Uma das grandes surpresas que tive, vivendo na Colômbia, foi explorar Medellín. Cidade que para nós, brasileiros, ficou mais conhecida pelo cartel de Medellín e Pablo Escobar, popularizados através da série Narcos. Não esquecendo, é claro, do recente e triste acidente de avião com a equipe do Chapecoense e a carinhosa reação da população, que fez ressoar o nome da cidade pelo Brasil.
Medellín teve seu período negro, com grande influência do cartel. A cidade era perigosa e o cartel reconhecido por uso de explosivos, sequestros e assassinatos. Na época, a população sofreu com o Narcoterrorismo.
Mas, nos últimos 10 anos, Medellín vem sofrendo uma grande transformação. A cidade vem implementando uma cultura inovadora, com projetos para, realmente, transformar a vida das pessoas.
O movimento articulou acadêmicos, entidades, empresários e lideranças comunitárias em torno de um projeto de cidade. O governo passou a ter figuras como acadêmicos que investiram em educação, cultura e no desenvolvimento de espaços públicos, e as comunidades foram colocadas no papel de protagonistas.
Hoje, Medellín é reconhecida como referência de vanguarda para urbanistas, tornado-se exemplo de cidade que conseguiu dar um reviravolta e se transformar.
Foi a primeira cidade onde visitei favelas como turista. Isso mesmo, foi mais de uma, e isso não me causou, absolutamente, nenhum medo. Pelo contrário, me surpreendeu tanto que fez nascer a minha admiração pelo povo paisa, como são chamados os moradores da Antioquia, estado onde Medellín se situa. As favelas têm hospitais, escolas, bibliotecas, creches e infra-estrutura, permitindo uma melhor vida para a população.
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Alguns exemplos de projetos e pontos que merecem a visita são:
- Escadas rolantes em favelas – Proporcionando mobilidade, são vários níveis de escadas rolantes que levam as pessoas a todos os níveis da favela. Sensacional, muito moderno mesmo!
- Teleférico nas favelas – “Metrocable” – Mais um projeto de mobilidade que leva aos pontos mais distantes e de difícil acesso. Este transporte trouxe desenvolvimento econômico para a comunidade e, por estar ligado a estações de metrô, permite uma maior conexão com áreas mais desenvolvidas da cidade, trazendo acesso e renda para a população mais pobre. Simplesmente mudou toda a dinâmica da região. Um dos teleféricos leva as pessoas tão além da favela, que chega até o maravilhoso Parque Arví.
- Parque Arví – É um parque ecoturístico com a mais vasta diversidade de vegetação, parecendo uma floresta. Tem um feirinha super charmosa e gostosa com produtos da comunidade local e várias atividades, como trilhas, arvorismo, borboletário etc.
- Graffiti tour – Um projeto inovador de urbanismo na Comuna 13 (aliás, comuna, é como eles chamam as favelas), que era um dos lugares mais perigosos do passado de Medellín e foi revitalizada através do grafite. Essa iniciativa, que influenciou a transformação da paisagem, foi encabeçada por artistas da comunidade local que educam jovens nesta arte, promovendo a paz e os afastando da violência. São diversas paredes pintadas com diversas histórias e significados, muitos deles com mensagens de esperança e um futuro melhor.
- Parques Biblioteca España – Uns dos símbolos de orgulho e progresso da cidade são três belíssimos edifícios construídos em 2007, pelo arquiteto Giancarlo Mazzanti. Ficam localizados na Comuna 1 e parecem talhados na montanha, onde se situa a comunidade. Um espaço de inclusão social e convivência com acesso via Metrocable. Foi um dos primeiros Parques Biblioteca que, conectado a outros por meio digital, oferece um moderno sistema de acesso à informação para a população.
- Parque Explora – Centro de interações que contribui para a apropriação pública de conhecimento científico, tecnológico e social. Entre estas interações, encontra-se um Planetário, Aquário, Teatro e Viveiro. Ao lado, encontra-se, também, um belo Jardim Botânico.
Além destes projetos, Medellín também oferece um museu a céu aberto, com vinte e três lindas obras de Botero, sem falar do Museu da Antioquia que também traz muitas obras do artista com seus gordinhos. Botero exaltou as formas em todas as obras e não considera gordinhos os seus modelos, mas, sim, os considera a sua aposta para expressar a sensualidade da forma via volume.
Outro charme a ser explorado é o bairro El Poblado que é muito moderno e descolado. Com seus milhares de cafés (Pergamino Café, Juan Valdez, Velvet, Al Alma), bares (El Botánico, Bogota Beer Company) e restaurantes (OCI. Mde, Barcal, Carmém, Hatoviejo para comer o prato típico, bandeja paisa), um mais charmoso do que o outro. O bairro é extremamente arborizado, de tal forma que nunca vi igual, conferindo um ar de jardim ao local. Além de suas lojinhas descoladas na Vía Primavera, como a de sapatos Caduto, por exemplo.
São mil e uma programações para se surpreender com a cidade. Além de tudo o que mencionei, ainda tem o Pueblito Paisa que é a réplica de um povoado da região; alguns ótimos shoppings; o Mercado Minorista, para experimentar todas as exóticas frutas da Colômbia; e outros bairros para explorar.
O povo paisa também é um destaque, conversei com pessoas extremamente cultas e engajadas. São simpáticos, atenciosos e educados. Não é à toa que fizeram a homenagem que fizeram ao time Chapecoense. Este é um tipo de empatia e sensibilidade que não se encontra em todo lugar. Infelizmente, é um engano pensar que toda a população da Colômbia também é assim. Eles são um belo exemplo e este é, sim, um dos motivos para a cidade atingir o patamar que está atingindo.
Medellín briga com Bogotá pela posição de melhor cidade da Colômbia, e não é por menos. Definitivamente, é uma cidade que vale a pena se deixar surpreender.