As diferenças entre La Paz e Santa Cruz de la Sierra, na Bolívia.
Quando falo para alguém que moro na Bolívia, muitas vezes logo me perguntam como é morar na altitude. De imediato, pensam que moro em La Paz, que está a mais de 3.000 metros de altitude. Na verdade, moro em Santa Cruz de la Sierra, que está a 416 metros de altitude, ou seja, mais baixo que São Paulo (760 metros). Além da altitude, há outras diferenças entre La Paz e Santa Cruz de la Sierra.
É comum que pensem que moro na cidade mais conhecida do país – a ‘capital’ La Paz, mas tenho uma notícia: na realidade a capital da Bolívia é a cidade de Sucre! Ao contrário do que aprendemos nas aulas de Geografia, Sucre é a capital constitucional e sede do Poder Judiciário e segue nessa condição pelo lado histórico. La Paz é a sede dos Poderes Executivo e Legislativo. Por outro lado, Santa Cruz de la Sierra é o centro econômico do país.
Estive recentemente em La Paz e pude entender um pouco sobre essa cidade peculiar e a rivalidade entre os ‘cambas’, como os naturais de Santa Cruz se denominam, e os ‘paceños’, que são os nascidos em La Paz.
Santa Cruz de la Sierra: a capital econômica da Bolívia
A cidade de Santa Cruz de la Sierra é construída em anéis a partir da Plaza 24 de Septiembre, a praça principal da cidade. Com os anéis e as vias radiais, é possível orientar-se com facilidade. Muitas ruas não possuem nome, apenas números e, mesmo que se diga o nome de uma rua, é comum que ninguém saiba onde fica.
Para indicar alguma localização, as pessoas dizem que o lugar está, por exemplo, na avenida San Martin entre terceiro e quarto anillo (anel), na Calle F Este. De início parece complicado, mas depois que você entende a lógica é muito fácil se localizar. Além disso, é uma cidade plana. Não se vê montanhas, bem diferente de La Paz, com suas ladeiras e seu trânsito louco pelas ruas estreitas.
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O clima é quente e úmido e a temperatura média anual é 24°C. Em geral, faz bastante calor, mas as noites são frescas. Em algumas épocas do ano, é comum a chegada de uma frente fria vinda da Argentina, que é chamada de ‘Sur’ (Sul). Nessas ocasiões, venta muito e a temperatura cai drasticamente, podendo cair 15 graus de um dia para o outro. O frio dura dois dias e logo volta a esquentar.
É a cidade mais povoada do país, com quase dois milhões de habitantes, mas boa parte dos expatriados vive na parte norte da cidade, onde ficam alguns dos melhores bairros. Como em outras cidades pelo mundo, vivemos em uma bolha e à primeira vista a cidade nos parece pequena e temos tudo o que necessitamos perto, no máximo dez minutos de carro.
Alguns fatores explicam os motivos da maioria das empresas multinacionais estarem aqui e não em La Paz, como o clima ameno e a proximidade dos campos de produção de gás natural. Há muitas petroleiras aqui e o gasoduto Brasil-Bolívia sai da cidade de Santa Cruz de la Sierra.
Não há muitos lugares turísticos, então a maioria dos turistas usa a cidade apenas como porta de entrada no país. Essa é uma grande diferença para La Paz, onde há muitos estrangeiros, especialmente europeus. Além dos atrativos da cidade, La Paz está dentro do roteiro entre Chile-Bolívia-Peru, saindo de Santiago e subindo até Lima, passando pelo deserto do Atacama, Salar de Uyuni (maior e mais alto deserto de sal do mundo) e Machu Picchu.
A peculiar cidade de La Paz
Logo ao pousar em La Paz ou, oficialmente, Nuestra Señora de La Paz é possível começar a sentir os efeitos da altitude, como dor de cabeça, fadiga, tontura e enjoo. O aeroporto fica na cidade vizinha de El Alto e é um dos aeroportos internacionais mais altos do mundo: 4.061 metros. Existem algumas formas de aliviar os efeitos da altitude, como tomar umas pílulas específicas e beber chá de coca. É importante ressaltar que esse chá não possui efeito alucinógeno e que a folha de coca em si não é droga! Essa planta é uma tradição milenar na região andina e era considerada como sagrada pelos incas. É muito usada para amenizar os efeitos da altitude, para controlar sensações de fome e cansaço e como estimulante.
É uma cidade com um visual bem peculiar, com montanhas por todos os lados e um grande vale no meio. Há variação de cerca de mil metros entre algumas partes da cidade e os bairros mais nobres estão na parte mais baixa, a região Sul. Há um número considerável de prédios nas regiões mais modernas da cidade, o que me chamou a atenção, já que em Santa Cruz a maioria da população mora em casas.
No passado, havia uma lei na qual imóveis em construção pagavam menos impostos, assim os moradores passaram a não pintar as fachadas, indicando que a casa ainda estava em obras! Hoje essa lei não existe mais, porém a maior parte da cidade continua com os tijolos sem pintura na fachada, como uma marca cultural da cidade. Para nós brasileiros, que temos a Rocinha e outras grandes favelas, é inevitável fazer a associação!
Um meio de transporte interessante é o teleférico, que possui várias linhas e liga a cidade de El Alto à La Paz. É bastante utilizado pela população e serviu de inspiração para o teleférico do Complexo do Alemão, uma grande favela no Rio de Janeiro.
La Paz possui temperatura média anual de 11°C a parte mais central da cidade e talvez a temperatura baixa junto com o efeito da altitude determina que a população tenha características diferentes. Ainda que o corpo seja acostumado ao ar rarefeito, as pessoas falam naturalmente mais devagar e o ritmo é mais lento.
Junto com a vizinha El Alto, a região possui por volta de dois milhões de habitantes, mas tive a impressão da cidade ser bem maior, talvez pela possibilidade de ter uma visão aérea da cidade. Há muito trânsito e as pessoas caminham nas ruas, especialmente para fugir do engarrafamento. No post anterior, comentei que em Santa Cruz não há calçada nas ruas e as pessoas não andam a pé, mas em La Paz, apesar do frio e da falta de oxigênio, as pessoas caminham pelas ruas, mesmo com todas as ladeiras da cidade! Essas ladeiras e as ruas estreitas tornaram o trânsito bem mais ordenado que em Santa Cruz, onde boa parte das ruas é mão dupla.
Com todas as suas particularidades, cada cidade possui seus pontos positivos e negativos e estar com a mente aberta para novas experiências é fundamental!
8 Comments
Qual o custo de vida em Santa Cruz de La Sierra?
Há empregos?
Uma mudança definitiva do Brasil para a Bolívia é vantajosa, do ponto de vista qualidade de vida?
Muito obrigado!
Já fiz um post sobre o custo de vida, depois dê uma olhada nos outros posts publicados sobre a Bolívia!
Quanto a empregos, minha resposta é depende! Depende em quê área exatamente, quais são as qualificações, quais os objetivos, ao que a pessoa está disposta, etc. Eu vejo algumas questões limitantes para estrangeiros encontrarem empregos de alto nível. Eu, por exemplo, não me recoloquei na minha área, por diversos motivos. Por outro lado, é possível trabalhar de diferentes formas e até mesmo abrir um negócio, há muito espaço para isso.
Em termos de qualidade de vida, sem dúvidas!!! Considero que a qualidade de vida que temos aqui é única e, como digo para o meu marido, prefiro morar aqui do que voltar para o Rio no momento! É uma vida muito mais tranquila e com segurança pública!
Qual o custo de vida em Santa Cruz de La Sierra?
Oi, Bruno! Escrevi sobre o custo de vida nesse post: https://brasileiraspelomundo.com/custo-de-vida-na-bolivia-2904106706
Qualquer dúvida, comenta por lá!
OI Letícia querida, muito prazer! Meu nome é Carolina e tenho uma produtora de áudio em Porto Alegre, no Rio Grande do Sul. Recebi um pedido de orçamento que, se aprovado, me fará mudar pra Bolívia de abril a julho e, num segundo momento, de julho a outubro. Gostei muito do teu texto, de ti, e queria muito a tua ajuda sobre a questão de escolas em Santa Cruz; tenho uma filha de 8 anos que cursa o 3 ano aqui e não consigo me imaginar passando esse tempo aí sem levá-la, somos só eu e ela em casa e muito apegadas- embora minha familia materna seja imensa- só de irmãos, sao 4! Tens algo a mais que possas me ajudar? Existe alguma escola que lecione em português? Ela não fala espanhol, embora tenha um ouvido quase absoluto e cante todas as músicas da Violeta- ha ha ha- com perfeição. Meu e-mail é: carol@graviola.art.br se puderes e/ou quiseres me responder. E se ficarmos amigas- olha a chantagem- te levo uns magnéticos lindos da minha cidade! Ha ha ha. Um beijo no corção e boa sorte pra nós. Carol
Oi, Carolina!!
Adorei essa proposta dos magnéticos! Hahaha
Acho que não há nenhuma escola que lecione em português não…
Vou te escrever por email!
Bjs!
Leticia, boa tarde.
Tudo bem?
Também estou na mesma condições quanto a filhos e escolas que a Carol esta passando. Poderia me dar sua opinião.
carolynealtemari@gmail.com
Oi, Carolyne!
Essa questão de escolas é bem ampla, vou te escrever um email para tentar ajudar na sua situação!