A magia do Natal na Suíça italiana.
Eu nunca fui muito ligada nas festividades natalinas principalmente pelo apelo capitalista, mas passar o Natal fora do Brasil me fez refletir e de repente aquela quase obrigação de festejar junto com a família se transformou em saudades… saudades da ceia de natal com todos reunidos ao redor de uma mesa repleta de delícias preparadas pela minha mãe, depois de horas e horas na cozinha.
Por outro lado, sempre pensei que se a minha escolha foi viver em um outro país então eu devo me adaptar ao modo de vida, cultura e costumes desse povo. Com esse pensamento resolvi mergulhar nos costumes dos suíços-italianos e passar o Natal como se fosse um deles.
O Natal no Cantão Tessino é feito de tradições e por isso não poderia faltas os tradicionais “Mercatini di Natale”, que são feirinhas quase sempre realizadas em praças com iluminação característica de Natal ou nas ruazinhas estreitas do centro antigo com seus edifícios de cartão postal (e por falar em edifícios, aqui eles não podem haver mais de 6 andares) e para completar a magia, um envolvente fundo musical gospel ou jazz.
É uma experiência única passear pelas bancas que vendem decorações criadas pelos artesãos e uma infinidade de produtos alimentares como mel, geleias, biscoitos de Natal, pães e doces produzidos pelos próprios moradores, fica quase impossível não se deixar levar pelo clima natalino e sem perceber a gente acaba comprando mais do que deveria.
No final de novembro até início de janeiro a cidade de Locarno constrói uma grande pista (2.000 mq) de patinação no gelo, o famoso Locarno On Ice , aberta ao público para quem quiser se divertir ou se aventurar (é o meu caso). Quem não quiser dar show na pista de patinação existem os maravilhosos bares em forma de igloos montados ao lado da pista de gelo, e é um ótimo lugar para encontrar com amigos e se aquecer com uma taça de vinho. Enquanto isso do lado de fora os mais animados curtem shows ao vivo de bandas suíças e internacionais que tocam pop-rock, blues e jazz. Se quiser “fazer uma boquinha” existem as bancas com pratos rápidos como raclette, crêpes, pizzoccheri, fondue e não poderia faltar uma taça de vin brûlé para esquentar o clima.
Em uma conversa com os mais velhos fiquei sabendo que antigamente, antes da Suíça se transformar em um dos países mais ricos do mundo, o Natal era dia de comer carne, então matavam uma galinha, faziam uma espécie de ensopado e com o caldo dela cozinhavam o ravioli feito em casa, tudo acompanhado de um bom vinho de produção caseira, é claro! A sobremesa era o panetone e o pandoro também na versão feito em casa, que delícia né? Eles eram felizes e não sabiam, comiam tudo bio e à Km zero.
E seguindo a tradição depois da ceia, toda a família reunida caminhava até a igreja mais próxima para assistir a missa da meia noite, rezavam para o Menino Jesus que era a clássica figura santa do Natal. Hoje em dia os costumes mudaram, a missa de meia noite não faz mais sucesso, a importância da religião na vida do povo suíço está em queda e consequentemente as igrejas se transformam em, quase unicamente, pontos turísticos.
A ceia antes da missa também saiu de moda e hoje em dia o almoço do dia 25 é o queridinho dos tessinêses. Ainda existem famílias que se reúnem em casa para festejar o Natal, mas muita gente prefere reservar uma grande mesa em um restaurante onde conversam, comem, bebem, riem, trocam presentes, beijos, abraços e tchau! Tudo dura umas 2 horas, talvez para nós seja um comportamento meio “frio”, mas por aqui é tudo normal e prático. Ano passado disse ao meu marido (um suíço-italiano) que eu gostaria de fazer um almoço em casa com toda família reunida para festejar o Natal, a resposta dele foi: “você tá louca!?”, então, coloquei meu entusiasmo inicial no bolso e resolvi deixar de lado a ideia.
No Brasil temos o nosso peru assado como prato tradicional natalino, mas por aqui não existe um prato típico, os restaurantes criam um menu variado para satisfazer todos os gostos e bolsos. Já nas casas das famílias o fondue chinoise e bourguignonne (fondue com vários tipos de carne e molhos) fazem muito sucesso por ser fácil de servir e todo mundo gosta, o capone (um galo que é castrado para ganhar maior peso), salmão assado, zampone e lentilha são também pratos que se encontram na almoço de Natal.
Para mim o mais legal é que eles não se deixaram influenciar pela publicidade de 1931 de uma marca famosa de refrigerante que transformou São Nicolau, um Bispo Cristiano de meados do século IV, em Papai Noel, um velhinho simpático, gordinho, vestido de vermelho e que “vive” no Polo Norte.
Conhecido na Europa como figura lendária que distribuía presentes na época do Natal, São Nicolau faleceu em 6 de dezembro de 342 e só em 1807 seus restos mortais foram levados para a cidade de Bari, na Itália. Para as crianças ele “vive” em uma cidadezinha chamada Lapônia na Finlândia e é para lá que elas mandam cartas com pedidos de presente. No dia da festa de São Nicolau (6 de dezembro) a criançada coloca as meias do lado de fora das janelas esperando no dia seguinte encontrar as mesmas recheadas de balas e chocolates, é lindo ser inocente, né?
Aproveito a oportunidade para desejar a todos um maravilhoso Natal e convido todos a doar… doar um olhar afetuoso, uma palavra de estímulo, um abraço sincero… ás vezes basta um gesto de boa vontade para transformar um dia cinzento em um repleto de luz.
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2 Comments
Eita moça culta!!!!… Super legal esse texto..adorei. Parabéns, bjão
Valeu amiga, a gente se vê em janeiro, bjs.