Poucas horas antes de escrever esse texto, entreguei minha tese de mestrado na universidade, em Munique, na Alemanha. Acredito que a ansiedade ainda vai demorar um pouco a se dissipar (até sonhei que tinha escrito o estudo à mão essa noite), mas estou confiante de que vai melhorar.
Agora queria fazer um balanço da experiência e quem sabe, ajudar pessoas que estejam buscando informações sobre mestrados por aqui. Escrevi um texto também sobre o processo de decisão e inscrição no mestrado anteriormente. Para ler clique aqui.
Cheguei na Alemanha em março do ano passado para começar o mestrado em Gerenciamento de Mídia e Comunicação. A minha turma tinha 14 alunos, seis alemães e oito vindos de diversas partes do planeta.
Tive cinco disciplinas nesse primeiro semestre, sendo uma delas um projeto prático com uma empresa. As aulas eram três vezes por semana, mas não sobrava muito tempo livre nos outros dias porque a demanda de leitura e preparação de apresentações é bem grande.
Paralelamente eu tive que fazer o pré-semestre online. A questão de equivalência de créditos é difícil porque o sistema brasileiro e o europeu são bem diferentes. Então, mesmo com o fato das nossas graduações serem mais longas do que aqui, eles ainda consideram que faltam horas de estudo para podermos ingressar no mestrado.
A universidade oferece a opção de fazer o pré-semestre online ou presencial. Só que o presencial só é disponibilizado no inverno (começando em outubro) e isso significaria seis meses a mais de curso e o pagamento de um semestre extra. Além do fato de que logo depois da mudança, eu já estaria enfrentando o rigoroso inverno alemão. A opção online, na verdade, consiste de chats (bate-papos virtuais) com os professores de cada disciplina (um chat por mês) para que eles expliquem qual será a atividade a ser entregue no final do semestre e para que tirem duvidas.
No mestrado aqui, geralmente, as pessoas são bem participativas nas aulas e gostam das discussões propostas pelos professores. Em alguns processos seletivos para emprego é necessário apresentar histórico escolar e todos realmente se preocupam bastante com as notas também.
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E falando em notas, no final de junho, chegou o temido período de exames. Na última semana de junho, tivemos que enviar online (pela plataforma da universidade) todos os papers acadêmicos que produzimos. Em seguida, foram dois exames escritos.
A última prova foi oral. Eu estava um pouco sem saber o que esperar desse modelo de prova, mas no fim, foi o que mais gostei. São dois professores fazendo perguntas, só que são mais flexíveis e você tem mais oportunidades de tentar consertar ou adicionar algo, do que em um exame escrito. Depois eles te pedem para sair porque vão discutir a nota, alguns minutos depois te chamam e já te falam o resultado. Isso é ótimo, já que para saber os outros resultados você precisa esperar um bom tempo (minha última prova foi em 11/07 e os resultados saíram apenas em 30/09). Haja coração!
O segundo semestre, foi bem parecido com o primeiro em termos de atividades. Porém, ninguém estava mais tão motivado. E o inverno chegou, deixando todo mundo bem menos feliz. Foi um período de vários conflitos entre os colegas porque ninguém estava mais tão preocupado em causar uma boa primeira impressão, então acho que foi quando todos se conheceram de verdade e puderam perceber com quem realmente tinham afinidades.
No semestre de inverno tem férias no período entre Natal e Ano Novo, mas dai já voltamos direto para as provas, em janeiro, além de ser esperado que nesse período estejamos decidindo o tópico da nossa tese e quem gostaríamos que fosse o orientador.
Terminar o segundo semestre foi ótimo porque significou também o fim das atividades do pré-semestre. No terceiro (e último) semestre, teríamos duas disciplinas e a tese. Até o fim do segundo semestre eu fiz 15 disciplinas (10 regulares e 5 do pré-semestre) e foi bem desgastante.
Essa pausa já foi focada em começar a desenvolver a tese com meu orientador. Escolhi um professor com quem me identifiquei bastante no primeiro semestre. Ele é bem alemão, quero dizer, odeia que faltem na aula dele (aqui não tem controle de presença, como chamada) ou que cheguem atrasados. E se ele gostar de você ótimo, vai ser prestativo. Mas se não gostar, sua vida pode ser um pouco complicada.
Acho que foi uma ótima escolha, principalmente quando comparo com os orientadores dos meus amigos. O meu estava sempre disponível para conversarmos e respondia meus e-mails. Nesse ponto, aqui tem uma diferença bem grande do processo no Brasil, o orientador é também examinador da sua tese. Ele é o primeiro examinador e o segundo é definido pela universidade.
Logo no começo do terceiro semestre, é necessário apresentar a proposta de pesquisa (apresentação oral e escrita) para a tese. Eu tive um encontro por mês com meu orientador, mas a maioria das pessoas teve menos. Depois da proposta, eles não leem mais nada do que você estiver produzindo, só dão orientações.
Em julho, foi a defesa oral da tese. Os dois examinadores julgam e já falam a nota e possíveis feedbacks (comentários) logo em seguida. Só que eles não leram a tese ainda nessa etapa. A parte escrita é entregue na faculdade dez dias depois da apresentação oral. Nesse momento, os professores estão lendo e no final de setembro saberemos os resultados.
O período para escrever a tese é muito curto, apenas quatro meses. Eu tive que escrever revisão bibliográfica ao mesmo tempo em que fazia análise de conteúdo. Eu acho que isso acaba comprometendo um pouco a qualidade pois não sobra tempo nenhum para revisar e aprimorar.
Com relação a algumas disciplinas eu tinha expectativas mais altas que não se concretizaram, mas uma coisa que um dos professores falou até faz sentido: ”não adianta ficarmos falando sobre coisas que terão mudado completamente em dois anos por causa da velocidade das inovações tecnológicas, o importante é fornecermos um contexto que permita a reflexão e o pensamento crítico“.
Por fim, fiquei decepcionada com a organização alemã, pois o cliché não se aplicou. Eu reclamava da minha faculdade no Brasil, mas nunca mais o farei e peço até desculpas!
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Aqui passei dois semestres sem ter acesso ao meu horário de aulas e ninguém sabia resolver, várias vezes nossa aula foi marcada em salas onde não cabiam todos os participantes, agendaram para o mesmo professor aula com dois grupos diferentes no mesmo horário, e por aí vai.
Mas, de forma geral, gostei bastante da experiência de fazer um mestrado na Alemanha porque tive a oportunidade de ampliar um pouco minhas áreas de conhecimento. Como a maioria dos jornalistas, eu não sou muito fã de exatas, mas tive que encarar estatística e contabilidade. O meu TCC na graduação foi um vídeo documentário, então uma tese acadêmica também foi novidade para mim.
O importante é pesquisar bastante sobre a universidade, o curso, as disciplinas oferecidas, fazer perguntas e tirar todas as dúvidas mesmo antes de decidir por um curso. Depois ter em mente que isso vai exigir muito trabalho e tempo e principalmente que algumas coisas não sairão como esperado, por mais que planejemos.