Ano sabático: dinheiro investido, não gasto
Ao decidir fazer meu ano sabático, foi inevitável realizar um planejamento financeiro, afinal, viajar é sinônimo de gastar, e quando não se tem um trabalho que te possibilite home office, o dinheiro só vai saindo e sua viagem como um todo é impactada com esse fluxo.
Como minha viagem se trata mais de experiências locais e não exatamente de realizar típicos passeios turísticos, meus custos são menores, pois não realizo passeios pré-moldados para turistas. Além disso, geralmente fico bastante tempo nos lugares e consigo descobrir os dias com entrada grátis nas atividades da cidade e me planejar melhor.
Sendo assim, ao definir meu budget ou orçamento de viagem, orcei em torno de 20 a 25 dólares por dia, e posso garantir que na média geral – pensando que passei por países caríssimos, como Suíça ou Dinamarca, e baratíssimos, como Tailândia ou Croácia – esse orçamento está OK. Vale lembrar também que quanto mais amigos você tem espalhados pelo mundo, mais barata fica sua viagem, afinal, hospedar-se em amigos é sempre uma boa opção, pois além de você não pagar nada ainda consegue se sentir em casa por alguns momentos, falando sua própria língua e rindo de piadas que só vocês entendem.
Outra dica quanto ao uso do dinheiro é evitar comer em restaurantes, pois diferente do Brasil, restaurantes self-service não existem por aí e geralmente você tem opções à la carte, que é em alguns lugares praticamente uma loteria, pois são na maioria das vezes comidas que você não conhece a um preço padrão e não te oferecem muitas opções. Já quando você cozinha a chance de errar é bem menor, fora que dessa forma você também consegue entender o real custo de vida dos locais visitados e melhora seu repertório culinário na marra.
Quando iniciei a viagem, costumava olhar minha conta bancária com um certo ‘desespero’, afinal era dinheiro saindo e nada entrando, claramente foi um processo entender essa dinâmica. Após alguns meses, comecei a ficar mais tranquila e entendi que essa preocupação financeira era muito mais algo ‘criado’ do que uma real característica minha, pois eu me planejei para a viagem, sendo assim não tenho que me preocupar com algo que já está provisionado. Fora que também percebi que meu fluxo de gastos está totalmente nas minhas mãos, dessa forma, em caso de necessidade, eu me aperto um pouco, corto algumas despesas e tudo volta ao normal.
Essa contenção também está sempre conectada com minha escolha de próximos destinos, caso tenha gasto mais do que previ em algum local, escolho meu próximo destino baseado em valores de passagens e hospedagem, pois já entendi que alimentação e locomoção nos locais terão sempre opções variadas, que eu me adaptarei conforme minhas necessidades do momento, afinal, não dá para prever o futuro, temos que desapegar dessa ideia de controle para conseguir aproveitar com alegria um dia após o outro.
Tem locais que a possibilidade de eu retornar é pequena, Tailândia, por exemplo. Sendo assim, alguns passeios caros para visitar ilhas paradisíacas no meio do oceano eu faço questão de fazer, afinal, amo natureza e sei que esse dinheiro gasto será muito bem empregado. No entanto, baladas ou bares que custam caro para entrar eu passo, pois meu foco não é esse, fora que descobri que o tipo de festas, que como brasileiras estamos acostumadas a desfrutar, é difícil encontrar em qualquer canto do mundo. Então, mais me vale um parque incrível e grátis no meio do dia do que uma balada cara durante à noite.
Desapegar do dinheiro em si está sendo uma das melhores coisas que tenho descoberto na viagem, pois passei a perceber que ter uma vida simples (com menos coisas), é possível e está muito mais alinhada com o que eu quero para mim no futuro. Cozinhar minha própria comida, de preferência com produtos que você sabe a procedência, faz muito mais sentido do que comer em um fast food só pra matar a fome; assim como ter menos opções de roupas te dá mais conhecimento sobre o que você verdadeiramente precisa e, principalmente, do que veste melhor em seu tipo de corpo, afinal, para quê carregar cinco calças se você tem duas que realmente te caem bem?
Foi durante este processo também que consegui desapegar da minha preocupação com ‘o depois’ (no quesito profissional), afinal, me encontro em um processo de mudança tão grande que não consigo nem imaginar o que vou querer fazer quando voltar (se voltar), mas o que posso afirmar é que trabalhos em empresas convencionais, com jornadas mínimas de oito horas por dia, que somente estão alimentando um fluxo econômico completamente capitalista, desalinhadas com as preocupações sócio-ambientais, estão fora do meus planos.
Enfim, durante o meu ano sabático minha relação com o dinheiro mudou, assim como minhas perspectivas de futuro. Entrar em contato com tanta variedade de culturas e pessoas me despertou uma visão quanto às inúmeras possibilidades de estilos de vida que existem, e me trouxe uma liberdade e confiança que me dão segurança quanto ao futuro que posso almejar, para mim e para o mundo.
4 Comments
Oi Natália, adorei seu texto. Estou em um caminho parecido com o seu. Até o momento conheço 21 países. Saí do Brasil em nov/17 com meu marido e estamos rodando o mundo sem lugar fixo. A procura de um lugar bom para viver com segurança e bom custo benefício. Vivendo um pouco em cada lugar, sem ficar por conta de passeios turísticos. Indo em feiras e supermercados, cozinhando em casa, etc. Você tem algum blog ou escreve apenas aqui no Brasileiras Pelo Mundo? Abraço.
Oi Izadora, que bom que você gostou do texto! Tenho sim um site, apesar de estar em construção (https://natitamaia.wixsite.com/worldcitizen), nele você pode encontrar meu e-mail, e se quiser trocar ideia sobre alguma coisa é só me contatar, ficarei feliz em ajudar =]
Avante ! Ès muito corajosa.
Natália! Eu tentando pensar o que fazer da vida em 2019, com a ctz que será tirar um sabático e encontro seu artigo. E eis que vc é de Mirassol! 🙂 Parabéns pela iniciativa!