Pode parecer clichê pensar que ao mudarmos de país passamos por novas experiências, pensar que muitos dos nossos hábitos mudam, tanto no sentido de o que passamos a comer ou a vestir, mas como também na forma como gastamos nosso dinheiro e as prioridades que passamos a ter.
Quando a gente muda de país, toda uma nova perspectiva de vida se abre diante de nós se nos permitimos ver.
Mas, recentemente estive pensando sobre mudanças não tão claras assim, mas que acontecem também, que são as mudanças que ocorrem nos nossos relacionamentos e na forma de nos relacionarmos. Você já parou pra pensar nisso?
Se pararmos pra pensar na forma como nos relacionamos com as pessoas que amamos depois de uma mudança de país e de cidade, é possível ver que devido a todas essas novas experiências os relacionamentos vão se transformando.
Existem aquelas situações que são mais óbvias de identificar a mudança como, por exemplo, o relacionamento com as pessoas que agora moram em um país diferente do nosso e que passamos a ver com menos frequência e, quando vemos, muitas vezes é muito mais intenso (inclusive, já escrevi um outro texto falando sobre receber a família em casa), mas que no dia a dia passamos a falar mais através de vídeo-chamadas ou mensagens de texto, o que para muitas famílias acaba sendo um debate e uma enorme fonte de stress!
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Penso que quando falamos desse assunto tão delicado, algo muito importante que precisamos fazer e até mesmo convidar nossos entes queridos a fazer, é refletir sobre como as transformações na forma de se conviver e se comunicar não precisam ser vistas necessariamente como algo ruim e que necessariamente irá nos afastar, mas que na vida tudo pode ser refletido a partir de uma questão de ponto de vista e que a distância, as frequências das visitas e a forma de se falar podem ser balanceadas a partir do ponto de vista da QUALIDADE de como nos empenhamos a fazer isso, e não através da QUANTIDADE de tempo de presença física que temos juntos uns dos outros!
Claro que não estou dizendo que a saudade não irá aparecer, muito menos que não existirão momentos em que não nos questionaremos sobre o motivo e a validade das nossas decisões, mas, lembre-se de que somos mulheres, humanas e que questionar-se faz parte do nosso ser, lembre-se também que todos os dias reafirmamos nossas escolhas e que as nossas decisões podem SIM ser repensadas. Apesar de existirem os dias mais leves e os dias mais cheios de saudades, pense que nada é ETERNO e que se um dia não fizer mais sentido estar onde você está, você tem todo o direito de refazer as malas e pensar aonde você quer ir.
Um outro relacionamento que venho refletido sobre como ele é afetado a partir de uma mudança de país é o casamento.
Pude perceber a partir do meu próprio casamento e dos relatos de pacientes e amigas que passaram pela mesma situação que, ao mudarmos de país com nosso cônjuge – que tomou essa decisão junto conosco e também tem passado pelo mesmo processo de descobertas -, muitas coisas passam a acontecer e nosso casamento se transforma, podendo ser que ele se fortaleça ou não.
Mudar de país é uma mudança que tem desdobramentos tão profundos que antes de ir muitas vezes não conseguimos mensurar o impacto que tem em nossas vidas.
Cada um vivencia essa experiência de uma forma, sendo que essas experiências despertam em nós diferentes sentimentos e memórias e consequentemente isso faz com que cada um de nós tenha uma reação diante de toda essa infinidade de coisas que passamos a ver, sentir e viver.
A dinâmica familiar muda, seja pelo ritmo de vida que é transformado por uma mudança de trabalho que pode acontecer, seja porque muitas vezes quando se muda um dos dois deixa de trabalhar, por ser impedido ou por alguma razão, como estudos, projetos ou pela opção de se dedicar à família, seja pela questão financeira que faz com que a forma de consumir seja transformada e que pode causar desentendimentos.
Também existem as infinitas burocracias e coisas a serem resolvidas em um processo de mudança que pode ser uma fonte de stress e desentendimentos muito grande, pela angústia que o desconhecido ou a confusão que esse tipo de situação pode causar. E, além disso, tem um dos tópicos que ao me ver merece atenção em dobro: a forma como passamos a conviver.
Como falei no tópico referente à família e aos amigos que passamos a nos relacionar com menos presença física diária, muitas vezes quando falamos de uma casal ou de uma família que muda de país, a mudança é justamente a oposta: o convívio se torna muito mais intenso e essa transição precisa ser vivida com muito cuidado para que os cônjuges não se sintam sufocados, não sintam que perderam um pouco da sua liberdade e autonomia e para que até mesmo não tentem transferir para a pessoa amada o desejo da companhia daqueles que estão longe, demandando dele o preenchimento de uma falta que ele não poderá suprir.
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É preciso dar uma atenção extra especial aos nossos relacionamentos quando mudamos, é preciso dedicarmos tempo ao diálogo e a entendermos um pouco mais o outro e para tentarmos enxergar as situações pela sua perspectiva para que então possamos usar as mudanças que essa nova vida ocasiona para nos conectar e não para nos afastar; também é preciso exercitar a capacidade de ouvir para que não tiremos conclusões precipitadas, pautadas nas nossas próprias emoções, sentimentos e pensamentos e para que então possamos aprender com o outro a partir do ponto de vista dele.
Nesse link, você pode ver um post sobre a importância da conversa nos relacionamentos.
E lembre-se que buscar ajuda para enfrentar todas essas mudanças, transformações para poder refletir sobre tudo isso não é sinal de fraqueza ou de incapacidade, mas sinal de força, sabedoria e autocuidado! Sou psicóloga e a mais de dois anos tenho me dedicado ao atendimento de brasileiros e brasileiras no exterior, quando nos permitimos cuidar da nossa saúde mental e entender nossas angústias, sem dúvida, a vida fica muito mais leve!
E você? Como vivenciou ou tem vivenciado todas essas mudanças? Divide comigo nos comentários!
Um ponto importante é que se você mudou de país e está casada com uma pessoa de um outro país, esse fato já traz em si uma enorme quantidade de diferenças: a começar pela língua, pela cultura, pela forma de demonstrar sentimentos, os hábitos diários. Uma infinidade de coisas que posso escrever um post sobre isso e que mesmo aqui no BPM já temos vários pontos abordando.
4 Comments
adorei, julia!
me reconheci todinha nessas mudanças!!!
ai ai ai
saudades!!!
beijos pra vc e pro lucas
Mariana
beijo querida! <3
Há quatro meses morando na Noruega , sem saber falar Inglês ou a língua local Noruegues, tenho passado por todas essas mudanças ! Estou com medo de ficar deprimida , principalmente quando o inverno chegar . Minha vida tem passado por muitas mudanças nos últimos tempos . A dois anos atrás perdi meu marido , um relacionamento de nove anos . Essa perda foi muito mas muito dolorosa pra mim , eu sinto muito por ele ter partido . Oito meses depois da morte dele , conheci meu noivo , namoramos exatos um ano a distância e em Dezembro de 2018 ele me pediu em casamento e em Abril desembarquei de mala e cuia aqui na Noruega . Estou feliz com meu relacionamento, mas a questão de não saber falar o idioma pega muito. Tempo ao tempo ! Vou fazer o curso , vou aprender e com fé em Deus irei conquistar meu espaço aqui. Obrigada pelo texto !
Oi Eloise! Obrigada por compartilhar um pouquinho da sua história comigo! Espero que o processo de adaptação por aí seja leve, e que guerreira você, que corajosa, que força para se reinventar e se permitir viver novas experiências! Estou torcendo por vc!