A curiosidade me atormentava todas as vezes que eu passava em frente daquele belo prédio amarelo e observava a bandeira brasileira tremulando. A pergunta era óbvia: “qual a ligação do Brasil com o Centro Dannemann na Suíça?”
O tempo passou até quando surgiu o convite para visitar o local e foi assim que descobri um pedacinho do Brasil, mais especificamente, um pedacinho da Bahia escondido naquela estrutura tipicamente suíça.
Para melhorar o que já estava interessante, fui recepcionada pela Alejandra, uma jovem muito simpática que morou alguns anos no Brasil e, por esse motivo, falava perfeitamente a nossa língua. Naquele momento eu tinha uma guia só para mim e que, além de tudo, falava a minha língua.
“Tudo começou na Bahia…”, iniciou assim a me contar a história de um jovem alemão chamado Gerhard Dannemann que em 1872 emigrou para o Brasil e se estabeleceu na cidade de São Félix, na então província da Bahia. São Félix era, e continua sendo, a porta de entrada de uma região de cultura de tabaco conhecida como Recôncavo.
Localizada diretamente às margens do rio Paraguaçu, a cidade oferecia muitas vantagens. Naquela época, o rio Paraguaçu era a melhor rota comercial para a capital, Salvador da Bahia, de onde os charutos e o tabaco eram enviados, por navio, para a Europa.
Gerhard, sendo filho de comerciantes de tabaco na Alemanha, soube reconhecer o potencial da região e pouco tempo depois, comprou a então falida empresa de charutos Schnarrenbruch.
Em 1873 inaugurou a Fábrica de Charutos Dannemann com apenas 6 funcionários e, em pouco tempo, iniciou a exportar charutos para a Europa. Não demorou para que Gerhard (que adotou o nome de Geraldo) se transformasse em uma figura importante na Bahia do século XIX, sendo nomeado prefeito em duas ocasiões, contribuindo assim para o desenvolvimento infra estrutural e econômico de toda região.
Em alguns anos, a pequena fábrica se transformou em uma fonte de economia muito importante para a região, com sete fábricas e cerca de 4000 funcionários. A importância econômica da fábrica de charutos se concretizou quando recebeu do Imperador do Brasil, Dom Pedro II, o título de “Fábrica Imperial de Tabaco”.
Com a Segunda Guerra Mundial e o embargo econômico do comércio transatlântico, a Dannemann enfrentou momentos de crise até decretar falência em 1954.
Mas a marca Dannemann continuou forte e, em 1976, um grupo suíço adquiriu a licença do nome. O Grupo Dannemann é hoje uma das companhias de tabaco mais tradicionais na área de cigarrilhas e charutos.
Quando entrei no Centro, a primeira coisa que me chamou a atenção foi o fundo musical. A Bossa Nova acompanha os visitantes por todo tempo. Eles tiveram a ideia de usar música brasileira de qualidade para proporcionar aos visitantes uma experiência não somente visual, mas dos cinco sentidos.
Nas paredes estão pendurados quadros com fotos das charuteiras baianas com os seus vestidos típicos. Essas mulheres habilidosas são treinadas para fazer charutos como quando a fábrica foi inaugurada em 1873. Conseguem enrolar um charuto a cada 12 minutos; cada caixa de charutos é personalizada com a gravação do nome da charuteira que os confeccionou.
Em uma outra sala me deparei com uma grande e colorida obra de arte do artista baiano, Menelaw Sete, que decorava toda uma parede, ilustrando o estilo de vida alegre e tranquilo dos baianos.
Existem visitas organizadas de 45 minutos e que custam 21 Francos; a visita consiste em conhecer todo prédio (que é realmente muito bonito), aprender a enrolar o próprio charuto, adotar uma árvore e degustar a nossa caipirinha.
Organizam também o “caipirinha workshop”, por 65 Francos o visitante aprende a preparar a caipirinha tradicional e suas variantes, com direito a experimentar todas as variações possíveis. No final, o visitante leva para casa uma caixa de madeira com um set para caipirinha, contendo uma pequena garrafa de cachaça, dois copos, um socador de limão e um pacotinho de açúcar, que não é o açúcar refinado e sim o açúcar cristal, orgânico. Um conselho útil seria não dirigir depois da visita.
Mas na minha opinião o mais interessante é a preocupação com o meio ambiente.
Em 2001, foi lançado o projeto multigeracional “Adote uma árvore”, na região da Mata Fina da Bahia (Brasil), a área onde a empresa Dannemann começou, originalmente, as suas operações. O objetivo do projeto é retribuir a natureza um pouco do que ela já deu.
Para participar é muito simples e não custa nada, basta preencher um formulário com alguns dados pessoais e pronto! Você adotou uma árvore que será plantada na região da Costa da Bahia.
O ato simbólico de adotar uma árvore tem como testemunha paredes enormes, revestidas com pedacinhos de madeira, com a assinatura de cada pessoa que adotou uma árvore no Centro Dannemann de Brissago – Suíça.
No total são milhares de nomes que decoram as paredes, inclusive o meu!
Depois de alguns dias, recebi um e-mail confirmando a minha participação no projeto de reflorestamento de árvores nativas na Fazenda Santo Antônio na Mata Fina – Bahia.
O que me fascina obviamente não é o produto em si (mesmo porque, o fumo não faz parte da minha vida), mas o empenho para manter viva a história, a valorização das origens, juntamente com projetos culturais, e o incentivo à artistas locais, são itens que fazem parte do meu ideal de empresa.
Se você ficou curioso e quer obter mais informações sobre o Centro Dannemann, em São Félix, na Bahia, ou o de Brissago, na Suíça, visite o site.
2 Comments
Oi Selma , gostei muito de saber sobre este pedaço do Brasil na Suiça…Nunca havia lido nada a respeito; gostei muito do seu texto, você escreve muito bem.
Adoro viajar , mesmo que seja lendo sobre algum país, aprendendo a cultura , e costumes.
Muito obrigada por dividir seus conhecimentos e experiências …
Um abraço e parabéns pelo seu texto.
Regina
Oi Regina, eu que te agradeço, aliás o meu objetivo é esse, dividir um pouquinho do que eu vivi e estou vivendo. O blog me dá a oportunidade de reviver as minhas experiências online e com isso entrar em contato com pessoas interessadas em intercâmbio cultural, assim como você.
Tudo isso me dá muita satisfação.
Um forte abraço