Voluntária na Copa do Mundo Feminina.
Mês passado aconteceu na França a Copa do Mundo Feminina de Futebol. Com sua primeira edição tendo sido realizada em 1999, o evento de 2019 foi o oitavo a ser organizado e, sem dúvida alguma, o que recebeu a maior atenção desde o início da competição.
Como brasileira e possivelmente brasileira pelo mundo, acredito que você viu um pouco do que foi o evento e como, este ano, nós mulheres tivemos nossa voz e direitos ditos em alto e bom som, com toda a representatividade que a competição permitiu que as atletas e até mesmo outras personalidades pusessem em pauta ao longo do evento, através de atitudes, discursos e posts. E por isso que posso dizer que ter participado dele foi algo super especial!
Eu nunca gostei muito de futebol, meu marido ainda me zoa que quando eu era mais nova eu dizia que não tinha muitas expectativas com relação a um possível futuro marido, mas que de algo eu tinha certeza: não queria ninguém fanático por futebol! Tive experiências terríveis em São Paulo com vizinhos fanáticos e acabei ficando um pouco traumatizada. Mas, como às vezes o tiro sai pela culatra, hoje sou eu que acompanho!
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Quando estava na escola, fiz volley, handebol, basquete e sempre prestei atenção em outros esportes. Quando entrei na adolescência, tive uma pequena revolta me afastando por alguns anos, mas há quase 10 anos percebi que sou movida pela endorfina e, com isso, com o passar dos anos, fui descobrindo que meu amor pelos esportes faz com que eu acompanhe o esporte pelo espírito esportivo – mesmo ainda não amando muito o futebol, mas vejo que vai muito mais para o lado da cultura, às vezes violenta e machista, do que qualquer outra coisa – e notei também que se tiverem mulheres envolvidas eu acompanharei ainda mais! Ver o que o ser humano é capaz, como é possível se superar e fazer maravilhas com o corpo realmente me encanta! Tanto que conversando com ele, cheguei à conclusão que eu me candidataria a voluntária de tênis de mesa feminino, se tivesse a competição aqui na França (risos).
Mas a minha história com as Copas começou de um jeito ainda mais particular. Quando houve a Copa do Brasil, eu estava em um período da minha vida em que vi que se conseguisse um bico remunerado durante aquele 1 mês e meio de Copa, iria me cair bem, e foi então que pensei que não seria possível que só houvesse trabalho voluntário. Comecei a procurar e encontrei uma oportunidade na empresa que na época era a responsável pela emissão dos bilhetes e fui lá trabalhar sem muita esperança de que poderia ser uma experiência tão incrível assim. Para a minha surpresa, foi uma das experiências mais legais da minha vida, pois além de trabalhar no estande de entrega de ingressos, nos dias de jogo eu ia para o estádio para ajudar os espectadores com possíveis problemas que poderiam ocorrer no decorrer da entrada devido a questões de assento e, com isso, além de trabalhar eu estive no estádio nos três jogos que aconteceram em Curitiba; ter sentido o clima da Copa foi simplesmente mágico!
E foi assim que, no final do ano passado, quando soube que a Copa do Mundo Feminina seria na França e que as semi-finais e a final seriam nada mais, nada menos, do que em Lyon, a cidade onde moro, eu falei: vou participar, com certeza! Como nesse momento da minha vida estou no consultório – e vida de autônoma não são só perrengues – pensei que organizar a minha agenda para os dias de jogos seria possível e mandei a minha inscrição meio desconfiada do que poderia acontecer.
Para a minha felicidade, recebi um e-mail convocando-me para uma entrevista em novembro – onde relatei minha experiência anterior na Copa do Brasil – e lá se passaram quase 5 meses até uma resposta, quando dos 2000 entrevistados cerca de 400 foram selecionados, entre eles: EU!
Pode parecer uma coisa não muito empolgante, afinal, quem gosta de trabalhar de graça? Mas, acho válido fazermos uma reflexão que vai muito além da Copa: a vida é e precisamos lutar para que seja algo que vá muito mais além daquilo que ganhamos financeiramente. Nossas experiências e nosso crescimento enquanto pessoas é algo que arrisco a dizer, o dinheiro e o quanto ganhamos passa longe, mas muito longe na dinâmica da importância e do valor que as coisas têm.
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Para mim, participar de um evento desse, contribuir para a experiência positiva das pessoas dentro do estádio – ajudando crianças que se perderam dos pais, falando inglês com alguém que não falava um “A” de francês, dando as boas vindas ou ajudando as pessoas a acharem o caminho para ir embora -, já vale a experiência, pois significa que estava contribuindo não só para o esporte feminino, mas para que o lugar do feminino na sociedade pudesse ter o seu destaque!
E com esse post te pergunto, qual o lugar das suas causas e desejos no seu dia a dia? Tem existido espaço para atividades que vão além do ganhar dinheiro e obrigações? Acredito que é uma reflexão válida e importante para nos fazermos todos os dias.