A Bélgica, com seus aproximadamente 10,7 milhões de habitantes, com Bruxelas como capital da Europa e sede para organizações como a OTAN, possui três idiomas oficiais: flamenco, francês e alemão (mesmo muita gente pensando que aqui só se fala francês). Muitos podem acreditar que por conta da forte influência do idioma francês no país, os franceses e os belgas são todos iguais. Bom, eu notei muito mais diferenças do que semelhanças por aqui.
Para o começo de tudo, partindo do princípio que o idioma francês é compartilhado pela Bélgica e pela França, podemos pensar: “Ah, deve ser o mesmo que acontece com o português de Portugal e o português do Brasil?” Acredito que sim, pois os idiomas estão ligados diretamente à cultura, ao comportamento dos indivíduos falantes e aos acontecimentos cotidianos de cada país – podemos fazer uma comparação ao português falado de diversas formas em cada estado brasileiro.
O fato que mais me impressiona acontece com a maneira como os belgas falam os números em francês. Para quem está aprendendo francês, ou já está fluente, sabe que os números no idioma francês são um grande desafio no começo, pois não se fala setenta e um, por exemplo, o número fica em tradução literal sessenta e onze (soixante et onze). Então, precisamos nos acostumar com esta forma, fazendo muitas vezes cálculos a partir do número 70. Eu sempre ficava com nó na cabeça quando chegava em alguns números como, por exemplo, 80 (quatre-vingt) – quatro vezes vinte.
Os belgas da região onde o francês é a primeira língua falada, optam por uma forma mais comum de falar os números, algo que fica mais fácil para nós falantes da língua portuguesa, sendo da seguinte forma: septante (setenta), quatre-vingt (oitenta) – esse é igual, não mudou – e nonante (noventa). Ficou mais fácil assim, não é? Um pouco. Como é algo da Bélgica, caso você vá e fale os números desta forma na França, os franceses não irão compreender. Sendo assim, é importante entrarmos em contato com essas diferenças linguísticas, isso pode nos ajudar muito em nosso processo de aprendizado, sem contar que agrega muito às nossas vidas.
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Ter de aprender as duas formas fica um pouco mais difícil? Pode ser, mas acredito que seja válido que saibamos as duas maneiras de se falar os números, em primeiro momento, onde a diferença é maior no idioma por aqui. Todos os idiomas têm suas vertentes profundas, e para a nossa imersão é necessário estar aberto culturalmente também, desta forma, conseguimos admirar como cada sujeito emprega a arte da fala e da escrita. Morando exatamente na divisa entre West Flandres, na Bélgica, e o norte da França (Lille), notei comportamentos muito diferentes em diversas situações.
Outra diferença é a maneira como os belgas dirigem os seus veículos. Geralmente, os belgas são cordiais, respeitam a velocidade e não ultrapassam os demais motoristas do nada. Claro, isso na região do interior da Bélgica, pois o trânsito na capital Bruxelas é totalmente oposto. Como qualquer cidade grande, Bruxelas tem trânsito e muitos veículos, além de ser uma cidade internacional, então temos nacionalidades de todos os lugares do mundo. Em contrapartida, você se acostuma com a tranquilidade belga no interior.
De tanto presenciar cenas no trânsito entre os países, fica fácil distinguir quando o motorista é francês, mesmo sem olhar a placa (conseguimos confirmar a nacionalidade olhando a placa do carro, que possui a primeira letra do nome do país da Europa ou letras abreviadas). Geralmente, os franceses estão mais apressados, costumam falar mais quando dirigem e fumar também.
Em relação aos hábitos alimentares, os belgas são mais voltados à sua cerveja, suas batatas fritas (invenção belga, mesmo que muitos pensem que seja dos franceses), seus croquetes feitos também com batata (é o purê de batata em formato de croquete frito, uma delícia!), sem contar o maravilhoso chocolate. Na Bélgica é comum encontrarmos lojas de batatas fritas, como se fosse um Subway apenas de batatas fritas e você escolhe o molho de sua preferência.
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Já os franceses amam vinhos, queijo e pães, então, você vai encontrar uma enorme variedade dessas iguarias maravilhosas, com preços em conta e que valem muito a pena, tanto que na hora da escolha dos queijos, os belgas, em sua maioria, compram os queijos franceses.
Lembrando aqui sobre outro item, no Brasil chamado de “pão francês”, não posso confirmar sobre a primeira receita chegada ao Brasil, mas o formato do pão é de criação belga. De fato, não se sabe o motivo do nosso pão salgado no Brasil ter esse nome, há rumores de que foram encomendados por brasileiros com bastante poder aquisitivo na época – início do século XX –, em seus retornos de viagens europeias, o pão que era popular na França e, desde então, temos o nosso “pão francês” no Brasil, com os seus apelidos em cada região do país.
Os belgas e os franceses têm uma amizade histórica, bilateral, pois durante a Revolução belga, a França disponibilizou ajuda às tropas belgas para o combate que, na época, separou a atual Bélgica da Holanda, garantindo o término do combate em apenas um dia. É certo que a amizade, a parceria e o apoio político existem, mas ambos os povos não deixam para trás suas piadas, apelidos a respeito de gostos e sotaques, da mesma forma que acontece com nós brasileiros e os portugueses, mesmo que as relações sejam diferentes, pois o Brasil foi uma colônia de Portugal.
Algo que considero, aos meus olhos brasileiros, ser uma semelhança nos povos dos dois países, é o amor, pelos seus países, suas línguas e culturas locais. Em ambos são assim, mas nada muito exagerado. Noto que belgas e franceses conseguem reconhecer quando algo requer melhorias, quando são necessárias mudanças, e conseguem também amar o que eles têm de mais belo. Acredito que para uma evolução dos países, cidades, da sociedade em uma visão geral, é necessário começar pelos indivíduos pois, as situações muitas vezes complicam por conta de infelizmente esse não ser o começo. Precisamos olhar para dentro de nós primeiro, assim, tudo entrará em harmonia de uma forma natural, os bons exemplos serão apreciados, admirados e imitados – o que é ótimo.
Dessa forma, conseguiremos apreciar o nosso vaso de flores, além de admirar a árvore que o nosso vizinho vem plantando e querer contribuir também.
2 Comments
Oi Débora!
Existe alguma rixa entre os moradores da capital com o resto do país?
Sei que na França muitas pessoas torcem o nariz quando você diz que é Parisienne…
Qual a sua visão a respeito?
🙂
Oi Marcela, tudo bem?
Sim, existe uma rixa entre os belgas que moram na região da Antuérpia e digamos que o resto da Bélgica.
Os nascidos na Antuérpia costumam fazer comentários não polidos, dizendo que a Bélgica é somente a Antuérpia e que o resto da Bélgica é o seu estacionamento…rs. Fato que faz com que os moradores da Antuérpia tenham uma fama de arrogantes por aqui.
Existe muita rixa vedada e que com o tempo, venho percebendo, pois eles são -muito- reservados.
Ah!por aqui também impera digamos “o torcer” do nariz quando falamos dos Parisienses…rs.
Abraços,