Não dá pra comer bem nos Estados Unidos – mito ou verdade?
Não tem como negar: a obesidade nos EUA de maneira geral é um fato muito sério e apresenta índices epidêmicos, ou seja, números alarmantes de ocorrência em todos os cantos do país.
A epidemia da obesidade, no país em geral, cresce assustadoramente: já afeta mais de 39% da população, conforme dados recentes da CDC (Center for Disease Control and Prevention).
Por conta disso, é comum que depois da mudança para os Estados Unidos (ou até antes), alguns de nós pensem que não existam comidas saudáveis ou informações adequadas, e portanto a obesidade e a percepção de que não há mesmo como comer bem nos Estados Unidos parecem ser a única realidade. Embora eu entenda esse tipo de pensamento, em minha opinião isso é uma forma distorcida de perceber a situação da alimentação no país. Existem muitas possibilidades de se ter hábitos saudáveis nos Estados Unidos.
Vale ressaltar que obesidade tem muitas causas, desde a qualidade da comida, até hábitos alimentares de maneira geral, por conta da logística de trabalho, questões culturais e também condições fisiológicas como hipotireoidismo ou situações mentais como depressão, principalmente após a saída do Brasil. E esse artigo trata apenas da distorção em pensar que não é possível manter uma alimentação saudável ao se mudar para os Estados Unidos.
Leia também: Tudo que você precisa saber para morar nos EUA
Ok, não vamos esquecer: estamos falando de um dos países com a indústria alimentícia mais poderosa do mundo – por consequência, excelentes campanhas de marketing, aliadas a informações tendenciosas acabam por motivar o público a ingerir doces com aditivos, alguns até proibidos em outros países, carboidratos, frituras, comidas processadas e assim por diante. Sem falar no uso excessivo de pesticidas e comidas feitas em grande escala, advindas de manipulação genética, que nem sempre são saudáveis.
Mas será que isso determina que você não consegue se alimentar bem nos EUA? Com certeza não. E eu falo primariamente sob a ótica da Califórnia (onde moro), onde a cultura de saúde alimentar/corporal é bastante impulsionada: desde acesso a orgânicos, comidas reguladas como não GMO (genetically modified – modificada geneticamente) até atividades físicas, etc.
Mas de uma forma ou de outra, isso também ocorre nos outros estados. Existe muita informação acessível à população vinda de profissionais da área de saúde, de organizações não governamentais, associações de saúde pública e fontes locais sobre alimentos e bem-estar, como por exemplo: American Public Health Association, EWG, Non-GMO, Food and water watch.
Existem também feiras diariamente vendendo alimentos saudáveis e frescos, sem aditivos, não apenas nas cidades pequenas como em cidades grandes como Los Angeles.
Além do mais existem mercados locais e cadeias de supermercados que vendem alimentos saudáveis aqui. Whole Foods, Trader Joe’s, Sprouts Farmers Market são exemplos disso.
– Mas os preços são diferentes, Siglia!
Embora existam diferenças por exemplo entre alimentos orgânicos e não orgânicos, essa diferença não é necessariamente sempre grande, dependendo do produto e da estação. Na minha experiência, fazer pesquisas e definir sua lista de compras e prioridades para planejar as refeições com uma certa antecedência, nos dá liberdade de escolha e facilita manter o orçamento em dia. Existe bastante informação em revistas locais e gratuitas, online, e principalmente, quando você opta por comer ingredientes locais (que são mesmo daquela região) e da estação, provavelmente pagará preços bem razoáveis (e nenhuma fortuna), principalmente se comprar nas feiras chamadas de farmer’s market.
E agora um segredo que obviamente você já se deu conta: investir na nossa saúde em termos de alimentação e atividade física, nos faz economizar a longo prazo.
Sério! Quer um exemplo?
Pense em quanto dinheiro, energia e qualidade de vida desperdiçamos ao descuidarmos da alimentação e desenvolvermos doenças relacionadas a maus hábitos alimentares, como por exemplo Diabetes 2 ou doenças cardíacas por conta do colesterol alto. O valor que gastará em remédios no futuro, vai com certeza superar o esforço de investir um pouquinho mais agora, dando ao seu corpo o melhor tipo de alimento que ele precisa.
Resumindo: embora a obesidade seja uma epidemia nos Estados Unidos, essas estatísticas são geralmente relacionadas às areas geográficas, hábitos culturais de comunidades, marketing excessivo da indústria alimentícia, despreparo na orientação vinda de alguns médicos e falta de informação correta, principalmente junto a populações de baixa renda.
Mas isso não precisa ser sua realidade. Sei que não é fácil, atire a primeira pedra quem não passou “perrengue” ao se mudar para os Estados Unidos… Mas mesmo assim, vejo que é possível comer dentro de uma qualidade razoável, mesmo no início da vida no exterior. E orçamento baixo também não é desculpa. Priorize o que é saudável, pesquise, frequente feiras locais, coma alimentos da estação, faça um mínimo de planejamento e não acredite em tudo o que escuta na mídia.
E lembre que nos Estados Unidos é fato que a indústria alimentícia não está criada para focar na saúde da população e sim na praticidade e no lucro, enquanto no campo da saúde, os médicos (de maneira geral) não tem um treinamento para levar em consideração uma análise profunda dos hábitos alimentares e tratar a pessoa de uma forma mais holística. Portanto, cabe a você se educar e cuidar da melhor maneira possível da sua saúde e de sua família, pois se não o fizer, ninguém o fará por você.
Leia também: A atual indústria de alimentos norte americana
Não se esqueça: escolher o que consome é também uma forma de autocuidado e autoestima. E disso todas nós precisamos.
Um grande abraço,
Siglia Diniz
Deixe comentários ou perguntas, fique à vontade pra me escrever aqui ou visite o meu website.