As angústias sobre o futuro e o agora.
Se a gente pára para pensar, lá no fundo a gente sempre soube que a vida não era controlável. Sempre soubemos que, por mais que fizéssemos planos e tivéssemos mil e um objetivos e planejamentos, as coisas nunca estiveram 100% em nossas mãos e o que de fato cabia e cabe a nós é fazer o possível frente às situações.
Mas, por mais que a gente sempre tenha sabido disso, aquela impressão de “depende da gente” sempre pairou.
As angústias sobre o futuro e o agora
Para nós, imigrantes, algo muda quando nos mudamos. A gente vê que, por mais que tenha se programado, quando a gente chega em um outro país a aventura se mostra muitas vezes como uma montanha-russa que a gente não viu o mapa com antecedência, cheia de loopings: começam a aparecer novas burocracias, situações inusitadas e por vezes nos vemos incapazes diante de coisas que jamais imaginávamos.
Mas acho que alguma coisa muitas de nós tínhamos em mente em meio a esses desafios: uma passagem para o Brasil, de tempos em tempos, para recarregar as energias, matar as saudades e rever pessoas queridas!
Conheço muitas histórias de pessoas que tinham como certo que, de seis em seis meses, ou uma vez por ano, iriam ao Brasil – e que isso jamais foi cogitado como passível de mudança, até que, então, veio a pandemia.
A pandemia trouxe muitas mudanças de planos, muitas adaptações, demandou muitos rearranjos de rotinas, planos e ideias. E as viagens não ficaram de fora. Voltar para o conhecido, para casa para alguns, ou dizendo em outras palavras: correr para alguns abraços tão, mas tão importantes, ou poder recebê-los vindo de longe.
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Voos cancelados, países fechados, impossibilidades de ir e vir, medo de se arriscar, muitas coisas para por na balança e a limitação diante de si.
Nesse período ouvi de muitas pessoas sobre a angústia de não saber quando poderiam voltar. Às vezes se tinha coragem, e não se tinham voos, às vezes se tinham voos, mas a consciência não permitia viajar. Quantas ambivalências frente a essa situação jamais imaginada.
Alguns puderam ir, conseguiram, se permitiram. Outras ainda não.
Para muitas a pandemia ainda não deu um respiro, a saudade só aumenta e aperta e, junto dela, o medo pelo reencontro incerto.
Está faltando aquele abraço, aquele afago, aquele café gostoso para recarregar as energias.
E, além do reencontro incerto… quantas outras incertezas nesse momento, não é mesmo? Junto às incertezas ainda podemos pensar em um outro ponto: o luto, os lutos, quantos abraços que, no meio disso tudo, vão ficar na memória porque não poderão mais ser materializados, mas que podem, e devem, ser recordados e revividos. O luto é poder se relacionar de novo e ainda, mas de outra forma.
E, nesse momento, haja criatividade para podermos criar outras formas de nos relacionarmos com a realidade que nos é apresentada.
Penso muito que, em um momento como esse, com tantos sentimentos pairando, tantas notícias a cada dia (e até mesmo em apenas um minuto em um acesso a internet) as incertezas se destacam e causam angústia. Para muitos frente a essa situação tudo aquilo que não tem tanta previsão e tanto controle acabam por se destacar e a questão que fica é:
Como seguir com, a partir e através de tudo isso?
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Fico pensando que, se eu pudesse refletir com vocês, eu diria para nos atentarmos à pequena frase/ reflexão: “só por hoje”. Ou, como eu brinco muitas vezes, ao “só pela próxima uma hora”, “só pelo próximos minutos”, “só por agora”.
Numa tentativa de desmembrar a vida em muitos pequenos pedaços e ir lidando com eles um de cada vez.
De maneira alguma estou dizendo para ignorarmos, não sentirmos e olharmos só para o lado positivo. Mas quem sabe, só quem sabe, uma tentativa tímida de olhar também para o lado positivo nesse momento e darmos a ele e a nós uma pequena colher de chá para que possamos aproveitá-lo e o olharmos nos olhos.
A angústia do futuro incerto por vezes é devastadora e pesada, mas, se tirarmos os olhos lá da frente e trouxermos para o agora, talvez tenhamos mais possibilidades de ação, de lidar, e até mesmo de aqui dar um jeito para ser mais leve (deu para ver o jogo de palavras? rs).
Reflexões para o agora e o futuro
Que ao mesmo tempo que a gente considera o futuro e tem respeito por ele, traçando tantos planos para que ele possa ser possível e menos assustador, que possamos olhar para o presente também e ver essa parte no todo e não sermos tomados por essa toda angústia que tantas vezes consome.
Olhar para o que ainda faz sentido na vida e permite um clarão de esperança e de alegria. Que a gente possa contornar as não-possibilidades com as alternativas – elas não são iguais, não, não são, mas que a comparação possa sair um pouco de jogo e possa entrar o reconhecimento daquilo que se tem.
Que possamos abrir caminho e reconhecimento para a possibilidade da diferença e não termos olhos apenas para a falta do ideal. E que assim a esperança possa ser alimentada apostando que dias bons e possíveis podem ser vividos como um respiro em tempos de angústia e na aposta construída de dias melhores virem também.
O que você acha disso? O que você consegue refletir hoje? Deixa aqui nos comentários o que você, como imigrante, tem aprendido a ver sem o peso da comparação. Quero ouvir vocês!