Comentei aqui no último texto que um dos motivos pelos quais escolhi fazer meu intercâmbio na Croácia se relacionava ao fato das aulas serem em inglês, mesmo a língua oficial do país sendo o croata. Mas essa infelizmente foi uma das primeiras coisas que vi que não seria como eu tivera planejado, porque quando cheguei na universidade croata, eles me disseram que não havia turmas para intercambistas no meu curso, e portanto eu deveria assistir às aulas regulares que eram dadas aos alunos croatas.
Como cheguei em Zagreb um mês antes do início das aulas, logo que recebi essa notícia enviei e-mails a todos os professores responsáveis pelas disciplinas que eu tinha escolhido cursar naquele semestre, perguntando se havia a possibilidade de me enviarem materiais em inglês e também darem as aulas em inglês, levando em consideração que todos os alunos do curso possuem um alto nível de inglês e que portanto, eu acreditava que não haveria nenhum dano a eles.
Aliás, uma questão muito interessante dos croatas é que a grande maioria deles fala inglês, e muito bem por sinal. Isso inclui idosos e principalmente os jovens. Eles precisam, até porque a principal atividade econômica do país é o turismo. Durante o verão, a costa croata é um dos, senão o maior, destino dos europeus e está ficando cada vez mais mundialmente conhecida pelas belezas naturais que essa região possui, então quando inicia essa estação do ano, há uma grande movimentação de pessoas do país inteiro para o litoral croata para trabalhar, devido à quantidade de turistas.
Isso quer dizer que os empregos aqui, pela convivência intensa com turistas do mundo todo, exigem das pessoas um bom nível de conhecimento da língua inglesa. E outra questão é que, diferentemente do Brasil, não é necessário ir à uma escola particular de inglês e pagar por aulas, porque a formação dele nos ensinos fundamental e médio, nas escolas públicas, já é muito bom. Não só do inglês, mas também pode-se escolher uma segunda língua estrangeira, então a maioria tem também uma noção de alemão até pelo grande histórico de emigração croata que existe em busca de empregos melhor remunerados em terras germânicas.
E então você poderia me perguntar “mas Renata, por que você não enviou um e-mail à coordenação do curso da universidade estrangeira antes de viajar perguntando se suas aulas seriam em inglês?”. Sim, isso foi a primeira coisa que fiz quando me interessei pelo intercâmbio na Croácia. Em Curitiba me disseram que seria em inglês e por isso eu precisava apresentar um desses exames internacionais que aprovavam meu nível elevado de inglês, até porque nenhuma das partes deseja que a língua seja um empecilho nesse processo. Eu também enviei e-mails à Universidade de Zagreb, mas não tive resposta em nenhuma das minhas três tentativas.
Enfim, cheguei, aconteceu. As aulas seriam em croata, com a ressalva de que os professores poderiam resolver dar suas aulas em inglês por minha causa. Isso aconteceu somente em uma disciplina.
Não vou mentir, fiquei decepcionada, e reportei isso à coordenação do curso de Geografia aqui na Croácia, mas não houve nenhum tipo de solidariedade, principalmente financeira levando em consideração que comentei que aprenderia a língua croata e que não havia encontrado nenhum lugar onde eu pudesse fazer isso de graça.
Um parênteses que talvez seja relevante a essa altura da história é que eu tentei conseguir uma bolsa-auxílio no Brasil para fazer esse intercâmbio e a consegui, mas um pouco antes de vir, recebi a notícia de que o governo brasileiro estava cortando esse gasto e que se eu quisesse continuar o processo de mobilidade, teria de excluir a ideia de receber bolsa-auxílio e ir com financiamento próprio. Ou seja, tudo que gasto aqui, ou pelo menos até o meu terceiro ou quarto mês (quando comecei a trabalhar), foram meus pais quem pagaram, então acho que você consegue imaginar o quanto queria também mostrar retorno a eles por essa grande confiança.
Pensei também “Pô, viajei para tão longe de casa para não ir às aulas? Para estudar em casa ou na biblioteca? Sozinha? Ou então devo ir às aulas mas não entenderei nada?”. Mas sim, infelizmente essa é a realidade de muitos alunos que vêm estudar em Zagreb, porque somente alguns cursos possuem turmas separadas para alunos estrangeiros e assim, aulas em inglês. Isso é, portanto, um bom ponto a se pesquisar antes de vir à Croácia. Em alguns casos aqui, os professores cobram presença dos alunos estrangeiros nas aulas, mesmo elas sendo ministradas em croata.
A língua croata é uma língua eslava que, apesar de ser fácil de se ler e pronunciar, principalmente para nós brasileiros pela similaridade dos sons de algumas letras, não é uma língua fácil de aprender e se comunicar. As construções das frases são complexas e também a grande maioria das palavras não tem nenhuma semelhança com a sua tradução em inglês ou em português, então não há como adivinhar. Ou seja, em um dia pode-se aprender a pronúncia de cada letra do alfabeto e ler todas as placas das lojas, mas não se irá entender o significado de nada, porque as palavras não se assemelham a como elas são em inglês ou português. Um exemplo: “sir” se pronuncia exatamente como se escreve, mas significa “queijo” em português, ou então “cheese” em inglês. Há alguma associação possível?
Talvez a essa altura do texto você já esteja meio com o astral para baixo, porque o tema também não é algo que inicialmente pareça muito animador, mas relativamente sério, e conforme eu fui explicando, a situação pareceu ainda mais problemática. Vamos consertar isso então.
Antes de embarcar para a Croácia, um amigo meu me disse que se não for sofrido, não é intercâmbio, e levo esse pensamento como meu companheiro nesses momentos de desespero. É a vida, acontecendo, se mostrando viva, e mostrando que é hora de sair da zona de conforto.
Minha amiga mais próxima, nesse primeiro mês que passei em Zagreb, estudava línguas, e por isso ela poderia ter aulas de graça em um espaço dentro da universidade destinado ao ensino da língua croata. Eu, por ser de outro setor de estudo, teria de pagar, a não ser que conseguisse uma bolsa da própria Universidade de Zagreb. O curso consistia em aulas de duas horas e meia, de segunda a sexta-feira, por três meses, fora os exames escritos e orais e as apresentações. Não achei que conseguiria, mas minha amiga me incentivou e eu também me lancei esse desafio. Conversei com a coordenação desse espaço de ensino de croata e eles aceitaram que eu começasse a frequentar as aulas ao mesmo tempo em que tentava uma bolsa-auxílio que pagasse pelo menos parte do valor do curso.
Essa parte é interessante e é quando começa essa aventura, mas infelizmente o texto já esta ficando longo, então fazemos assim: continuo em um próximo encontro, pode ser? Daí consigo contar com mais detalhes como foram minhas primeiras aulas, provas e aplicação no dia a dia. Só posso garantir que foi uma grande loucura e principalmente uma grande batalha.
Combinados então. Um grande abraço e obrigada pela companhia. Até o mês que vem!