Adoção de cachorro nos EUA.
Quando eu era criança um dos meus maiores sonhos era ter um cachorro, sempre fui apaixonada por eles. Lembro que tive alguns durante minha infância, um inclusive foi comprado em uma daquelas feiras livres de domingo. Eu tinha 9 anos quando vi aquele filhote com os irmãos dentro de uma caixa de papelão. Depois de insistir muito, meu pai cedeu e me presenteou. Me senti a criança mais feliz do mundo e o Billy se tornou meu grande companheiro e amigo. Cuidei dele com limitações porque, obviamente, dependia financeiramente da minha família. Billy viveu em um apartamento pequeno, não comeu a melhor ração, não tinha brinquedos, raramente ia ao veterinário, não foi treinado e nem socializado, ou seja, lhe faltou tudo. Anos depois, quando eu voltei para casa depois de passar um final de semana na casa das amiguinhas, descobri que meu amigo foi abandonado. A tristeza que senti naquele dia dói até hoje. A casa ficou vazia e sem graça. A separação me causou um trauma tão grande que nunca mais quis ter um animal de estimação.
Já adulta, vivendo em uma casa espaçosa com meu noivo, a ideia de ter um cachorro surgiu. Do dia em que conversamos pela primeira vez sobre ter um animal até o dia em que finalmente o adotamos, foram 9 meses. Uma gestação. Esse período foi cheio de ansiedade, especialmente porque me senti aquela menina prestes a realizar novamente o sonho de criança. Porém esses meses foram necessários para entender melhor a responsabilidade enorme que é trazer um animal para fazer parte da família. Pensei em tudo o que o Billy passou por ignorância e imaturidade minha e dos meus pais, e como não quero que isso jamais aconteça de novo pensei em fazer tudo diferente. A primeira coisa que decidimos foi adotar ao invés de comprar. E foi aí é que demos início ao processo.
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Aqui nos EUA eu, particularmente, nunca vi nenhum cachorro de rua, mas os abrigos estão cheios de animais para adoção. A Humane Society por exemplo, é uma organização que resgata animais de fábricas de filhotes, rinhas e inclusive da eutanásia coletiva que acontece em regiões como Porto Rico que depois de ser devastado pelo furacão, teve seus abrigos superlotados. Todos os animais passam por cuidados veterinários e são transferidos para os abrigos espalhados pelo país. Cada abrigo ou lar adotivo (casas que cuidam dos animais até eles serem adotados) tem seus requisitos. Normalmente o processo demora entre uma a duas semanas. O nosso foi mais longo porque fomos criteriosos em relação ao tamanho e à idade do cachorro.
Usei o site Petfinder para encontrar nosso companheiro. Esse site é como um catálogo virtual. É possível procurar animais de estimação disponíveis de acordo com a idade, sexo, raça e distância. Ao escolher, deve-se entrar em contato direto com o abrigo onde o animal está e iniciar o processo de adoção. Esse processo geralmente inclui o preenchimento de um questionário, entrevista por telefone, referências pessoais e veterinárias, visita em casa, o pagamento de uma taxa e assinatura de contrato. Parece muita coisa, mas cada etapa é essencial para que o abrigo tenha certeza de que o candidato está realmente ciente do compromisso em cuidar de um animal durante toda a vida dele sob qualquer circunstância.
Vamos aos requisitos principais, lembrando que aqui cada estado tem suas leis e funciona de um jeito. Citarei os requisitos pelos quais nós passamos.
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– Ser maior de 21 anos: os abrigos procuram um lar permanente para o animal e qualquer sinal de instabilidade é um alerta. Por isso, muitos candidatos abaixo dos 21 anos são recusados, pois esses jovens adultos geralmente ainda não têm estabilidade financeira, precisam se mudar para o campus da universidade onde estudam ou morar em repúblicas com outros estudantes e a chance de o animal ser abandonado é alta.
– Castração e vacinação: o cachorro precisa ser castrado quando atingir a idade apropriada. O abrigo exige um seguro e só devolve o valor quando receber o histórico médico do animal e tiver a confirmação de que o cachorro foi castrado além de estar com as vacinas em dia.
– Ambiente seguro e apropriado: nenhum abrigo vai ceder um cachorro caso o ambiente seja duvidoso. A visita em casa é essencial para conhecer os outros membros da família, o estilo de vida e ver se o espaço é adequado. A pergunta mais comum é se a residência é própria ou alugada. Se for alugada, eles exigem contato direto com o proprietário para ter certeza de que é permitido ter animais no ambiente.
– Comportamento: não é a maioria, mas muitos abrigos exigem que os cachorros, principalmente filhotes, passem por treinos de obediência básica. O prazo é de 60 dias a partir do dia da adoção. O candidato deve pagar um seguro e será reembolsado somente depois que apresentar o certificado de treinamento concluído.
– Finanças: É fundamental ter consciência do custo para se manter um animal de estimação. Todos os abrigos querem saber se o candidato está financeiramente preparado para arcar com alimentação, vacinas, medicamentos, cuidadores, adestramento, tratamentos de prevenção contra pulgas, etc.
– Disponibilidade: cães adultos não devem ficar mais que 8 horas sozinhos e filhotes mais que 2 horas. Todos os abrigos querem saber se o candidato dispõe de tempo para supervisionar, dar atenção e exercitar o animal. Se necessário, o abrigo vai requerer o contato de um cuidador.
– Referências: devem ser maiores de 21 anos, não podem ser membros da família ou parentes. Deve constar nome, endereço e telefone de um veterinário e talvez adestrador.
– Taxa de adoção: é isso mesmo, adotar aqui nos EUA não sai de graça. A taxa de adoção ajuda a cobrir os custos com os cuidados médicos, alimentação e transporte do animal enquanto ele aguarda a adoção. Essas taxas ajudam a cuidar dos outros animais do abrigo, que podem ter contas médicas muito altas. O dinheiro também atua como uma doação para ajudar a apoiar a organização, permitindo que os esforços para resgatar e realocar animais de estimação continuem. O valor dessa taxa varia de acordo com o abrigo.
A lista de exigências é grande. Não lembro de ter visto nada parecido no Brasil, talvez porque há diversos cães e gatos abandonados nas ruas e muitas pessoas os adotam imediatamente e nunca precisaram passar por toda essa burocracia. Como disse antes, eu mesma quando criança insisti para que meu pai comprasse, sem saber da procedência, de como os pais dos filhotes foram cuidados, enfim, sem nenhuma informação. Me apaixonei pelo Billy de cara, pagamos, o levei pra casa e o fim dele, só Deus sabe. Eu não deveria ter pedido, meu pai não deveria ter cedido, nós não deveríamos ter comprado.
Hoje, temos o Copper. Um vira-lata adotado, resgatado ainda bem filhote. E apesar de o processo de adoção ser cansativo, valeu a pena porque sei que todos esses abrigos prezam de verdade pelo bem-estar do animal. Eles não aceitam qualquer casa, qualquer dono; eles querem a casa e o dono certos. Pessoas responsáveis e conscientes, lares seguros e acolhedores.
3 Comments
Texto muito informativo! Vc sabe dizer se nos EUA seguro veterinário é obrigatório ou recomendado? E quanto é o custo normal de veterinário e vacinas na sua cidade? Pergunto pq temos nosso cachorro e, depois de uma temporada na Inglaterra, estamos de mudança pro Texas e claro que nosso cachorro continuará nos acompanhando (veio do Brasil com a gente). Aqui na Inglaterra é super recomendado um seguro veterinário para cobertura de problemas de saúde e emergências veterinárias (o custo de procedimentos aqui é extremamente alto). Mas ainda não achamos nada sobre isso aí nos EUA. Se pudesse passar dicas a respeito de custos com os dogs ai, eu ficaria muito grata!
Obrigada!
Oi Ana! Fico muito feliz em saber que seu cachorro vai continuar acompanhando vocês mesmo com a mudança de país. Como seria bom se todos tivessem a mesma atitude!
Aqui na Virgínia, o seguro veterinário e o plano de saúde não são obrigatórios porém muito recomendados.
O custo médio da consulta veterinária é de $50 e $250 para emergências. Vacinas costumam custar em torno de $14 a $40. No entanto, você pode contratar um plano de saúde para cobrir os gastos com os cuidados básicos como as vacinas, exames, prevenção de parasitas, vermifugação, castração e implantação do microchip. Geralmente, os planos custam em média $30-$50.
O seguro veterinário também custa em média de $30-$50 por mês e cobre os custos em casos de acidentes, doenças e emergências.
Alguns donos decidem contratar os dois só pra garantir a proteção total do animal. Neste caso, há desconto se ambos forem contratados pela mesma companhia.
Quando vier, não esqueça de trazer o atestado de saúde emitido pelo veterinário no prazo de 7 a 10 dias antes da viagem e o comprovante de vacinação contra raiva, que aliás é um dos requerimentos para trazer seu cão para o Texas.
Abraço!
Olá, ótimo texto!
Gostaria de agradecer e tirar algumas dúvidas!
Você saberia me dizer, se no estado de Connecticut estas são as mesmas normas para se levar e ter um cachorrinho?