Morando na Suíça me sinto no coração da Europa, próxima de tudo e de todos. Viajar daqui é uma facilidade. As principais capitais europeias estão tão perto e acessíveis que é realmente tentador viajar em um feriado ou esticar um final de semana. Duro é receber por email as promoções de voos das empresas de baixo custo e ter que resistir.
Sempre viajei muito nas minhas férias e desde que mudei para Suíça, isso não mudou. O que mudou foi meu destino. Agora férias mais longas são no Brasil, em São Paulo, para melhor especificar.
Tendo minha família e muitos amigos queridos morando no Brasil, é normal querer ir para lá sempre que tenho um tempinho. Acontece porém que minhas férias, que seriam para serem tranquilas, acabam se tornando uma maratona.
Me adaptei com muita facilidade à Suíça mas mesmo assim, sinto um prazer imenso quando experimento frutas que só são boas no nosso Brasil como manga, banana, ou mesmo maracujá. Claro que encontro tudo isso por aqui mas o gosto é simplesmente frustrante. Aprendi a esquecer destas delícias e curtir o que a Suíça tem de bom para fornecer: framboesas, morangos, pêssegos e peras. Hoje considero ir a uma feira no Brasil um luxo só.
Me gabo de nunca ter ido a uma manicure em território vermelho e branco mas é só eu aterrizar no Brasil que já corro para um salão. Claro, já vou vencida daqui. Cortar os cabelos com meu cabeleireiro de mais de meia vida e renovar as mechas em solo brasileiro literalmente não tem preço e faz parte das exigências sociais que a cidade impõe. Rever amigos e alguns familiares sem ter feito as unhas pode gerar fofocas irreparáveis.
E junto com o cabeleireiro vem o dentista, dermatologista e todos os “gistas” que a agenda permitir. Não só é mais barato se tratar no Brasil, como é também mais gostoso. A gente é atendido com sorriso no rosto, serviço de primeira executado da maneira que somos acostumados. Sim, porque o atendimento é bastante cultural.
Na Suíça o serviço é caro e impessoal. As pessoas são corretas, respeitadoras, eficientes e solícitas mas as vezes penso que falta no serviço suíço aquela rebolada a mais que só a gente sabe dar. Como são caros, nos restaurantes suíços os funcionários são poucos. Esperar um tempo para poder pedir ou ser servido é uma constante por aqui. No Brasil, mesmo quando fazem uma besteira descomunal, os garçons, algumas vezes despreparados, exibem um sorriso genuíno nos lábios. Mostram que querem acertar e oferecem flexibilidade com charme e atenção às demandas do cliente. Não tem como não notar. Impossível não gostar.
O que me deixa louca é que o trânsito e a pontualidade brasileira acabam com qualquer possibilidade de planejamento. A agenda fica pouco produtiva, cabendo poucos eventos em um dia. Nada rende. Chego no final do dia e tenho a impressão que nada fiz, quando corri o dia inteiro para não sofrer o constrangimento de chegar atrasada a um compromisso. Enlouqueço quando nem sempre meu esforço é reconhecido e levo um chá de cadeira nas salas de espera mas mesmo assim, faço minha parte. Essa parte, realmente desacostumei.
Dizem que nada faz com que a gente conheça mais do próprio país que morar fora. Claro, vivendo no exterior estamos em constante observação. Quando digo que a Suíça é limpa, estou comparando com o Brasil, meu referencial. A inflexibilidade suíça é notada por mim, jamais por um alemão.
A experiência de viajar para o Brasil dura pouco. Quando eu chego no Brasil, tenho a impressão que nunca saí de lá. Tirando o fuso horário, que demanda um esforço para ajuste quase que sobrenatural, todo o resto é facilmente resgatável. Com meus pais e irmãs, não demoro nem dois minutos para retomar a intimidade que só a convivência traz.
Gostaria de poder desbravar o Brasil como desbravei tantos outros lugares pelo mundo afinal, um país continental com tantas possibilidades e diversidades merece dedicação e atenção. Acontece que minhas idas têm ficado restritas a São Paulo, onde fui criada e vivi. Lá estão meus queridos e é para lá que acabo sempre indo.
Nas minhas idas, tenho mais e mais visto menos meus amigos. Não só minhas estadias estão mais curtas e mais frequentes, como tenho maximizado meu tempo com meus pais, de quem sinto a maior falta e percebo a privação da companhia. Meus amigos me reprimem, eu sei. É o preço de morar fora.
Minha mãe acha que eu mudo de voz quando falo inglês ou francês. Todo mundo muda, explico. São idiomas com outra musicalidade, que nos faz parecer estranhos.
Meu Suíço, quando me vê em São Paulo, diz que dirijo mais agressivamente que na pacata St-Prex. Questão de sobrevivência, alego.
Vai ver que existe uma Teca paulistana e outra Teca, a suíça. As duas Tecas são bem diferentes e saem de férias sempre separadas. O que elas têm em comum? Tiveram que aprender a apreciar o que têm.
2 Comments
Excelente Teca! Passo pelo mesmo morando aqui em Santiago! Parabéns pelo texto!
Olá Fernanda,
Muito obrigada pelo seu comentário.
Que delícia morar em Santiago! Cidade maravilhosa.
Acho que no final todas nós vivemos experiências parecidas, não é mesmo?
Abraço, Teca