Aceitação durante o aprendizado de uma nova língua.
Ah! o francês… uma língua conhecida por ser charmosa, com biquinhos e romântica! Mas que na realidade a gente se sente fazendo barulhos estranhíssimos, caras que passam longe do biquinho e nem um pouco romântica, porque existem uns sons que de fato não são nada sedutores.
Minha história com o francês talvez tenha começado antes de eu nascer, com a minha mãe e minha tia estudando desde quando eram pequenas, então, apesar de eu não ter começado enquanto criança, eu sempre ouvi alguns bonjour, algumas músicas e muitas histórias de quando elas viajaram para estudar. Porém, por conta do boom do Mercosul quando eu era pequena, ao invés de estudar francês, resolveram que eu deveria estudar espanhol!
Anos se passaram e interessada pela psicanálise e por imigrar, resolvi começar a aprender francês (nesse post eu comento sobre a minha decisão de mudar de país), porém, por mais que esses desejos fossem bem fortes dentro de mim, preciso assumir que minha relação com o francês acaba sendo um pouco de amor e ódio, pois ao mesmo tempo que ele tem muitas semelhanças com o português (sempre brinco com meus amigos que quando não sabemos uma palavra, em especial um substantivo, 90% das vezes se colocarmos um “e“ no final é bem possível que a gente consiga se fazer entender) o que facilita muito a vida, mas, por outro lado, existem infinitas regras com exceções, conjugações verbais pra lá de estranhas e escrevemos muito mais letras do que de fato falamos, o que acaba deixando a tarefa de escrever ou ler consideravelmente difícil, sobretudo no início, quando não sabemos filtrar as letras que “estão lá só pra enfeitar” (risos).
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Acho que dá pra dizer que não só com o francês, mas com qualquer outra língua que nos propusermos estudar, com o tempo, a compreensão melhora: adquirimos desenvoltura e até mesmo mais coragem para falar. No entanto, a verdade é que todo dia acabamos descobrindo algo novo, seja por um errinho que cometemos ou porque conhecemos novas palavras! E essas situações podem ser mais leves ou mais pesadas, dependendo da forma como encararmos tudo isso.
Se nos olharmos de forma negativa por termos sempre algo a aprender, com certeza será difícil nos relacionar com um nova cultura e uma nova língua. Mas, se pelo contrário, trabalharmos para nos enxergar como vitoriosas e corajosas por termos saído da nossa zona de conforto, estarmos aprendendo uma nova língua e nos desafiando todos os dias, acredito que a tendência será de nos orgulharmos de nós mesmas, na maior parte do tempo! Pense, por exemplo, em uma criança, cada conquista dela, comemoramos e a incentivamos, então por que será que não fazemos o mesmo conosco?
Nesse tempo que estou aqui, muitas conversas já apareceram sobre o aprendizado de línguas e gostaria de compartilhar com vocês dois pensamentos que independente da língua que você esteja aprendendo poderão ser úteis!
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O aprendizado é como um processo de digestão
Você já parou pra pensar que no que diz respeito à digestão do nosso corpo, não importa o quanto a gente queira apressar o processo, é impossível conseguirmos acelerá-lo? Acredito que no tocante ao aprendizado nosso corpo inteiro funciona da mesma maneira, o que você aprende será digerido pelo seu cérebro e chega uma hora que por mais resolvida que esteja a apressar o processo, as coisas não poderão ser controladas para irem mais rápido.
Digo isso não só no sentido de você se respeitar por estar aprendendo, mas também na intensidade em que se estuda. O corpo e o cérebro precisam de descanso: depois de um certo tempo de estudos, é preciso dar uma pausa para permitir que tudo seja assimilado. Então tenha paciência consigo mesma. Seja pra assimilar as coisas, seja no ritmo de estudos, confie no processo!
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Pensando em uma criança pequena novamente, ela leva em média 1 ano e meio para falar (estando 100% do tempo inserida e sem ter uma outra referência de língua anterior), e durante muitos anos após o início da fala, ela ainda estará descobrindo novas palavras, expressões e, muitas vezes, vai acabar cometendo os mesmos erros. A alfabetização só vai acontecer lá pelos 6 anos (dependendo do ensino) e isso também levará mais alguns anos para estar de fato bem assimilado. Não estou dizendo que levaremos todo esse tempo para dominar uma língua nova, mas faço essa comparação para que a gente se lembre de que é preciso ter paciência e recordarmos que estar “no caminho” não é ruim, pois o aprendizado é um processo!
Orgulhe-se do seu jeito de falar
Quando aprendemos uma nova língua é muito comum fazermos de tudo para não termos um sotaque, mas a verdade é que poucas são as pessoas que conseguem erradicá-lo completamente e não há mal nenhum em ter um jeito próprio de falar. É importante lembrar que existe uma grande diferença entre ter um sotaque e falar errado!
Na França, por exemplo, as pessoas têm sotaques muito diferentes, dependendo da região de onde vêm e isso não é um impeditivo para se comunicarem, muito pelo contrário, acaba sendo uma característica a mais da pessoa e não necessariamente algo negativo!
O jeito de falar remete à origem pessoal e, a meu ver, colocando em outras palavras, nossos sotaques significam que temos a história de pessoas corajosas que resolveram se desafiar e aprender algo novo! A grande maioria dos franceses não consegue se virar em inglês ou em qualquer outro idioma. Ou seja, se formos olhar com outros olhos, quem está em vantagem aí somos nós, que estamos nos arriscando em um novo lugar, ao invés de continuarmos estagnados.
Muitas vezes quando ouvimos alguém comentar sobre o nosso jeito de falar, temos a tendência de nos entristecer porque acabamos vendo isso como uma crítica. No entanto, apesar de não podermos mudar o jeito ou o que as pessoas irão dizer, podemos mudar a forma como vai nos impactar. Penso que quando isso acontecer, podemos aproveitar pra contar um pouco da nossa história, de como foi que você chegou onde você está, se não for o caso, acredito que podemos nos lembrar de como chegamos àquele momento e como já evoluímos nessa caminhada de conhecimento e aprimoramento de uma nova língua.
Apesar de ser difícil se lembrar todo dia de como está sendo a caminhada e poder olhar o quão longe já chegamos, acho que é possível colocar esse hábito em prática: o de reconhecer como tem sido a nossa evolução. Dessa forma, acredito que a relação com as línguas que precisamos aprender nessa vida de imigrantes pode ser mais leve!