As redes sociais e a vida no exterior.
Tenho que começar este texto dizendo que eu, como a maioria das pessoas, tenho muitas críticas ao mundo virtual e redes sociais pelas influências e problemas que eles trazem, principalmente às nossas crianças e jovens. Mas, para quem mora no exterior, essas são ferramentas quase de sobrevivência.
Quando saí do Brasil, em 2011, minha filha caçula tinha 2 anos. Depois de alguns meses conversando com a família pelo Skype, ela disse que sentia muita saudade da avó que morava no computador. É claro que achamos fofo e engraçadinho mas, infelizmente isso definia bem a nossa vida. E hoje carregamos todas as pessoas que amamos dentro do nosso celular.
Ao chegar a um novo país, você encontra facilmente no Facebook grupos que serão cruciais e te ajudarão com várias dúvidas e problemas inevitáveis. É impressionante e reconfortante saber que, há brasileiros por toda a parte e que sempre tem alguém que faz pão de queijo e sabe onde encontrar Guaraná ou outros produtos da nossa terrinha, mas meu conselho é buscar também os grupos de estrangeiros morando no país, pois eles têm questões iguais às suas e poderão ampliar suas perspectivas. Grupos de mães, esportes, cursos e work-shops (oficinas), passeios turísticos, artes e literatura ou de apoio em geral vão te ajudar com dicas desde o bairro mais legal para morar, melhores escolas para as crianças e o sistema médico até locais para compras ou regras de etiqueta e costumes da nova cultura. E, o mais importante é que serão opiniões de pessoas que estão na mesma situação que você, o que é muito diferente de pedir ajuda a uma pessoa local, com vivências e expectativas completamente diferentes.
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Aqui na Holanda estou em vários grupos, que me ajudam quase todos os dias: Brasileiros na Holanda, Expats moms in Holland, Expats in The Hague, Brasileiros em Haia, The Hague International Network, Den Haag Mamas, Grávidas e Mamães na Holanda e muitos outros. Existem grupos assim para cada cidade e para o país em geral, tanto de brasileiros quanto de estrangeiros que vivem aqui. Alguns são grupos abertos, onde qualquer pessoa pode participar, outros são fechados e você precisa ou ser convidado por alguém ou responder algumas perguntas para provar que se adequa ao perfil do grupo.
Os grupos de WhatsApp, que muitas vezes são irritantes (sim, seu celular vai apitar sem parar, com um milhão de mulheres trocando mensagens de bom dia com gatinhos e corações), também podem ser muito úteis para esclarecer dúvidas rapidamente e principalmente para ampliar sua rede de amizades. Minha sugestão é que você aceite e participe de todos e com o tempo vá se retirando daqueles que não gostar. Nestes grupos você encontrará não só respostas e ajuda, mas companheiras para atividades e poderá até fazer grandes amigas.
Além disso a Holanda é o país dos aplicativos, ninguém sai de casa sem checar se o bonde está no horário, como está o vento ou a que horas vai chover. Eu, claro, tenho todos no celular e uso todo dia, principalmente o de transporte publico e os de tradução (se tem uma coisa que eu admiro e respeito é quem morou na Holanda antes do Google Tradutor, assim como quem morou na Cidade do México antes do Waze!).
Neste link tem ótimas dicas sobre isso: Aplicativos na Holanda
É indiscutível que toda essa tecnologia facilita muito a vida, mas para mim, o maior beneficio das redes sociais é a possibilidade de continuar participando do dia a dia da família e amigos no Brasil e nos outros países que já deixei para trás.
Quando eu tinha 19 anos passei um ano em Londres, trabalhando (ilegalmente, mas com muito orgulho) como faxineira e garçonete para juntar dinheiro e viajar pela Europa. Na época os telefonemas custavam uma fortuna e por isso eram raros e duravam segundos. Toda a comunicação era feita através de cartas, que levavam, no mínimo, duas semanas para chegar ao Brasil. Contando outras duas semanas para receber a resposta, cada assunto levava um mês para ser finalizado. Quando penso nesta forma de correspondência ou releio algumas cartas (meu pai guardou todas as dele) vejo que na verdade o que trocávamos eram os detalhes simples dos nossos dias. Uma visita a um museu, um passeio no parque ou um dia de neve eram assuntos para várias páginas. Pequenas coisas ou cenas cotidianas que, quando você está longe, te transportam e te reconectam com seu mundo, trazendo um monte de lembranças e saudade, como sentir o cheiro da macarronada da minha avó, ouvir uma musica da minha infância ou ver um pai ensinando a filha a andar de bicicleta. Me lembro de uma carta linda da minha mãe me descrevendo o por do sol no obelisco em São Paulo que ela assistiu parada no trânsito. Hoje, tudo isso seria compartilhado através de posts no Facebook ou fotos no Instagram e agora, 30 anos depois, estando outra vez longe dos amigos e da família compreendo que, o que nos mantém unidos (e que faz mais falta) é exatamente dividir as coisas simples do dia a dia.
É claro que não precisamos saber o que se come em cada refeição e enfrentar posts que vão desde biquinhos forçados a fervorosas discussões politicas é uma tarefa delicada. Mas, para quem mora longe, o Facebook é uma forma de participar de momentos cotidianos, mandar um beijo à sobrinha que ganhou uma medalha na natação, ao primo que fez aniversário, ao sobrinho que marcou um gol, ao amigo que mudou de emprego ou à amiga que completou uma maratona. Através destas redes estou conectada com pessoas que foram importantes na minha vida e posso ver seus filhos crescendo, conhecer bebês que nascem, cachorros que chegam, namorados novos, participar das férias e das festas ou mesmo saber que o pai de um amigo morreu ou acompanhar à distância os cabelos de uma amiga querida crescendo depois da quimioterapia. É uma relação muito mais profunda, que vai além de fotos com pezinhos cruzados na praia e beijinhos no ombro. É a forma de continuar existindo num mundo distante, mas que ainda é meu.
Termino assumindo que sou totalmente dependente do meu celular. Sim, é um vício que chega a me trazer problemas e me atrapalhar (até mais do que o vinho!). Mas a verdade é que, ainda que seja através de uma foto, de uma mensagem de WhatsApp ou de um simples emoji, interagir com pessoas queridas é o que nos mantém unidos. É o que me faz sentir que, de alguma forma, ainda pertenço a esses grupos e tenho lugar nesses corações. Agradeço todo dia pela existência de tudo isso e acho que se você souber utilizar estas ferramentas direito vai entender que, para quem está longe, elas são realmente imprescindíveis.