Discussões nos relacionamentos multiculturais.
Como dizia a minha avó: a intimidade é uma -erda! Quanto mais intimidade temos com as pessoas que amamos mais fácil é perdemos os limites quando brigamos. É também mais fácil magoarmos quem amamos. Agimos sem pensar e falamos o que não devíamos por conta dessa intimidade toda. Mas por causa desse convívio temos que aprender a brigar sem machucar.
Antes de mais nada, quero deixar bem claro que quando eu falo em briga, me refiro a discussões e jamais a uma briga física ou abuso psicológico. Briga que parte para um ataque físico é abuso e deve ser reportado para a polícia imediatamente. Se optar por não ir a polícia, vá a um hospital, onde irão te ajudar e dar orientações de como proceder. Aqui nos Estados Unidos, além desses recursos, você também pode procurar organizações como a Women’s in Distress ou a YWCA. Se você achar que não pode denunciar o marido/mulher, companheiro/companheira por medo de perder a guarda dos filhos pode perder este medo! Várias organizações dão auxilio jurídico a quem sofre tanto abuso físico quanto psicológico. Lembre-se: você não irá mudar o comportamento de ninguém. Em anos de prática nunca vi isso acontecer.
Mas discussões acontecem. E são muito saudáveis. Seria muito entediante estar com alguém que concorda com você o tempo todo, não é? Eu acho ótimo de vez em quando terminar uma discussão sem chegar a um acordo. Na minha casa, onde todos temos opiniões muito fortes, isso acontece com frequência. Não só comigo e com meu marido, mas com nossos filhos também. O importante é respeitar não somente a opinião do outro mas também o direito dele de ter uma opinião diferente. Terminamos algumas conversas dizendo um ao outro “Essa é a sua opinião e eu a respeito porém a minha é outra”. E fica tudo bem, afinal opiniões não são fatos.
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Discussões nos relacionamentos multiculturais
Depois de anos de estudo e observação ,eu criei uma lista para servir de base sempre que queremos manter uma discussão civilizada e vou dividi-la aqui com vocês:
Antes de mais nada: focar no problema! Defina o objeto da discórdia e fale apenas sobre ele. Isole o conteúdo para não cair em outras armadilhas. Use as palavras com muito cuidado e evite fazer acusações.
Quando a gente está com a cabeça quente podemos partir para o ataque pessoal. Evitem isso a todo custo. Não vale a pena partir para xingamentos ou ofensas. Você irá se arrepender.
Diga como o ocorrido te fez sentir. Fale: Quando você fez X eu me senti XXX. Muitas vezes a pessoa não imagina que o comportamento dela feriu o outro.
Use de empatia, ou seja, coloque-se no lugar do outro. Tente sentir o que o outro sente e tente compreender de onde estão vindo os seus sentimentos e emoções.
Esteja disposto a perdoar. Todos erramos. Se quisermos ser perdoados por nossos erros devemos estar dispostos a perdoar os erros do outro, não é verdade?
Lembre-se: palavras têm poder! Aqui nos Estados Unidos existe um ditado que diz “Sticks and stones will break my bones but words will never hurt me“, que em português seria algo como “Gravetos e pedras vão quebrar meus ossos mas palavras não irão me ferir”. Não é verdade. Palavras ferem. E muito. Tem um ensinamento da Kaballah que explica bem isso. Ele diz que se você jogar as palavras ao vento elas nunca mais irão voltar e irão afetar a reputação das pessoas.
O silêncio vale ouro! É melhor se calar do que falar algo do qual irá se arrepender.
Pense: você agiria ou falaria assim com um amigo? Se não, não o faça com o seu companheiro. Cerimônia na hora de uma discussão é fundamental.
Mantenha a educação. Não é porque vocês moram juntos que vocês tem que esquecer dela.
Se alguém estiver com os ânimos muito exaltados pare de discutir na hora! Diga que precisa de 5 minutos sozinha para organizar os pensamentos e depois volte a discutir. Continuar uma discussão com os ânimos exaltados pode levar a se falar ou fazer algo que irá criar arrependimentos futuros.
Esteja aberta a mudar de ideia. Não somos os donos da verdade e o argumento do outro pode estar correto. Tenha maturidade e humildade para dizer: “Você tem razão”. Isto é libertador!
Coloque a vida do outro em contexto. Às vezes fatores externos influenciam o nosso comportamento e agimos sem pensar e podemos ser até grosseiros com o outro quando estamos passando por situações estressantes como doença na família, problemas de trabalho, etc…
Procure o que chamam aqui de common ground, ou um ponto em comum, que leve a um acordo. Isto ajudará a encontrar uma solução que você pode propor para resolver o problema. É muito importante sugerir como você espera que esse problema seja resolvido, em vez de esperar que o outro tenha uma solução. Exemplo: Quando você ficou de papo com aquela mulher você me fez sentir rejeitada. Da próxima vez que nos encontrarmos nessa situação você deveria me apresentar e me incluir na conversa.
E mais uma vez, porque nunca é demais: foque no problema! Nada de ataques pessoais. Um exemplo que eu uso é o seguinte. O marido está bebendo demais. A mulher não aguenta mais esse comportamento. Deve-se explicar ao marido que notou que ele aumentou o consumo de álcool, que isso a faz sentir negligenciada, que esse hábito está afetando o relacionamento porque eles têm passado menos tempo juntos e que a vida sexual não é mais a mesma. Depois parar para escutar o que ele tem a dizer sobre esse problema. Sem se apressar em julgá-lo. Daí então, propor uma solução, como por exemplo sair uma vez por semana para ele beber e desabafar e nos outros dias ele evitar o álcool. Ou procurar ajuda no AA ou AlAnon. Deve-se decidir em comum acordo. Ou estabelecer o seu limite para a situação. E, seja qual for a solução encontrada, aplique-a. Não deixe de lado. Problemas se acumulam se não forem resolvidos.
Também não posso deixar de falar do meu mantra que vocês já devem ter lido em meus artigos anteriores: o que vale mais a pena: ter razão ou ser feliz?
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Como eu sempre digo, a boa comunicação é fundamental em qualquer relacionamento saudável. E o intuito de qualquer discussão deve ser encontrar a solução para um problema. Não vale a pena discutir só por discutir. Eu espero que essas ferramentas lhe ajudem a melhorar o seu relacionamento. E se vocês tiverem outras ferramentas irei adorar saber quais são.