Um dos primeiros obstáculos enfrentados na mudança para o exterior é o choque cultural. Ele acontece quando percebemos que as coisas no novo país são diferentes de como eram no Brasil. Comportamentos, hábitos e regras sociais desconhecidos podem nos pregar peças. Muitas vezes a gente não se dá conta das diferenças e tenta, instintivamente, fazer como fazia no Brasil – e aí, mete os pés pelas mãos. Que atire a primeira pedra quem nunca passou por situações engraçadas ou constrangedoras na adaptação a um novo país!
Conversamos com as colunistas e pedimos pra elas contarem suas histórias. Leia o que aconteceu com algumas das nossas Brasileiras Pelo Mundo:
Maila-Kaarina, Finlândia – “Quem pensa que o maior problema da língua finlandesa são as palavras longas e os milhares de ”Ps” e ”Ts” que compõem uma simples palavrinha está muito enganado. Há palavras parecidíssimas com significados totalmente diferentes; há 15 (sim, 15!) declinações ou casos que transformam uma palavra a ponto de deixá-la irreconhecível. A lógica da língua é tão diferente que nas conjugações verbais, no negativo, o que conjuga em relação ao pronome não é o verbo, mas a palavra “não”. Então tá, estou eu no bar, recém chegada, querendo mostrar o que aprendi em tão pouco tempo. Orgulhosa de mim como só, lá vou eu pedir um drink. A moça do bar esqueceu o canudo. Eu peço pelo canudo e, para praticar ainda mais lindamente, falo a cor (há várias opções de cores). Era para eu pedir um “punainen pilli” (canudo vermelho), mas eu pedi um “punainen pillu”. Pense numa maneira bem chula de se referir à genitália feminina. Pois é…”
Bruna, Itália – “Fui à casa da minha sogra e, pra fazer uma gentileza, me ofereci para arrumar as camas e trocar os lençóis. Eu virei os colchões pra darem uma respirada, só que eu não sabia que, por lá, o colchão tem o lado para o inverno e para o verão e deixei todos os colchões com o lado inverno para cima em pleno mês de agosto, alto verão europeu. A conclusão? Todo mundo suando que nem louco por duas noites, sem saber por quê!”
Thais, Espanha – “Cheguei no Mc Donalds daqui achando que era igual em todos os lugares do mundo e fui logo pedindo um Cheddar Mc Melt com milk shake e um Mc Mix de sobremesa. Só que nenhum desses itens existe no cardápio do restaurante espanhol e a atendente ficou me olhando com aquela cara de quem não sabe o que fazer…”
Tati, Espanha – “Então, entro no bazar de chineses perto da minha escola. Sempre que preciso de material escolar, passo lá e a filha do dono é uma daquelas chinesinhas bonecas que a gente tem vontade de trazer para casa. E ela sabe onde está tudo! Enfim, palavras como “lapiseira”, “grafite” e “bloco de notas” são palavras que nunca existiram no meu vocabulário espanhol porque nunca precisei até há três semanas. Então, entro e peço a “recarga” da minha “caneta automática” e mostrei a lapiseira. Ela foi gentil e me mostrou o grafite, ao mesmo tempo que me falou que eram “minas”. Continuamos conversando e, por algum motivo, chamei a lapiseira. Ela me disse que era um “portaminas” (faz sentido). Então ela sorriu e disse “você não conhece muito as palavras, né?””
Michele, Egito – “Alguns movimentos para nós são tão banais e corriqueiros que nunca imaginei que pudessem ser problema em lugar algum. Sendo assim, choquei geral no Egito e causei brigas enormes com meu esposo por fazer o seguinte em público: amarrar o cabelo, amarrar os cadarços, tirar a blusa de frio e dar aquela puxadinha para cima na calça, que inevitavelmente vem acompanhada de uma reboladinha. Acontece que tudo isso no Egito é considerado muito indecente – é como se você estivesse se oferecendo para os homens. Quando amarra o cabelo, os seios empinam e eles entendem que você está os oferecendo, e por aí vai. O problema é que até hoje, mesmo sabendo de tudo isso, às vezes faço sem perceber e começa a briga toda de novo.”
Thais, Qatar – “Meu nome era gafe quando cheguei ao Qatar! Escorreguei várias vezes no quesito comportamento social: abracei quem não devia, beijei demais, encostei no ombro de um policial e quase fui presa. Mas isso não foi nada perto das falhas no inglês. No hotel, em vez de pedir toalha (towels), pedi ferramentas (tools) e, ao encontrar uma conhecida, disse que estava molhada (wet também significa sexualmente excitada) quando queria dizer que estava suada. Hoje, quase três anos depois, ainda cometo gafes aqui e ali. Mas o que não é a vida senão um eterno jogo de erros e acertos? O importante é rir e aprender para poder passar conhecimento adiante.”
Christine, China – “Tivemos uma passagem bem interessante em Chang Chun: depois de um jantar, onde se fizeram muitos “gambeis”, o brinde daqui, na hora de nos despedirmos o Mário, meu marido, deu um beijo automaticamente na esposa do chinês que trabalhava com ele. Mas a coisa foi tão natural para nós que nem percebemos. No dia seguinte o homem virou a cara para o Mário na empresa e não falou comigo, apesar de ter me convidado para almoçar com eles. Na hora do almoço, sentou no outro extremo do refeitório. Não entendemos nada, mas chinês é chinês, deixa para lá. Voltei para o Brasil e a situação continuou delicada para o Mário, que não conseguia entender o porquê dessa atitude do Mister Zhu. O pior era que o cara representava a parte chinesa da sociedade e o Mário tinha que negociar com ele diariamente. Um dia ele chamou a tradutora e perguntou para ela o que estava acontecendo, que ele não entendia a razão das atitudes do Mr. Zhu. Imagina a cara do Mário (e depois a minha) escutando da moça que o “Mister Zhu estava indignado e extremamente ofendido por causa do beijo no rosto da sua esposa, naquele jantar quando a Christine estava aqui, há 3 meses atrás, que isso era inaceitável etc, etc, etc”. Para começar que o coitado nem lembrava que havia feito isso. Aí o Mário teve que explicar que é uma prática comum na nossa cultura, que não há maldade nem segundas intenções e muito menos falta de respeito contra o marido em questão. Isso não justificava, mas ele pelo menos gostaria de explicar. Lembrem-se que em Chang Chun quase não há estrangeiros e somos vistos meio que como ETs. Depois disso as coisas melhoram um pouco. Uns 4 meses depois, quando voltei à China, estávamos sentados no lobby do hotel após o jantar, só que dessa vez o Mister Zhu era o único chinês, e resolvi subir mais cedo. Dei boa noite a todos e, claro, nossos tradicionais beijinhos de despedida – havia mais dois americanos e dois brasileiros. Aí o Mário mostrou para ele como era nosso hábito e falou que ele também poderia me dar um beijo no rosto, sem problemas. O homem ficou roxo e começou a rir, mas que deu o beijo, isso deu!”
Ann, Inglaterra – “3 de agosto de 1996, cheguei em Londres com o meu inglês aprendido na escola. Sabia falar, entendia apenas 5% porque o inglês britânico nada tem a ver com o americano que aprendemos no Brasil, e fui ligar para a operadora (naquela época ainda não tinha o tio Google para nos ajudar rs) para saber algumas informações. O inglês da senhora, lindo que era, pelo telefone não me permitia entender muito o que ela falava. Ela dizia algo e eu: “what?”, repetia e eu “what?” até que a senhora, claro, farta de tanta falta de educação me responde: “Stop saying what, it is Pardon Me. You are very rude” (não se fala o quê e sim, desculpe!), e pumba- bateu o telefone na minha cara. A partir daquele dia, descobri que “Pardon Me” era a palavra adequada para ser usada e nunca passei outra vergonha como essa. Claro que tiveram muitas outras, mas fica para outro dia rsrs.”
E você, tem experiências desse tipo da sua vida no exterior? Conte pra nós nos comentários!
5 Comments
oi Cris,
quer mais uma? passando pela porta de amigos (ele belga, ela francesa) insisti com meu marido que seria horrivel não tocar e dizer um oi. Ele se mostrou relutante, tentando me dissuadir… argumentei que eles ficariam sentidos se não o fizessemos e ele não teve como evitar. Resultado? eles vieram à porta muito surpresos, comentaram que estavam super ocupados e…bye bye.
quase morri de vergonha. Foi assim que aprendi que visita-surpresa não é visita, mas invasão MESMO se a amizade é sólida e antiga. Dura lição!
Hehehe, obrigada por comentar!
Thais, eu também já cometi a gafe de falar que estava ‘completely wet’ quando cheguei na escola do meu filho na Irlanda completamente molhada de chuva (soaked), e numa outra ocasião eu me confundi e falei que estava ‘completely soapy’ (ensaboada). Agora eu definitivamente aprendi !
Tá aí…eu acho que existe mais uma diferença entre brasileiros e estrangeiros. Quando um estrangeiro comete uma gafe aqui, rimos e ensinamos o correto. Lá fora parece que cometemos um “crime” e ninguém explica que “crime” foi esse.
Eu estava estudando inglês no Canadá.
Numa festa de intercambistas me pediram para colocar um vídeo de samba.
O vídeo claro, apareceu mulheres ao estilo carnaval e um amigo árabe pediu para tirar o vídeo. Achei que ele estava sendo rude, depois que o download completou na minha cabeça, entendi a situação.
Bom…para descontrair um pouco aqui nos comentários.
Um dia fui ao parque com outros intercambistas. Eu disse: Today is very warm.
O problema que confundi e pronunciei a palavra arm e repetia o erro. Minhas colegas (mexicana, coreana, japonesa, tailandesa) davam risadas.
Recém-chegada na Argentina, depois de uma temporada no México e me achando super dominadora das gírias em espanhol, solto em uma conversa com uma senhora, em esse momento não muito íntima, que uma pessoa X era muito “conchuda”, expressão mexicana que equivale a folgado. Acontece que “concha” na Argentina é o órgão genital feminino…