Castell de Guadalest.
Quando chega o final do ano, gosto de relembrar as viagens que fiz durante o verão, já que o inverno não é minha estação do ano preferida. Eu até gosto do frio, mas gosto daquele inverno de filme de Natal, com neve, e não do frio que faz em São Paulo, minha cidade natal e aqui em Valência, onde eu agora moro.
Quem acompanha meus textos por aqui sabe que minhas dicas de turismo fogem um pouco do roteiro conhecido por todos. Depois de conhecer o roteiro básico que todos fazem (Madri, Barcelona e Andaluzia), gosto de explorar o país e a região onde vivo, por isso decidi esse mês contar sobre Castell de Guadalest, uma agradável surpresa perto de Valência.
Em um fim de semana sem muito o que fazer, decidimos pesquisar algum lugar nas proximidades para visitar e nos deparamos com Castell de Guadalest, na Província de Alicante, a cerca de 150 km de Valência.
Castell de Guadalest está na lista dos “pueblos” mais bonitos na Espanha (pueblos são cidades pequenas aqui na Espanha, mas não se comparam com as cidades de interior do Brasil, que são muito mais populosas que os pueblos aqui). Como o próprio nome diz, é de se imaginar que nesta cidadezinha a atração é seu castelo localizado no topo de um monte.
E, como quem me acompanha também sabe que eu adoro história, dessa vez não seria diferente: fui pesquisar a história do local. Castell de Guadalest, no século XIII, tinha uma grande população muçulmana (como já contei anteriormente em alguns posts sobre Valência, a região era dominada pelos muçulmanos até a retomada de seu domínio pelo Rei Jaume I) e com a retomada cristã do local, o castelo foi doado como um feudo para uma família.
Posteriormente, a Coroa retomou o castelo e ele foi vendido a Dom Pedro (que não era nossa figura conhecida) de Castilha. Com sua morte, a propriedade do Castelo foi passando de geração em geração, até que os reis concederam o título perpétuo de “Marqueses de Guadalest” aos seus proprietários. Ao longo do tempo, e com todos as mudanças sucessórias, o Castelo foi passando a propriedade de outras famílias importantes na época.
Como toda história de castelos, a do castelo de Guadalest não é diferente: ele teve uma parte destruída durante a Guerra de Sucessão espanhola. Hoje, o castelo sofreu algumas alterações para manter-se intacto e passível de visitas e faz parte do patrimônio artístico-histórico, assim como a cidade faz parte dos “pueblos” mais bonitos da Espanha e do mundo.
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Pesquisa feita, saímos de Valência de carro e fomos até Guadalest. O caminho, por si só, já é uma atração. Não fomos pela estrada principal, decidimos ir pela estrada que passa por outras cidadezinhas e apreciar as vistas, decisão que realmente valeu a pena. O caminho é montanhoso e com paisagens lindas.
Para chegar ao local, usamos o GPS e quase vivemos uma anedota, dessas que já vi algumas pessoas relatarem na internet onde ficam com seus carros entalados nas ruas estreitas da Europa (para quem acompanha seriados, o ator Aziz Ansari relatou ter vivido na vida real, na Itália, uma situação que retratou em seu seriado “Master of None”). Ao seguir as indicações do GPS, adentramos um pueblo para conseguir chegar na estrada onde tínhamos que continuar a viagem. Como já expliquei antes, os pueblos são cidades pequenas e, muitas vezes, com ruas de paralelepípedos e muito estreitas. Nosso carro não é grande, é do tamanho normal, e atrás de nós estava uma família em um SUV. Em determinado momento, o GPS nos indicou para entrar em uma rua onde parecia praticamente impossível que o carro pudesse passar. A rua era muito estreita e tivemos que fechar os retrovisores e contar com a sorte para conseguir cruzá-la. Algumas manobras feitas e passamos com o carro, com espaço literalmente de um dedo entre a porta do carro e as paredes das casas. O carro que estava atrás de nós não conseguiu passar (ainda bem, pois a indicação do GPS estava errada e não deveríamos ter passado ali, tivemos que voltar).
No final, esse atraso valeu a pena, pois, como já era hora do almoço, paramos em uma cidade ao lado de Guadalest e comi o melhor arroz ao forno da minha vida. Se a Comunidade Valenciana é conhecida por sua paella e seus arrozes, a província de Alicante é onde se prepara os melhores pratos. O local onde fomos chama Venta la Montaña e é um restaurante familiar na cidadezinha de Benimantell.
Finalmente, após o almoço, conseguimos chegar em Guadalest e valeu a pena cada atraso que tivemos no caminho. Deixo aqui minhas dicas para vocês também conhecerem esse local maravilhoso.
A cidade de Guadalest é de fácil acesso de carro, caso esteja na cidade de Valência é possível alugar um carro por um dia e ir até lá, já que está a apenas 150 km de distância, podendo planejar um dia da viagem para conhecer o local e provar a boa comida da região (a dica mais valiosa que posso dar para quem vem à Espanha é ir até um pueblo e provar a comida). Embora Guadalest não seja tão conhecida pelos turistas estrangeiros não-europeus, ela é, sim, conhecida pelos espanhóis, franceses e italianos, então planeje chegar cedo ao local ou no meio/final da tarde, para evitar grandes aglomerações para estacionar o carro, entrar no Castelo e andar pelas ruas.
A dica final que dou é que esteja preparado para algumas subidas, já que a cidade e o castelo estão no alto de um morro, e tenha dinheiro na carteira, não apenas cartão. Para entrar no castelo é preciso pagar e eles não aceitam cartão. Isso aconteceu conosco nessa visita e meu companheiro teve que descer todo o caminho que havíamos subido para poder sacar dinheiro. No final, quando ele voltou, o funcionário do local foi super amável conosco e, pelo esforço que meu companheiro fez de subir, descer e subir novamente, nos convidou a conhecer o local gratuitamente.
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Feliz Natal a todos e espero que este último texto do ano tenha animado vocês a conhecerem um pouco dos encantos escondidos da Comunidade Valenciana e sua boa comida.