É possível fazer dieta nos EUA.
Semana passada comprei uma balança. Não quis uma balança qualquer, fiz questão de adquirir uma de diagnóstico, que além de medir meu peso corporal fosse capaz de analisar percentual de gordura, porcentagem de água, IMC (Índice de Massa Corporal), etc. Eu sabia que alguma coisa estava errada. Há meses sinto cansaço, fadiga, insônia e tenho percebido que algumas roupas não me servem mais. Quando subi naquele aparelho, tive a confirmação. Estou com peso em excesso, 39% de gordura corporal e 28% de IMC. De acordo com esses números, por muito pouco não sou considerada obesa segundo a classificação de sobrepeso e obesidade feita pela Organização Mundial de Saúde (OMS). Foi então que a minha ficha caiu. A primeira providência foi consultar uma nutricionista e a segunda iniciar uma dieta.
A obesidade é um dos maiores problemas de saúde pública nos Estados Unidos. Segundo pesquisas, quase 40% da população adulta é obesa e os números não param de crescer. Virou epidemia. Agora, eu entendo o porquê. Em um ano eu engordei 10 kg e esse é justamente o mesmo período de tempo que eu moro aqui. Será coincidência?
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Seria injusto colocar toda a culpa no Tio Sam, afinal vários fatores podem ter contribuído para eu acumular tanto sobrepeso, como a idade por exemplo. Acho que para isso nem preciso pesquisar, é notório que o metabolismo fica mais lento com o passar dos anos, pois minha dificuldade para perder peso hoje é muito maior do que há poucos anos. Porém as causas principais eu atribuo sim ao novo estilo de vida que eu adotei, sem perceber, aqui na terra do fast-food.
Pra começar, lá no Brasil eu nunca dirigi. Nunca! Jamais tive carro e fui reprovada na primeira e única tentativa de passar na prova de direção do DETRAN. Poderia ter insistido, mas dirigir pra mim era uma questão de conveniência, não de necessidade. Então, simplesmente esqueci do assunto. Meu dia-a-dia era andar. Andar pra pegar ônibus, metrô, trem… Enfim, estava sempre em movimento. Já aqui, eu fui praticamente obrigada a dirigir. Na cidade onde eu morei, não tinha transporte coletivo e nem calçadas. Ou seja, dirigir foi indispensável. Com a direção eu adquiri o comodismo; aprendi que pra fazer tudo no meu dia eu precisava apenas do carro e do celular. Compras? Online. Mercado? Drive-thru. Comida? Delivery. O velho hábito de andar foi rendido pela praticidade. E o conforto com certeza, tem culpa na balança!
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Sou chocólatra assumida, sempre gostei de fast-food e do chopinho com os amigos. Se meu consumo de chocolate era alto, aqui eu me descontrolei. Cedi às inúmeras promoções e estoquei a despensa com barras, trufas e afins. O chope que eu consumia, aqui parece água. Não, não sou a melhor pessoa para falar sobre qualidade de cerveja, não sei absolutamente nada sobre isso, no entanto sei que os Estados Unidos é o segundo maior produtor de cerveja do mundo e o maior no ramo das cervejas artesanais. Foi no meio dessa vasta cultura cervejeira que também entrei, como consumidora. Logo, as calorias triplicaram.
O que fez minha taxa de gordura explodir de vez, foi com certeza, a minha fraqueza em relação ao fast-food. Essa modalidade alimentar surgida na década de 40, no sul da Califórnia, fez parte do meu cardápio semanalmente e algumas vezes, por dias seguidos. Os lanches do McDonald’s no Brasil – um dos países onde o lanche é mais caro – era quase um encontro social, aquele lugar que a gente vai depois de uma sessão de cinema ou pra agradar a criançada uma vez por ano. Aqui, eu uni gula à facilidade e me afundei. Além dos preços serem extremamente baratos, há uma franquia em cada esquina. Me tornei cliente assídua da incontável lista de lanchonetes e restaurantes fast-food. Desfrutei de todos os tipos: hambúrguer, pizza, comida mexicana, tailandesa, chinesa, sanduíches e outros. Toda essa delícia me trouxe altíssimos teores de gordura saturada, açúcar, sal e calorias. E olha que ainda nem cheguei na parte dos cupcakes, cookies e sorvetes. Esse último que pelo sabor se tornou meu segundo maior vício.
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A balança não disparou de uma dia para o outro. Foram vários meses de sedentarismo e péssimo hábito alimentar, consequência da nova rotina de vida muito diferente da qual estava acostumada. Agora meu corpo pediu pra parar. Posso responsabilizar a falta de exercícios, alimentação, mudança de país, entretanto sei que a maior responsabilidade foi minha. Eu simplesmente perdi o autocontrole e não percebi que estava passando dos limites em relação ao prato.
Ao iniciar a dieta, descobri que americano não vive só de refeições hipercalóricas e porções exageradas. Há o universo da alimentação saudável. Ao contrário da população acima do peso que ainda não se desapegou dos processados e congelados, boa parte da população já se convenceu dos riscos à saúde causados pela má alimentação – como diabetes, hipertensão, câncer, etc. – e tem tentado incluir na dieta comida fresca e sadia. Assim o aumento do consumo de produtos saudáveis aumentou e consequentemente o mercado tem produzido mais alimentos aliados da dieta. A indústria de itens orgânicos, por exemplo, não para de crescer desde 2000. Até as gigantes multinacionais já entenderam o recado e começaram a se mexer para conquistar os consumidores adeptos da boa nutrição. Mas, como sabemos, tudo tem seu preço e nem todos podem pagar pela alimentação de qualidade.
Meus hábitos mudaram, pelo menos por enquanto. O carro fica mais tempo na garagem e há dias tenho resistido às comidas práticas e gordurosas. Parece mentira, mas o efeito é quase imediato, visto que já me sinto mais disposta e saudável. Acredito que seja resultado não somente das alterações feitas na rotina, como também daquelas que fiz na mentalidade. Nada radical. Respeito meus limites e não quero me privar completamente dos prazeres que a comida (inadequada) me traz. Porém, estou decidida a dar preferência à alimentação balanceada e nutritiva. Até quando, ainda não sei. No mínimo até voltar ao meu peso ideal. Até lá, encontrarei o equilíbrio e aos poucos vou aprendendo a comer de forma consciente. Não é fácil, mas tudo é uma questão de adaptação e nisso eu sou craque!