Malta é considerado um dos países mais cristãos do mundo, com uma representação de 97% da sua população, que não apenas se diz crente a Deus, mas também seguidores dos ensinamentos católicos e frequentadores assíduos das missas e festividades religiosas. Assim, há uma grande influência religiosa no pensamento e no comportamento da população maltesa.
O catolicismo romano em Malta tem origem, segundo o livro dos Atos dos Apóstolos, em 60 d.C., quando São Paulo naufragou e chegou até à costa da ilha e promoveu a conversão de seus habitantes. A partir de então os malteses aderiram ao cristianismo e permanecem-lhe fiéis até hoje.
A Constituição maltesa estabelece o catolicismo como a religião do Estado; porém a liberdade de religião, garantida como um direito constitucional, é geralmente respeitada. Entretanto, pela proximidade com a Líbia, é cada vez mais crescente o número de islâmicos que residem na ilha.
A influência da religião cristã é tamanha que o Código Penal maltês considera crime a difamação pública ou ofensa ao catolicismo, bem como a difamação de seus crentes, padres ou objetos de adoração por meio de palavras, gestos, matéria escrita e imagens, podendo o autor ser punido com até 6 meses de prisão. O uso não autorizado de vestes ou hábitos eclesiásticos é considerado uma contravenção contra a ordem pública.
A religião é um tema central da discussão pública, especialmente quando se trata de atitudes relacionadas ao casamento, divórcio, aborto, fertilização in vitro e outras questões de moralidade. Malta foi o último país da Europa a introduzir o divórcio, sendo legalizado somente em 2011. O aborto é ilegal em qualquer circunstância; a comercialização da pílula do dia seguinte é proibida e a venda de anticoncepcionais só é permitida com prescrição médica.
As crianças têm aulas de religião nas escolas desde muito jovens e são encorajadas a se prepararem para a Santa Comunhão e a Confirmação do Batismo. Os adultos, em sua maioria, fazem parte de grupos de igrejas ou grupos de oração, participando de reuniões regulares para ler a Bíblia.
As igrejas em Malta são consideradas grandes obras de arte, tanto em termos de arquitetura, quanto por seus adornos interiores, repletos de pinturas, esculturas e artefatos de luxo.
Existem cerca de 365 igrejas nas ilhas de Malta, ou seja, é uma igreja para cada dia do ano. Cada cidade tem a sua igreja paroquial como o ponto de foco e principal fonte de orgulho cívico. Este orgulho é muito bem manifestado nas festas de comemoração ao dia da padroeira de cada paróquia, com a apresentação de bandas e cantores, procissões, fogos de artifício e inúmeras barracas com comidas, bebidas e presentes.
Malta tem uma longa história de festas religiosas que são uma parte importante da cultura maltesa. Participar de pelo menos 1 das 60 festas realizadas nas cidades de Malta e Gozo durante o verão é uma experiência cultural obrigatória.
Essas festas são celebrações religiosas organizadas pela paróquia local e são uma parte emblemática do verão. A fachada da igreja principal da cidade é coberta por centenas de lâmpadas e ao seu redor são colocados grandes totens com imagens sacras, além de espalharem bandeiras com as cores e símbolos da cidade em festa, ao redor da paróquia.
Desde que aqui cheguei, tive a oportunidade de participar de algumas, inclusive na cidade em que resido, onde em setembro fecharam as principais ruas e, por 3 dias ocorreram intensos rituais gastronômicos e de adoração a Saint Julian (nome do padroeiro da cidade). Tamanha é a importância dessas festas que os malteses não se incomodam em mudar os percursos habituais e ficar presos horas nos engarrafamentos provocados pelo desvio e fechamento das principais ruas das cidades.
A festa de Assunção de Maria, padroeira do país, realizada em 15 de agosto na cidade de Mosta, é uma das mais bonitas e importantes. A cidade estava simplesmente encantadora!
A catedral de Mosta, de estilo neoclássico e construída em meados do século 19, tem uma particularidade histórica e religiosa muito interessante. Durante a Segunda Grande Guerra, Malta foi alvo de muitos ataques por sua localização geográfica; durante um desses ataques, em que mais de 300 pessoas estavam refugiadas na igreja, uma bomba caiu em seu interior através da cúpula e, após rodopiar no chão, ela misteriosamente não explodiu. Diz a lenda que, anos mais tarde, o piloto do avião que lançou a bomba foi à igreja rezar e pediu perdão pelo erro. Esse fato foi considerado um milagre pelos cristãos e, hoje, uma réplica da bomba fica exposta na sacristia da igreja, juntamente com algumas fotos da época.
Outra festa bastante comemorada é a de Nossa Senhora das Vitórias, em 8 de setembro, feriado nacional. Esta data é muito importante para o país, pois se comemora o fim do Grande Cerco de 1565, o fim da ocupação francesa em 1800, e o fim do regime fascista na Itália em 1943. Durante este dia, várias cerimônias são realizadas, entre elas o desfile das Forças Armadas de Malta e a regata de remo, além de grande queima de fotos e, claro, muita comida.
Essa forte influência religiosa tem pontos muito controversos. Como estrangeira residindo aqui, e sem um envolvimento intenso e direto com malteses de raiz, aproveito apenas a maravilha das grandiosas festas, com um olhar apaixonado a tamanho amor e fé mas, é claro, com muito respeito à diversidade cultural.
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