Viver é sempre ser surpreendido e foi exatamente isso o que senti quando recebi a mensagem da Ann me convidando para fazer parte deste projeto muito legal. Adorei a idéia do “Ponto de Encontro Virtual” como um espaço para saber mais sobre culturas e lugares desde um ponto de vista de uma mulher brasileira que decidiu seja por amor, por trabalho, por loucura, por oportunidade ou simplesmente porque se apaixonou por uma determinada cidade ou país deixar o nosso Brasil e permitir-se ser guiada pelo destino. Podermos falar em diversos posts sobre assuntos específicos como estudos, política, gastronomia, diferenças, cultura, sociedade, educação, etc a partir do nosso ponto de vista. Também é uma boa maneira de passar para outras pessoas um pouco do dia a dia da nossa nova realidade.
A Argentina entrou na minha vida pelo último motivo e como é o meu primeiro post aqui quero falar da cidade e devo começar esclarecendo que não posso dizer como é a vida na Argentina, pois eu moro em Buenos Aires e o país tem uma relação muito particular com esta cidade. Ao contrário do Brasil onde todos os Estados, suas capitais e principais cidades são importantes e reconhecidas por todos, aqui na Argentina tudo gira em torno de Buenos Aires. Há outras cidades mais importantes, mas são apenas as outras. Por isso ao falar da Argentina temos que ter este cuidado.
Buenos Aires é completamente diferente de tudo e detém todo o poder político e econômico do país. É nesta cidade onde vivem os “porteños” e é engraçado ver que qualquer argentino das outras províncias deixa bem clara sua identidade: não sou portenho! Ser portenho é carregar consigo algo negativo (pelos outros), pois são vistos como metidos, arrogantes, prepotentes e histéricos.
A população de Buenos Aires s é basicamente formada por descendentes de imigrantes europeus, sendo em sua maioria de italianos e espanhóis. É uma descendência muito recente. A grande parte são filhos e netos. E isso os fez ter uma cultura muito próxima da europeia. A arquitetura de muitos bairros da cidade é francesa. A primeira filial da famosa Harrods fora de Londres foi aqui. (Fechou e hoje é um edifício vazio utilizado pelo governo para eventos como o Mundial de Tango). É a cidade onde em várias esquinas vemos lojas Dior. Onde todos usam marcas internacionais de roupas não para aparecer, mas sim porque faz parte do seu guarda-roupa. Onde tem poucos shoppings centers e várias e lindas galerias. Onde o sorvete é feito como o artesanal gelatto italiano (confesso que eu prefiro o daqui, é muito mais consistente). Um lugar onde em todos os bairros tem pelo menos um café e um restaurante a cada duas quadras. E onde o povo gosta de falar sobre política e futebol (quer começar uma conversa por aqui? É fácil! Faça um comentário qualquer sobre a economia ou sobre futebol e terá conversa para muito e muito tempo).
A população portenha é bastante homogênea: brancos, em sua maioria de cabelos escuros e alguns com os olhos azuis mais bonitos que alguém pode encontrar. Eles são bonitos, vestem-se bem (os homens são mais vaidosos que as mulheres), são bastante efusivos como os italianos e os espanhois. E alguns traços marcantes dessas culturas estão por toda a parte: a gastronomia é basicamente italiana. O jeito de falar alto e com muitos gestos, o respeito e o apego com a família é algo muito forte por aqui. Sempre estão com a família e com muitos amigos. Mas não dão muito espaço para os estrangeiros ou desconhecidos, porém depois que fazem amizades se abrem totalmente e estão sempre presentes.
É uma cultura totalmente diferente da brasileira e da argentina também. Por isso a distância cultural entre BAs e as demais cidades do país. Gosto muito de morar aqui. Estou em BAs há 4 anos e 3 meses. Apesar de estar ao lado do Brasil e da distância do vôo ser apenas de 2h45 de Sampa e 3h do Rio a distância cultural é imensa. Cada vez mais me convenço que não temos muitas semelhanças. Tanto que muitos brasileiros não ficam aqui para morar, seja pelo clima frio, seja por causa da grande diferença cultural. Estamos acostumados com pessoas mais abertas.
A verdade é que o brasileiro é “facinho, facinho”: depois de 10 minutos de conversa já somos grandes amigos quando aqui isso não acontece. E tem também alguns hábitos culturais que provocam muitos choques. Principalmente nos relacionamentos amorosos. Não posso falar muito disso, pois nunca tive a oportunidade de estar com um argentino.
Pois é, contrariando as regras esta brasileira não saiu do Brasil, não deixou as praias do Rio de Janeiro por causa de um amor argentino. Vim porque da segunda vez que estive aqui, num feriado prolongado depois de 5 anos da primeira viagem, eu era uma pessoa mais adulta, diferente e quanto mais caminhava pela cidade mais percebi que ela combinava comigo e quando estava no avião voltando decidi que seria bom passar um tempo aqui e assim em 1 mês já tinha entregue um bom emprego, fechado o contrato do aluguel, passado um tempo com amigos e família e vim pra cá.
Cheguei no inverno, descobri o meu amor pela salsa e pela bachata. Apaixonei-me completamente pela carne e pela gastronomia italiana. Também fiz tango. Alimentei ainda mais o meu desejo por viagens, porque os argentinos como os europeus têm essa cultura de viajar arraigada. Aprendi a saber sobre o câmbio do dia em reais, dólares e euro. A conversar sobre política e economia exaustivamente. Deixei um pouco a vida de historiadora e arquivista de lado e passei a dar aulas de português e de espanhol, que é o que faço até hoje e adoro. Nunca imaginei que pudesse realizar tantas coisas como professora de idiomas, com o meu idioma. Nem em como eu passaria a ser mais tolerante com muitas coisas e menos preconceituosa em relação a tantas outras. Mas essas já são experiências e vivências para outros posts.
11 Comments
lOS hERMANOS !!!! tEM MUITA COISA COM O NOSSO POVO PRINCIPALMENTE QUE MORA EM CIDADES BRASILEIRAS QUE TEM MUITOS iTALIANOS …. bEIJOCAS !!!!
Bem vinda ao blog Ina!
Eu tenho um carinho muito grande pela Argentina e seu post me fez ter ainda mais vontade de estar aí! Ótimo texto, parabéns!
`Muito bom seu post Ina. Gosto muito da Argentina e seu texto me fez recordar momentos maravilhosos
que passei nesse país!
Parabéns! Virei fã do site
Oi Denise,
Obrigada pela bienvenida 🙂
Estou muito feliz por fazer parte deste site e juntar a minha história a histórias tão incríveis!
Bss
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Oi!
Sou estudante de história, saberia me dizer se por aí há falta de professores de história? ou geografia e filosofia que são disciplinas afim. Também posso dar aulas de português como fiz na Argentina.
Como está Santiago para essas áreas?
Vlw
Ops, copiei a mensagem inteira da pergunta que fiz no do chile rsrsrsr
Mas bom, como está Buenos Aires para aquelas áreas que falei?
Olá! Ando pesquisando sobre Buenos Aires , sobre os homens argentinos pois após uma resistência feroz , cedi aos encantos de um. Confesso que não o entendo bem.. ou não quero crer no que pressinto ..rs .. qual a cultura emocional (se é que isso existe ) desses caras ? Ora românticos , ora desinteressados … Qual a sua impressão ? Beijo
Ola Ina, tenho pesquisado sobre a Argentina e tentando comparar BA com algumas cidades do interior para futuramente morar. Existe muita diferença de custo de vida por exemplo entre BAs e Mendoza? Com uma aposentadoria de aproximadamente 8 mil convertendo em pesos é um salário razoável para viver em BAs ou Mendoza? Nas minhas buscas na internet é difícil encontrar um parâmetro.
Olá Andre,
A Ina de Oliveira parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas na Argentina que talvez possam te ajudar.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM