Dez aprendizados fazendo trabalho voluntário na Europa.
Ano novo para mim representa renovação, esperança e oportunidade de evolução. É tempo de agradecer pela colheita do último ano e semear novos sonhos (ou cultivar os mesmos). É momento de avaliar o ciclo que encerrou e ajustar o que não está bom, o que já não faz mais sentido. É um ótimo período para centrar a energia naquilo que organicamente gera brilho nos olhos e bons frutos.
Foi numa destas viradas de ano que eu decidi sair totalmente da minha zona de conforto e largar uma sólida carreira executiva para explorar o mundo como voluntária e viver durante cinco anos à base da cooperação. Explico em detalhes esta transição aqui e aqui.
O novo sempre assusta. Temos medo de experimentar o diferente e preferimos nos acomodar no padrão que criamos para nós mesmos. Mudar não é fácil. No entanto, quando criamos coragem, descobrimos um universo cheio de oportunidades.
Como voluntária em mais de dez países, aprendi especialmente sobre o que acontece nos bastidores. Saí da posição de cliente para a de cooperadora e transformei-me em uma pessoa muito mais consciente e aberta.
Em março, completo um ano de viagem na Europa e compartilho alguns principais aprendizados que adquiri em funções e atividades totalmente diferentes do ambiente de escritório em que eu estava habituada.
Trabalhar no campo
Em Portugal, tive a minha primeira experiência em comunidades sustentáveis e também em grandes hortas (foi a primeira vez que utilizei uma enxada e o corpo sentiu). Plantei diferentes sementes, colhi batatas, morangos, alfaces, descasquei favas e retirei diversas ervas daninhas que nascem espontaneamente e, aos poucos, vão sufocando tudo que foi semeado. Recomendo a leitura deste texto onde faço um paralelo deste processo natural com as nossas vidas.
Preparar café da manhã para 650 pessoas
Na Suécia, na Conferência anual de Ecovilas da Europa, atuei na equipe do café da manhã. Um time de cinco pessoas que tinha o grande desafio de acordar às 5h30 da manhã no gélido verão sueco para preparar, na cozinha externa, um delicioso, saudável e completo café da manhã para mais de 650 pessoas. Aqui eu conto mais sobre esta valiosa experiência como voluntária e participante.
Construir utilizando recursos naturais
Na Escandinávia, pude sentir a igualdade de gênero trabalhando com duas empoderadas mulheres na construção de suas próprias casas. Como são fortes fisicamente! Foi a experiência que mais me exigiu esforço físico. Enchi e carreguei carrinho de mão completo de areia, serrei madeiras, usei a furadeira, subi no telhado (tudo também pela primeira vez). Nesta foto, por exemplo, estávamos finalizando a construção de um telhado vivo com sedum, musgos e mais algumas pequenas plantas. Compartilhei no blog todo o processo.
Pintar casas
Atuei como voluntária em duas ecovilas na Dinamarca. Na segunda, tive a oportunidade de ajudar a comunidade em diferentes atividades e a primeira delas foi pintando a casa de uma das integrantes que me hospedou. Um trabalho meditativo ao som dos passarinhos.
Trabalhar na padaria
Uma das atividades que mais gostei nesta ecovila da Dinamarca foi cooperar com a equipe da padaria inclusiva local, cuja maior parte do time é composta por pessoas com algum tipo de deficiência mental. Fiz pães integrais e cookies de chocolate.
Organizar e ser modelo na loja de produtos de segunda mão
Também organizei as roupas da loja local de produtos usados, igualmente inclusiva, e ainda fui modelo por um dia para a página oficial do Facebook.
Preparar a lenha para o inverno
Ainda na Dinamarca, estoquei a lenha comprada para aquecer o inverno de uma das famílias da comunidade. Algo totalmente novo para uma carioca que nunca precisou de lareira em casa.
Construir muros com pedras secas
Na Croácia, aprendi como fazer muros utilizando apenas pedras secas. O desafio principal desta atividade é construir uma base sólida com as maiores pedras e tentar encaixá-las como num quebra-cabeças. O esforço além de físico é também mental, uma escolha errada e o muro ou parede pode desmoronar facilmente. Também ajudei na construção de uma nova entrada para a comunidade (atividade representada na foto).
Cozinhar para participantes de eventos
Mais um trabalho nos bastidores. Dessa vez, em uma cozinha na Hungria para atender um grande grupo de Budapeste que juntou-se a nós durante uma semana para praticar o silêncio na comunidade em que eu estava hospedada.
Limpar e arrumar
Este foi um serviço no estilo camareira em um centro de unidade situado nos Alpes Suíços. Alternava minhas atividades na cozinha e na manutenção das instalações, onde eu também tinha um confortável quarto como o dos hóspedes pagantes. Recebíamos grupos fechados para seminários de yoga, dança e canto durante o charmoso inverno suíço. Fazíamos todas as refeições juntos (voluntários, integrantes da comunidade e seminaristas) e trocávamos preciosas experiências.
***
Há um ano eu não fazia ideia de que eu fosse capaz de executar tantas atividades diferentes, em ambientes e climas completamente desconhecidos, sendo treinada por pessoas de diversas culturas e idiomas. Apenas sonhava com uma mudança.
Hoje, celebro e agradeço a oportunidade de vivenciar a diversidade e aprender algo novo a cada dia. Uma verdadeira graduação na prática!
E você? Tem coragem para descobrir o que quer para a sua vida? Consegue identificar o que está vivo em você? Por que você faz o que faz? Para quem você faz o que faz?
Essas perguntas me direcionaram à nova vida que escolhi. Deixo-as para reflexão nesta época propícia. Boa descoberta e feliz ano novo!
7 Comments
Que experiencias fascinantes!
Sim, Maria. Lições para toda a vida!!! 🙂
Adorei, espero ter a oportunidade de fazer algo parecido em alguma etapa da minha vida. Parabéns!
Fico feliz em saber que você também tem interesse em experimentar o voluntariado, Luciana. Torcendo por você. 🙂
Oi Vanessa.. como faço para participar de um programa voluntário na Europa? Teria como me indicar? Att, Anna.
Oi, Anna! Existem alguns sites e aplicativos que você pode utilizar como intermediário. Como eu tenho um foco (escolas inovadoras e comunidades sustentáveis), prefiro fazer contato diretamente com as instituições. Não uso intermediários.
De qualquer forma, seguem os mais conhecidos:
WWOOF
Worldpackers
Workaway
HelpX
Kindmankind
Um abraço!
Oi Vanessa gostei muito de suas experiencias. Estou pretendendo em fazer trabalho voluntario em alguma vinicola em Portugal.
Um abraço
Marcia