A experiência de dormir em um iglu na Alemanha.
Chegando lá
No caminho para Garmisch Partenkirchen paramos o carro para fazer uma foto apontando para a montanha onde em breve estaríamos, Zugspitze, o ponto mais alto da Alemanha.
Era fevereiro, todo o cenário ao redor estava branco de neve e eu me movimentava mais devagar porque nunca tinha usado tantas roupas ao mesmo tempo na minha vida.
Estava muito animada com a perspectiva de logo estar no topo da montanha para passar uma noite em um iglu, mas não tinha a mínima ideia do que esperar. Só sabia que iria congelar.
A recepção
Subimos até Zugspitze de trem e ao chegarmos nos direcionaram para uma sala no restaurante local. Fomos os primeiros (graças à pontualidade do meu marido alemão), e aos poucos outras pessoas foram se juntando a nós. Eram todos alemães, de diversas idades, e a maioria viajando em casal.
Fomos orientados sobre a importância de usar roupas adequadas, como dormir dentro do saco de dormir (que suporta, segundo os guias, uma temperatura de até 40 graus negativos), como usar o banheiro e escovar os dentes.
Nosso corpo se comporta de forma diferente em função da altura da montanha e da temperatura, então podíamos sentir um pouco de falta de ar e era recomendável não beber muito álcool, pois poderia agravar o problema.
Em seguida, o guia mostrou para cada grupo no mapa a vila de iglus e em qual cada um seria acomodado. Havíamos reservado a opção chamada “Love nest” (ninho do amor), pois era a única que ainda estava disponível.
Descobrimos que existia uma boa razão para isso, era afastada da vila de iglus, o que significava que ficaríamos sozinhos e longe dos banheiros. Então a ideia de ter que levantar no meio da noite para fazer xixi era totalmente desesperadora.
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Próximo passo? Conhecer nossas acomodações.
Entrar em um iglu não é a coisa mais fácil do mundo, pois a “porta” é bem apertada e o único jeito é engatinhar na neve.
Lá dentro vimos dois sacos de dormir em cima de um tapete peludo, chocolate e uma garrafa de champanhe (adoraria tomá-la, se isso não significasse ter que fazer xixi depois).
Encontramos então o restante do pessoal dentro da vila de iglus, onde fizemos um tour guiado para conhecer o espaço.
Obviamente, era tudo feito de gelo (eles são construídos todos os anos, quando o inverno começa), mas a vila tem uma porta que permite manter o espaço fechado. É decorada com esculturas de gelo.
Os quartos consistem de uma cama feita de gelo na qual eles colocam o tapete peludo e os sacos de dormir. Alguns quartos são de casal e outros compartilhados. O bar tem várias mesas grandes para compartilhar com outras pessoas e luzes coloridas.
Os banheiros são um capítulo à parte. Não tem água corrente, o vaso sanitário tem a aparência de um vaso feito de metal, mas dentro é apenas um grande buraco na neve. Para escovar os dentes, precisamos pedir água no bar. Não tem como lavar as mãos, para limpá-las eles fornecem um produto à base de álcool.
Do lado de fora da vila, ficam a jacuzzi, a sauna e o vestiário. A orientação foi para que depois da sauna já nos dirigíssemos para a cama enquanto os corpos estivessem aquecidos. O guia pediu para que marcássemos o horário que gostaríamos de ir, assim evitaríamos que todos fossem ao mesmo tempo.
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Uma caminhada congelante
O próximo tour foi pela montanha, uma caminhada com lanterna antes do jantar. Eventualmente aconteciam umas rajadas de vento e um monte de neve vinha direto no meu rosto. Tinha que cobrir rapidinho.
Foi muito bonito para ver o céu e o quão isolados estávamos, mas eu não via a hora de voltar para dentro da vila de iglus, que certamente não era quente, mas já significava um grande avanço em relação à temperatura exterior.
Basicamente, posso dizer que passei bastante frio, mas se optei por passar a noite em um iglu sabia que enfrentaria essas condições.
Atividades noturnas
A hora mais esperada chegou: O jantar. Começamos com uma entrada de presunto defumado originário do Tirol Austríaco e pão, depois uma sopa tradicional da Baviera (Pfannkuchensuppe) e por fim, fondue de queijo. As bebidas eram pagas à parte, sendo incluídos apenas chá e água.
Enquanto comíamos, conversamos com os dois casais que dividiam a mesa com a gente, um de Munique e outro de Hamburgo. Era a primeira experiencia deles em um iglu também.
Chegou a nossa vez de ir para a jacuzzi e a sauna. Talvez essa seja a parte mais surpreendente para os brasileiros. Me senti bem estranha andando na neve de havaianas, biquíni e touca. Dentro da jacuzzi é bem quente, mas como a cabeça vai ficar exposta ao ar frio, é necessário vestir touca.
Bom, sempre pode ficar mais estranho. Logo começaram a chegar os alemães usando touca também, porém sem nenhuma roupa. Como não estamos acostumados no Brasil a ficar conversando com pessoas peladas na neve, me senti um pouco desorientada, mas logo parei de pensar nisso.
Em seguida, fomos à sauna, onde encontramos mais pelados. Mas essa cultura de não usar biquíni/ sunga em saunas na Alemanha é comum, geralmente eles levam só a toalha e forram ela para sentar encima. Pelo menos sem touca, dessa vez.
Realmente, quando fomos vestir nossas roupas de frio estávamos aquecidos. O melhor a fazer era tomar um chá (pouquinho para não ter que ir ao banheiro durante a noite. Continuava paranoica com essa ideia), escovar os dentes e ir para o nosso iglu.
Chegou a hora de dormir
Quando falamos que queríamos ir, um guia foi nos levar lá com uma lanterna (fora da vila dos iglus tudo é muito escuro). Ele nos deu lanternas e números de telefones, caso tivéssemos qualquer emergência.
Partes pequenas de gelo caem constantemente do teto do iglu e as paredes também derretem um pouco porque com pessoas lá dentro aumenta a temperatura. Então me preparei para acordar com um pouco de neve encima de mim.
Para dormir, não precisa a jaqueta mais pesada porque o saco de dormir mantém a temperatura. No entanto, novamente, é muito importante usar touca, já que a cabeça fica exposta.
Acho que estava tão cansada que dormi bem rápido, mas acordei algumas vezes ouvindo um vento muito forte. Tínhamos visto na previsão do tempo que ia começar a nevar naquela noite. Senti um pouco de frio, mas não foi insuportável.
Sobrevivemos!
De manhã bem cedo, a guia nos trouxe duas xícaras de chá. Confesso que acordei meio perdida e demorou um pouco para raciocinar onde estava, mas tínhamos que nos apressar para ficarmos prontos, pois encontraríamos o restante do grupo na vila de iglus e desceríamos juntos para o restaurante onde tivemos o briefing no dia anterior.
Ao sairmos do nosso iglu, vimos que todo o barulho que ouvimos a noite resultou em muita neve. Como a visibilidade estava muito ruim, o guia nos levou ate o restaurante, onde foi encerrada oficialmente a noite no iglu, e quem quisesse poderia passar o dia na montanha esquiando.
Decidimos pegar o trem de volta a Garmisch Partenkirchen, pois não iríamos esquiar. Estávamos bem cansados, mas foi certamente uma experiência que vamos nos lembrar por toda a vida.