Balanço de um ano morando na Itália.
Acabo de completar um ano morando na Itália. Neste tempo já deu para sentir o que é ser italiana e viver neste país que é muito parecido e ao mesmo tempo muito diferente da nossa pátria amada, idolatrada, brasileira. A vida na Itália não é fácil. É muito melhor do que a vida do brasileiro médio, pelo menos eu considero isso, mas também não é um mar de rosas.
Engraçado como nós idealizamos as coisas. Aquela máxima de que a grama do vizinho é sempre mais verde, também se aplica para quem mora em outro país. A gente vem passar férias na Europa e se encanta com a comida, com a bagagem histórica absurda que eles têm, com o ritmo de vida mais tranquilo, etc. E realmente isso tudo é muito bom, mas quando você resolve morar por aqui, você lida com o mau humor das pessoas, descobre que trabalhar do lado de cá é bem mais difícil do que no Brasil porque você divide o espaço ombro a ombro com um italiano.
Nós descobrimos que a grama deles é mais verde porque é grama artificial e nós, tontos, não prestamos atenção nesse detalhe porque estávamos felizes e esperançosos de que tudo daria certo. De fato deu, se não tivesse dado, já teria voltado. O intuito do texto não é de reclamar, mas apontar que nem tudo são flores.
Não, realmente não é. Agora eu entendo o problema da falta de emprego vivida pelo italiano e tantas questões como as empresas familiares que não são profissionalizadas e que não geram emprego, o sistema bancário engessado, a dívida pública que impede a Itália de investir e desenvolver o sul do país, além do problema dos imigrantes refugiados que mais parecem ser tráfico de pessoas que são jogadas ao mar, sem esperança real de uma vida melhor e que desovam aqui sem nenhuma perspectiva de melhora a não ser pedir dinheiro pelas ruas, infelizmente.
O noticiário fala desse assunto “imigração” noite e dia, o tempo todo. Os ultranacionalistas já dizem que a Itália deve ser somente dos italianos, sendo esses apenas o que nasceram aqui. Os italianos que nasceram nos outros países não são muito italianos para essa turma.
Mas eu sou brasileira e não desisto nunca. Não desisto porque eu nunca fui tão bem tratada por “estranhos” como fui aqui até hoje. A minha filha foi acolhida na escolinha sem falar italiano. Nós fomos bem recebidos na escola pública que ela começará a estudar a partir de setembro. Eu sou bem assistida pelos médicos italianos que fazem questão de me explicar tudo e sempre perguntam se eu entendi os termos técnicos, pois meu sotaque e minha cara de “estou entendendo, mas fala devagar” denuncia a cada consulta.
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A comida italiana é maravilhosa e não falo só do macarrão. As frutas, os legumes e as verduras são sensacionais. Aqui não temos medo. Não ficamos olhando para trás, podemos falar no celular na rua sem medo. Ninguém mexe com você. Ninguém liga para a roupa que você está usando.
Isso sem falar dos italianos. Tem esses ultranacionalistas radicais, mas a grande maioria é muito gente boa. Sempre fui muito bem tratada no condomínio onde eu moro. Os vizinhos já se dispuseram a me ajudar de várias formas sem nem mesmo eu pedir. O dono da casa que aluguei me ofereceu um ar-condicionado portátil porque se preocupou por eu estar grávida com o maior barrigão nesse calor escaldante que faz na Itália durante o verão.
Toda a ajuda que recebi aqui não foi de brasileiros. Aliás, nós percebemos como brasileiros podem ser desunidos! Não sei se tive azar, mas todo brasileiro que me ofereceu ajuda por aqui tinha interesses em nos arrancar dinheiro. Foi muito decepcionante perceber que isso mostra um pouco como tem gente da nossa pátria egoísta e interesseira espalhada pelo mundo.
Mas aquela máxima do Nietzsche de que o que não me mata, me fortalece continua mais válida do que nunca. E sempre saímos fortalecidos de situações que não são como planejado. Nós aprendemos a ver o copo meio cheio, mesmo nos momentos difíceis.
A Itália não é o que sonhamos, mas é muito melhor, pois ela deixou de ser um sonho e passou a ser real, com todas as suas imperfeições, com todos os seus problemas e tudo o que ela carrega de bom.
E ainda que eu mude da Itália um dia, sempre carregarei os bons momentos vividos no país. Sempre terei orgulho de dizer: Sì, sono italiana!
1 Comment
Obrigada pelo texto. Foi incentivador! Eu fiquei curiosa para saber qual cidade da Itália você mora? Obrigada! Um beijo