A dimensão da pobreza na Suíça.
A Suíça é o país com o custo de vida mais elevado do mundo. É o que informa a plataforma Movehub – site que disponibiliza informação sobre vários países àqueles que querem ir viver em outro país. Ilustrando as pesquisas da Numbeo, empresa que analisou os valores encarados pelos consumidores ao redor do mundo entre 1 de julho de 2013 e 2 de janeiro de 2015, no ranking dos países mais ricos do mundo pelo Global Finance Magazine a Suíça é o 9°, usando o critério PIB per capita corrigido pela paridade de poder de compra.
Com essas informações podemos pensar que a Suíça é o paraíso dos altos salários, da economia bem desenvolvida, das facilidades para a prática de esportes, do respeito ao meio ambiente, da saúde e educação, enfim… aqui quase tudo funciona. Os sistemas de assistência social, sejam privados ou da Confederação, são muito eficazes. Está escrito na Constituição Federal da Suíça, “quem se encontra numa situação precária, não tendo mais condições de se manter, tem o direito à assistência e de receber os meios necessários para uma vida dentro da dignidade humana” (art. 12). Todos os residentes na Suíça, inclusive os estrangeiros, têm esse direito. A diretora da Conferência Suíça para Ajuda Social Dorothee Guggisber, diz: “É uma conquista ter o direito social a um mínimo para a existência. Não temos na Suíça pessoas passando fome ou dormindo embaixo da ponte, como também não temos bairros pobres, onde você não pode caminhar à noite”
Tudo isso é verdade, mas ao contrário do que muita gente pensa, viver na Suíça não é um mar de rosas para todos. Por causa custo de vida elevadíssimo, existe muito pai de família com dificuldades de chegar ao final do mês com dinheiro no bolso. Pesquisas mostram que entre 7 e 8% da população podem ser considerado pobres. Claro, não existe pobreza extrema; o patamar da linha de pobreza gira ao redor de 2.500 francos por domicilio constituído por uma pessoa adulta, ou seja por volta de 2.483 dólares. No Brasil seria um ótimo salário, mas aqui não dá pra passar o mês sem a Ajuda Social.
Por isso, na tentativa de economizar, consumidores suíços atravessam a fronteira e vão fazer compras nos países vizinhos. E porque não? É a rotina dos “turistas das compras” que aproveitam da sorte de viverem próximos às fronteiras com Itália, Alemanha ou França. Ilustrei essa realidade com algumas comparações de preços de produtos alimentares entre Suíça e Itália.
Atravessar a fronteira e gastar na Itália parte dos francos suíços ganhos aqui, virou polêmica na Suíça italiana. Esses consumidores foram chamados de “traidores da Pátria” e “inimigo número um da economia nacional”, um exagero é claro! Mas foi o modo que os dois gigantes do comércio varejista – Migros e Coop, que juntos vendem 70% de tudo que os habitantes da Suíça comem e bebem – encontraram para pressionar o consumidor, pedindo um consumo responsável ou seja: “os suíços devem sustentar a economia local, somente assim as pessoas não perderão o emprego”.
Os números da Federcommercio – associação dos grandes distribuidores e comerciantes, dizem que o turismo das compras deixam na Itália 400 milhões de francos suíços ao ano. Fazer compras na Itália não é só mais econômico, é também ter o poder de escolha, ter a disposição uma imensa variedade de produtos que só se encontra nos mercados italianos.
Mas a principal pergunta é: porque na Suíça é tudo tão caro?
A resposta mais comum e simples à essa pergunta é: “culpa é dos altos salários suíços”. Mas não é o único e nem o principal motivo. Um dos principais responsáveis pelo alto custo de vida na Suíça é a existência de cartéis públicos e privados.
Acordos verticais entre fabricantes, distribuidores e vendedores fazem com que os monopólios em diversos setores determinem os preços dos produtos a serem vendidos no país.
Aqui também reina o poder econômico do “lobby”. Não são poucos os parlamentares que representam apenas interesses econômicos específicos e não os da coletividade. E como sempre, quem paga a conta das relações entre parlamentares e os representantes de grupos como bancos, seguros, saúde, energia ou indústria agro-alimentar é o consumidor. Me concentrei nos produtos alimentares e encontrei diferença de mais de 400%, é o caso do “pennette rigate”.
Em uma entrevista a TV suíça, Patrik Ducrey da COMCO – um Órgão Federal independente que luta contra os cartéis – incentiva o consumidor a reagir: “Nesse momento é o consumidor que deve reagir, os suíços vão fazer compras além da fronteira? Ótimo! Assim os importadores suíços finalmente serão obrigados a refletir e talvez alguma coisa mude”.
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Aqueles que pedem para que o consumidor gaste o seu salário na Suíça, são exatamente os mesmo que importam produtos alimentares do exterior, os mesmos que encontramos nos supermercados com margem de lucro de 400 a 500%; ou contratam italianos para trabalhar nas empresas suíças com salários até 50% mais baixos do que aqueles suíços (talvez tema para um próximo post).
A minha constatação é que com certeza na Suíça tem muito mais controle em termos de origem e qualidade do produto do que em outros países da Europa. Os produtos importados passam por um alto nível de controle, como por exemplo os produtos bio importados devem obter o selo “Knospe” de qualidade, que é dado para produtos que respeitam os padrões do Bio Suisse. Eles correspondem aos padrões mais exigentes no mundo.
Isso quer dizer que o consumidor quando compra um alface com selo Bio Suisse, tem a certeza que esse alimento é livre de agrotóxicos, a mesma segurança não se pode ter na Itália.
Termino o texto com uma triste constatação, eu posso entender que um produto italiano seja mais econômico na Itália do que na Suíça, afinal o custo de vida é outro; mas um produto Suíço ser mais econômica na Itália é quase inaceitável. Encontrei chocolate Lindt mais barato nos mercados italianos. Me fez lembrar o caso das diferenças de preços dos automóveis brasileiros vendidos na Argentina e México, culpa da carga tributaria, será?
7 Comments
Estive em Bienne em julho e agosto de 2014, constatei que realmente os preços ai é muito caro, nas minhas andanças por Zurique, Berna e Genebra, minha comida preferida era i Kibap, a preço de 8,00 a 10,00 francos X 2,50 reais na época, passagem de trem Bienne Berna 13,00 francos, 25 minutos de viajem, quando estive em Genebra aproveitei e dei um pulo em Annemmasi na frança, ai constatei a diferença de preço.
Oi Persio, obrigada pelo comentário. O que você constatou na sua viagem é a pura realidade. A Suíça é um país maravilhoso, mas temos que usar o jeitinho brasileiro pra driblar os altos preços.
Um abraço.
Ótimo texto, sendo que o chocolate foi uma sorte, pois estava em promoção, além da promoção tem o detalhe que os chocolates vendidos fora da Suíça sao fabricado pela lindt na Alemanha, por isso valor mas baixo, claro que alguns estão chegando na Suíça com fabricacao alemã, deixando os suíços enfurecidos e deixando de consumir o lindt pelo cailer
Oi Juliana, obrigada pelo seu comentário. Pois é … Lindt é quase um patrimônio nacional, deveria ser um motivo de orgulho produzir-lo somente em território helvetico. A globalização também tem seus pontos negros. Um abraço.
Acredito que nós brasileiros que vivemos no Brasil somos condenados a custo de vida muito mais alto e pior. Uma caixa de sucrilhos aqui custa 8 reais, ai 4 francos ( nao vamos fazer o câmbio, apenas considerar o valor), uma caixa de macarrão bom aqui custa mais de 5 reais, ai 2 francos, considerando também que aqui ganhamos mais ou menos uns 2 mil reais (pra quem tem um emprego mais ou menos, pois a maioria vive com menos).
Amei seus comentários, estou indo morar na Suíça (cantão Alemão), e sua matéria de foi de grande valia para eu entender um pouco sobre a economia deste país. Obrigado pelo tempo dispensado.
Olá Luciano,
A Selma Poncini parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas na Suíça que talvez possam te ajudar.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM