.
Por fim, gostaria de deixar um conselho: mantenha e cuide das suas amizades independentemente de onde você estiver. Ter amigos é um dos maiores presentes que alguém pode ter na vida!
8 Comments
Adorei o texto, Liliane! Me identifiquei bastante! Aqui na Áustria também é difícil fazer novas amizades e também acabei perdendo algumas pessoas no Brasil…
Olá Fernanda,
Interessante saber que muitos brasileiros que moram fora passem pela mesma situação. Para mim, foi duro e difícil admitir, mas depois que me conscientizei procurei manter contanto com quem realmente vale a pena. Vida que segue! 🙂
Muito obrigada pela sua mensagem.
Beijos,
Lili
Excelente texto, Lili!! Eu recebo raramente mensagens de alguns antigos bons amigos. Antes ficava bem triste, mas hoje me acostumei. Ainda bem que restaram alguns ótimos amigos. O pior é quando alguém vem aqui para a Europa e quer que eu me desloque até outro local bem longe para revê-lo. Mas ninguém pensa em vir até aqui. E se eu não for, eu que não quis um reencontro. Já não me estresso mais. Fico muito feliz por conhecer você e as meninas do BPM. Um beijo!
Ka,
Eu também fiquei triste quando comecei a refleir seriamente sobre o assunto, mas foi difícil entender e admitir o que estava acontecendo.
Com o tempo, a gente se acostuma e aprende que vale a pena manter contato com quem realmente vale a pena.
Pode ter certeza que um dos maiores presentes que o BPM me deu fou ter a oportunidade de encontrar pessoas bacanas como vc.
Muito obrigada por tudo, queridona.
Beijo grande,
Lili
Adorei seu texto e confesso q me identifiquei mto c ele. Foi o q mais me fez sofrer desde q aqui cheguei, saudade de ter amigos. Sempre amei me socoalizar c outras pessoas, mas aqui na terra no tio San é um pouco complicado! Obrigada pelo prazer dessa leitura! ????
Keilamar,
Fiquei contente em saber que você gostou do meu artigo.
Aproveito para agradecer pela leitura e mensagem carinhosa.
Um beijo,
Liliane
Quem disser que não se identifica com o texto e experiência da Liliane, é porque nunca morou fora.
Viver em outro país é um tanto desafiador! Idioma, cultura… tudo novo… vida nova! E os amigos? O tempo se responsabiliza em passar uma peneira.
Quero aproveitar e deixar uma mensagem para amigos, familiares e todos que nos conhecem que ficaram no Brasil: não é porque moramos no exterior que ficamos ricos, começamos a trabalhar com exportação (salvo algumas exceções) ou que aceitamos encher nossas malas de muambas.
Viver no exterior é muito mais do que isso, e como a Liliane mesma disse sentimo-nos magoadas quando as pessoas vem conversar sobre assuntos alheios e nem sequer perguntam como estamos.
Fica a dica! Abração, Lili!
Danitassy,
Acho que você conseguiu captar exatamente o que procurei dizer em meu artigo. Fico contente em saber que tenha gostado.
Penso que depois que nos mudamos de país, imagino que (para a maioria dos brasileiros) realmente aconteça tudo isso que você descreveu aqui.
Meu próximo artigo falará exatamente sobre 5 coisas que muitas pessoas pensam quando moramos fora. Continue acompanhando o BPM. 🙂
Muito obrigada pela leitura e comentário.
Beijos,
Lili