Neste post vou escrever um pouco sobre a questão do Cepo (proibição) ao dólar implantado pelo governo e que arrastou a economia para a crise atual.
Em 2011 a presidente Cristina Kirchnner surpreendeu o cenário nacional e internacional ao querer modificar a forma de como os argentinos usam o dinheiro no país e obrigou a economia a usar apenas a moeda local: o peso argentino. Acontece que durante as décadas de 70 e 80 a Argentina era um país dolarizado e os argentinos se acostumaram a pensar em dólares. O mercado imobiliário funciona em dólar e os argentinos economizam em dólares. Nos supermercados podíamos pagar com pesos ou dólares. Percebeu que eu marquei bem a palavra dólar?
Então, numa bela noite (acho que foi assim, porque amanhecemos com a bomba) a presidente decidiu que a Argentina deveria utilizar a política da Venezuela e fechar o país para a moeda do capitalismo, e que todos deveríamos a partir daí a pensar em pesos, a usar pesos, a economizar em pesos, mas o mercado imobiliário continua vendendo imóveis em dólares e as empresas também precisam da moeda estrangeira para pagar as compras internacionais. Enfim, resumindo: instalou-se o caos.
Não entendeu? Vamos lá. A partir desta decisão as empresas com acordos internacionais ou multinacionais compram produtos ou matéria-prima de outros países no valor do dólar comercial, mas devem pagar em pesos argentinos e é claro que as empresas dos demais países não aceitaram isso. E para ir acabando com o uso do dólar várias medidas e entraves foram criados para dificultar o acesso dessa matéria-prima à Argentina, com o intuito de forçar a indústria nacional a produzir mais utilizando a moeda e o produto nacional como fez a Venezuela de Hugo Chavez. Porém o governo esqueceu um pequeno-grande detalhe: esse tipo de medida levou a Venezuela a uma crise econômica que só não foi pior porque aquele país tem algo que o mundo inteiro quer: petróleo; e somente por isso eles podem fazer o que quiserem por lá.
E a Argentina? Bem, a economia é agrária e pecuária. A sorte do país até agora depois desse cepo é que não houve problemas nas colheitas da soja, porque se isso acontecer, não quero nem imaginar.
Na década de 80 e 90 com o Corralito – medida do governo onde os bancos bloquearam as retiradas do dinheiro dos bancos e ainda confiscaram (roubaram) o conteúdo de muitos cofres particulares – os argentinos deixaram de confiar suas economias a eles. Então, qualquer movimento que o governo faça em relação ao dinheiro é visto com muita desconfiança. A instituição bancária é muito frágil e desde 2012 está ainda mais fragilizada. Com isso houve uma corrida para comprar dólares, pois já previam a desvalorização do peso e o governo também prevendo essa corrida criou muitas travas para esta compra e de qualquer outra moeda estrangeira de forma oficial e no início ninguém conseguia comprar dólares através da solicitação da Afip, o que fez com que as casas de câmbio ficassem às moscas e os que tinham que viajar ou economizar passaram a comprar moeda estrangeira no mercado negro e assim surgiu o Dólar Blue (ilegal, mas que todos compram).
O dólar blue fez a inflação disparar, pois como muitas coisas precisavam ser pagas em dólares tanto pessoas físicas como jurídicas passaram a comprá-los e isso fez o peso argentino desvalorizar e o valor do dólar subir e hoje a economia do país está em função deste dólar. O governo inclusive, quando percebeu que perdeu o controle da situação, elevou o valor do dólar oficial para que não ficasse tão longe do dólar Blue. Assim estamos hoje (janeiro/2015) 1 dólar pelo câmbio oficial internacional vale 5,50 pesos. Já 1 dólar pelo oficial da Argentina vale 8,65; 1 dólar blue vale 13,77. Em dezembro de 2014 chegou quase a 16 pesos, 1 euro: 19 pesos e 1 real: 6,50!! Por isso a inflação do país está a 41%. Com isso temos o dólar com um valor fora da Argentina, o dólar oficial com um valor dado e controlado pelo governo e o dólar blue que está ditando o país, afinal se para pagar um produto a empresa precisa comprar o dólar blue num valor altíssimo ele repassa este valor ao consumidor e daí a vida ficou bastante complicada.
2 Comments
obrigado pelas informações, ajudou bastante no meu TCC!
Oi Calvin,
Que bom que pudemos ajudá-lo. 😉