Cheguei na Suíça com planos de voltar. Mantive meu apartamento montado em São Paulo e trouxe três malas bem cheias para viver as quatro estações daqui . Foi duro escolher o que trazer para uma vida que desconhecia, elegi então uma mistura de um pouco de tudo que tinha e me mandei para cá.
De cara notei que aqui na Suíça ninguém se importa de estar 7 dias da semana usando o mesmo casaco, se este for confortável e quente no inverno. E quando este acaba, literalmente, é reposto e deixa o armário. Simples assim.
Os Suíços geralmente não têm uma necessidade de comprar enlouquecedoramente. Compram quando precisam, e se precisam. Se não precisam mais de algo, passam para frente. Existem milhões de instituições que recebem doações e muitas lojas de segunda mão.
Talvez pelo fato das casas serem menores, com armários mais apertados, os Suíços geralmente não acumulam. Ou talvez seja simplesmente cultural, pois valorizam mais ser que ter.
Para que acumular? O negócio é desapegar!
Minhas três malas devagar foram diminuindo. Fui me libertando de coisas que insistiam em me acompanhar. Não percebia mais o sentido em calçar salto alto tendo que descer as ladeiras de paralelepípedo de Lausanne e muito menos em usar coisas de linho quando me vi passando minhas próprias roupas.
Entrei na dança.
Quando mudei de vez, depois de três anos vivendo com três malas, voltei a São Paulo e fiz um bazar simbólico em meu apartamento, minha festa de despedida. Meus amigos escolheram lembranças minhas e eu fiquei feliz de encontrar novo donos para coisas que não mais se encaixavam na minha nova vida. Saí de São Paulo mais leve.
E percebi que quanto mais eu desapegava, naturalmente valorizar coisas pequenas, simples e que fazem toda a diferença. Aprendi o valor de carinhos e atenções não materiais, muito mais gostosos!
Impossível não curtir receber um bouquet de hortênsias colhidas diretamente do jardim de sua visita. Ou não se sensibilizar quando alguém manda pelo correio um cartão escrito a mão para agradecer pelo delicioso jantar que você fez. Delicioso chegar em casa e encontrar na porta da frente um tupperware com sua sobremesa preferida, que uma amiga fez e lembrou que você adora. E um picnic com amigos na beira do maior lago da Europa? Cada um levando o que mais gosta em um lugar lindo de morrer… simplesmente impagável!
Fui recentemente a um jantar de aniversário de 23 anos da filha de um amigo suíço alemão. Entre o prato principal e a sobremesa ela, segunda filha de quatro meninas, recebeu das irmãs um cartão e uma barra de seu chocolate preferido. E amou. Ficou aguando só de olhar para aquele chocolate, sinceramente até pequenininho, mas que foi escolhido com toda atenção do mundo pelas outras três irmãs. Depois soube que o tal chocolate além do sabor especial, era o chocolate preferido da família, difícil de ser encontrado e somente degustado em ocasiões especiais. As emoção e a história ocuparam mais espaço que o valor do presente. Bravo!
O Natal aqui é uma época especial e diferente de tudo que já vivi. No nosso bairro celebramos o mês de dezembro inteiro com os vizinhos, em uma festa bárbara que é a Festa do Advento. Nesta época o que importa é a convivência entre as pessoas, não deixando espaço para o consumismo desenfreado. Uma experiência diferente da que tinha em São Paulo.
No meu primeiro Natal com Meu Suíço decidimos que não trocaríamos presentes caros. Inventamos uma cota máxima simbólica e foi muito mais divertido perceber a criatividade do outro em encontrar algo que agradasse sem ter que se gastar uma fortuna. Ganhei um elefante pequenino que foi integrado na minha coleção mas, ainda mais importante que o presente foi o cartão lindo que recebi. Este sim valendo uma fortuna!
Morar fora é um exercício de adaptação constante. Não importa o tempo que se está longe, sempre aparece alguma coisa nova para observar, absorver, digerir e aprender. A Suíça tornou meus Natais e meus dias mais significativos. Isso sim vale a pena!
Leia algumas curiosidades sobre a Suíça!
2 Comments
É tão bom isso né! Acho que a cultura (não só) brasileira é tão consumista.. eu também to sempre aprendendo com o Sr. Meumarido holandês mais sobre a arte do desapego. Todas as datas de dar presente me deixam doida, porque nada tem menos graça para ele do que ganhar roupa. Principalmente se for cara, “porque a gente podia viajar com esse dinheiroo”! rs Mas é libertador e faz mesmo a gente se sentir mais leve! Adorei o texto 🙂
Oi Mariana,
Pelo visto você também anda ligada no desapego! É muito bom, ainda mais nesta época de Natal, reflexiva para muitos.
Que você tenha um Natal muito alegre, com o Sr. SeuMarido em algum lugar feliz pelo mundo!
Teca