Pode parecer uma afirmação óbvia, de que o diálogo é uma das ferramentas mais importantes em qualquer relação, mas mesmo assim, muita gente ignora este fato.
Há casais em que ambos são do mesmo país e que falam a mesma língua, mas que têm grandes dificuldades em manter o diálogo. Então imaginem o que acontece em relacionamentos como os nossos, multiculturais, nos quais o marido nasceu e foi criado em um país diferente do da mulher e ainda por cima falam idiomas diferentes. Há casos em que mesmo com a fluência da língua certas coisas não se traduzem na hora de um diálogo, por falta de um entendimento profundo da cultura do outro. Eu aposto que todas vocês já passaram por algum momento em que queriam expressar algo mas não encontraram as palavras certas para fazê-lo. Eu ja passei por isto diversas vezes.
Estas dificuldades são muito normais, mas também muito frustrantes. E pode ser ainda pior quando o parceiro não tenta entender o seu idioma e a sua cultura. Eu me lembro de um episódio muito marcante aqui nos Estados Unidos que foi quando a Gisele Bündchen defendeu o seu marido, o Tom Brady, após a derrota dele no Superbowl, o campeonato de futebol americano. Ela foi perguntada pelos repórteres insistentemente o que ela achava da performance do marido durante o jogo e respondeu como uma boa brasileira: “meu marido não pode jogar e receber a bola ao mesmo tempo“.
Ela foi massacrada pela imprensa internacional, mas o marido a defendeu pois entende a cultura dela. Ela estava com o sangue quente e a resposta, traduzida por ela ao inglês, foi mal interpretada. Em português, a resposta fazia muito sentido. Qualquer brasileira entende perfeitamente o que ela quis dizer, mas os americanos não entenderam. Se você levar este exemplo para a vida de um casal, vai entender que muitas vezes há uma grande diferença entre o que queremos dizer e como somos interpretadas. O mesmo acontece com os maridos. Em nossos diálogos muitas vezes algo se perde na tradução e na interpretação da conversa.
Entre marido e mulher sempre existirão momentos em que irá haver algum mal-estar. Cabe a um dos dois procurar o outro para uma conversa explicando o que lhe incomoda e dar uma ideia de como resolver a situação. Utilizar esta oportunidade de transformar um desentendimento em uma oportunidade de crescimento solidifica e melhora a relação. Você deve sempre compartilhar com o seu parceiro seus projetos, opiniões e os seus sentimentos, sejam eles positivos ou negativos. Deve também ouvi-lo. Veja bem, eu disse ouvi-lo e não escutá-lo, e há uma grande diferença entre os dois, principalmente quando existe a barreira da língua.
Eu me lembro que, há 18 anos, quando eu me mudei para os Estados Unidos e não podia trabalhar, pois estava esperando a saída do meu visto, eu transformei o meu trabalho em tentar entender ao máximo a cultura e o idioma do meu marido. Eu ja tinha fluência no inglês, mas entre fluência e vivência, eu descobri que havia uma grande diferença. Eu passei grande parte do meu tempo assistindo tv, o máximo possível. Eu assistia todas as séries, noticiários, programas matinais e até os programas mais trash (lixo), que eu encontrava. Seinfeld e Friends me ensinaram muito sobre humor e situações americanas. Judge Judy me ensinou como enunciar certas palavras, os jornais me ensinaram as diferenças entre as regiões deste pais tão grande. Food Network, o canal de culinária, me ensinou muito sobre o sistema métrico daqui. HGTV, de decoração, me ajudou muito a expandir o meu vocabulário. Mas mesmo assim, havia momentos que me faltavam palavras. Também demorei um pouquinho para aprender várias gírias.
A comunicação com estranhos nem sempre era fácil. Isto ilustra as dificuldades que passamos ao nos mudarmos para outro país sem ter domínio de todas as situação. Agora imagina esta dificuldade em um momentos de discussão? Como se fazer entender quando se está com a cabeça quente e sem saber expressar exatamente como você está se sentindo? As palavras irão lhe faltar, você irá interpretar errado coisas que escuta e o mesmo vai acontecer do outro lado, com o marido. Daí surge a oportunidade de aprendermos a ouvir em vez de escutar.
Em certas discussões vocês não entendem metade do que o outro quer dizer e acabam deixando tudo por isto mesmo. Em um dos casos com os quais eu já trabalhei, durante as discussões entre este casal, o marido dizia uma coisa no idioma dele, a mulher falava em português, ninguém entendia nada. Eles achavam isto péssimo porque não conseguiam entender o que o outro queria expressar. Mesmo assim eles se não culpavam o outro. Mas quando passaram a fazer uma lista do que era importante para cada um, eles se entendiam e passaram a se sentir felizes por terem desabafado e terem sido compreendidos. Acabavam a discussão com um beijo e seguiam em frente felizes.
Eu acho isto fenomenal, porque os dois aprenderam que não precisavam vencer uma discussão. O que importa para todos os casais é expressar que não estão contentes com algo, querem que o outro reconheça o motivo do descontentamento. Esperam que o outro tome providências para que isto não mais aconteça. A união do casal é mais importante do que tudo. O amor não é e não precisa ser uma guerra. O fundamental é não transformar as discussões em brigas. É compreender o outro e seguir adiante. É não repetir ações que machuquem o outro. É também apoiar o outro em todos os momentos.
Portanto, as prioridades que eu considero em para se manter uma linha de comunicação saudável entre parceiro são:
- Saber expressar os seus sentimentos: seus desejos, alegrias, expectativas, medos e angústias;
- Não julgar o outro e pedir ao outro que não te julgue;
- Expressar para o outro os seus limites, você precisa deixar claro até que ponto está disposta a ir;
- Não menosprezar o sentimento e a necessidade do outro;
- Deixar o outro falar e ouvir atentamente o que tem para dizer sem interrompê-lo;
- Fazer esforço para que uma conversa não se transforme em uma briga;
- Buscar sempre um denominador comum, uma solução com a qual os dois se sintam confortáveis;
- Não assumir que o outro saiba o que se passa na sua cabeça. Deixe bem claro o que quer e o que sente sem criar expectativas;
- Lembrar sempre que as diferenças podem ser complementares e o alimento e combustível para o amor;
- Dar real importância ao outro valorizando e reconhecendo o seu direito de existir, pensar e agir de maneira autônoma;
- Enxergar que o relacionamento saudável com outro é uma fonte de sabedoria e crescimento;
- Ter empatia, ou seja, colocar-se no lugar do outro.
Depois de praticar todo o que eu expus acima, termine sempre fazendo-se a seguinte pergunta: O que é mais importante em uma discussão: ter razão ou ser feliz?
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Eu não entendi o que a Gisele quis dizer…