Na segunda-feira, 19 de janeiro de 2015, o país não acordou: foi sacudido. Não por um terremoto nem por uma bomba, mas pela notícia de que o promotor Alberto Nisman tinha sido encontrado morto, com um tiro na cabeça, dentro de seu apartamento. Para ser sincera, a mídia argentina colapsou, e o povo argentino se inflamou de indignação; o pior que pode acontecer a um mandatário de um país aconteceu: todos apontavam o dedo para o governo. “Isso é coisa de mafiosos”, “A presidente mandou matá-lo”, diziam muitas vozes nas ruas e na televisão e o caos estava instalado. Ninguém tinha respostas. O governo não se pronunciava, não se defendia e nem a oposição sabia bem o que fazer diante de tão grave situação. Vários noticiários internacionais falavam e destacavam a morte do promotor, e a crise política e econômica que o país enfrenta entrou num buraco negro.
Mas qual é exatamente o problema?
O promotor tinha feito uma denúncia direta contra a presidente Cristina K e seu governo de “decidir, negociar e organizar a imunidade dos refugiados iranianos na causa AMIA (Associação Mútua Israelita Argentina) com o propósito de fabricar a inocência do Irã”, e na segunda-feira 19/01 ele deveria, às 14h, ter se apresentado nos Tribunais levando as provas de suas acusações. Porém, foi encontrado morto. E como todos sabemos, mortos não falam.
As primeiras notícias que chegavam apontavam para um suicídio, mas isso foi rejeitado imediatamente pela mídia e pela população. Às 20h houve uma manifestação na Plaza de Mayo e em diversas províncias pelo país: todos pediam justiça.
E aí está o outro mote do problema: como esperar justiça de um governo que há 20 anos não conseguiu fechar o caso AMIA? Estamos falando de um ato terrorista que nunca foi resolvido. Provas e documentos desapareceram ao longo dos anos e foram ressuscitados mais uma vez com a morte de Nisman, justo algumas semanas depois do atentado terrorista na França.
Para quem não sabe, a Argentina, infelizmente, é o único país da América Latina a sofrer dois atentados terroristas contra a comunidade judaica em seu território. O primeiro em 1992 e o segundo e maior deles contra o edifício da AMIA, com 85 mortos, em julho de 1994.
Em um mundo que desde o 11 de Setembro declarou guerra ao terrorismo, o fato de não ter respostas ou culpados depois de tantos anos não causa uma boa imagem ao país. E a morte de um promotor que há anos está investigando o atentado aparecer morto depois de uma acusação tão grave ao governo e afirmando que tinha provas só complicou a situação da Argentina, que está numa crise econômica enorme e sem muita popularidade internacionalmente.
Até o momento a morte do promotor Nisman ainda é um mistério, pois primeiro a autópsia realizada às pressas informava suicídio. Porém, por causa da pressão sobre o caso, não poderia restar nenhuma dúvida e foi realizada uma segunda autópsia. Esta informou que houve uma terceira pessoa no apartamento e que ele não foi o autor do tiro. Na semana passada já saiu outro relatório. O que sabemos com certeza, dois meses depois, é que nem a causa da morte é conhecida.
Muitas pessoas prestaram depoimentos. Várias histórias surgiram até então, algumas inclusive tentando denegrir a imagem do promotor. Outras de que há envolvimento de espiões da polícia secreta argentina. Enfim, a própria presidente Cristina K. escreveu: “Los interrogantes que se convierten en certeza. El suicidio (que estoy convencida) no fue suicidio”, mas na mesma carta ela sugere que a morte dele foi uma conspiração contra o governo: “La verdadera operación contra el Gobierno era la muerte del Fiscal después de acusar a la Presidenta, a su Canciller(…)”, mas esta última parte, correta ou não, não foi comprada pela população e enquanto esse crime não for resolvido. O povo argentino continua apontando o dedo para o governo, que realmente não esperava esse golpe num ano eleitoral que já seria bastante complicado. A imprensa tenta de todas as formas não deixar o assunto morrer.
No dia 18 de fevereiro foi realizada a Marcha de 18F para lembrar que já fazia um mês da morte e que o país está esperando uma resposta. Todos os dias surge um novo assunto sobre o caso nos noticiários. A única certeza no momento é que a morte do promotor espalhou uma grande nuvem de suspeitas e incertezas em todos os setores da sociedade, inclusive entre os que apoiavam o atual governo, e muitos já afirmam que já definiu os rumos para outubro.
1 Comment
Oi Ina! Nem consigo imaginar a situação da Argentina nesse momento… De fato, trabalho com um argentino e pergunto a ele muitas vezes o que está acontecendo no país e ele diz que tudo é muito triste…
De fora, me lembra um pouco as épocas das ditaduras… #Medo!
Fica bem!
Um beijo!