Esses dias estive mais pensativa por causa de uma situação que aconteceu não uma, nem duas, mas muitas vezes comigo aqui na Espanha e eu nunca tinha realmente parado para pensar a respeito.
Na verdade, acredito que essa é uma situação que qualquer leitora (ou leitor, por que não?) irá se identificar, independente de qualquer fronteira.
Toda minha vida eu tive um peso estável e, consequentemente, sempre usei a mesma numeração de roupa. Aliás, esse é um ponto fraco meu, eu amo comprar roupas. Quando morava com meus pais, meu pai costumava dizer que eu tinha blusa para usar sem repetir durante o ano inteiro.
Quando eu cheguei na Espanha e vi que a Inditex, dona da Zara, tinha uma série de outras marcas de roupas, vocês já podem imaginar minha alegria para conhecer essas lojas. Foi então que aconteceu a situação que eu mencionei no inicio do texto: fui provar as roupas e só achava peças com numeração muito menor do que a minha. Lembro-me de procurar uma calça jeans em uma dessas lojas e encontrar apenas calças com número 34 ou 36, todas com cinturas muito pequenas, pernas muito finas, algumas vezes até minha numeração normal ficava extremamente justa.
Esse momento foi um baque na minha autoestima, comecei a olhar ao meu redor e me comparar com as espanholas, em sua maioria magras e com as pernas finas e lá estava eu, tentando entrar em uma daquelas calças.
Saí da loja e comentei com meu companheiro como estava me sentindo, momento em que ele me disse: “Isso é o efeito Zara”. Foi então a primeira vez que eu ouvi essa expressão usada desse jeito, e não economicamente. Perguntei do que se tratava e ele me explicou que, desde que a Zara começou a ficar famosa, as meninas começaram a se tornar cada vez mais magras para poder caber nas roupas, aquilo tinha se tornado um padrão.
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Se por um lado eu encontrei uma certa liberdade aqui na Espanha, já que ninguém te julga pela sua aparência, como você está vestido ou se está maquiado ou não, por outro comecei a ver que muitas meninas estavam presas nesse tal padrão Zara.
Confesso que por um tempo eu fiquei atormentada por esse padrão, afinal eu moro em uma cidade de praia e, inevitavelmente, eu ficava me comparando com as mulheres daqui, eu queria emagrecer e ter aquelas pernas finas, eu queria entrar nas lojas e conseguir vestir aquelas calças.
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Conversando com algumas amigas a respeito pude notar que muitas se sentiam assim, e então comecei a abrir meus olhos: o problema não estava comigo e meu corpo, o problema está nessas lojas que a cada dia colocam roupas para vender sem qualquer critério numérico e nos impõe padrões inalcançáveis (isso sem entrar na discussão das outras fontes que acabam nos influenciando e minando nossa autoestima).
A confirmação de tudo isso que eu estava refletindo aconteceu quando estive em outra loja, concorrente da Zara, aqui na Espanha: a Mango. Essa marca tem um outlet em Valência onde eles vendem as peças das coleções passadas com até 70% de desconto e, como eu passo todos os dias por ela, às vezes gosto de entrar e provar algumas coisas. O outlet é muito bom especialmente para comprar casacos no inverno.
Um desses dias, entrei e separei algumas roupas para provar: calças, shorts e vestidos. Desses três modelos de roupas, eu consegui vestir numerações diferentes. Dos dois vestidos que eu provei, consegui ficar bem em um modelo PP e outro M, dos shorts, o número 38 ficou muito justo e o 40 ficou muito largo, por fim, a calça número 36 ficou perfeita no corpo e essa nem é minha numeração habitual.
Saí de lá com a sensação de que as lojas não tem critério nenhum, afinal os modelos provados eram bem parecidos, e a certeza de que essa falta de padrão mexe muito com a nossa autoestima. Quantas vezes não ouvimos alguma amiga nossa dizer “preciso emagrecer” depois de provar uma roupa, ou até nós mesmas. Não, nós não precisamos emagrecer, nós estamos muito bem assim, as lojas que precisam encontrar um padrão mais realista e se adequar a nós, não o contrário.
Depois de 3 anos na Espanha, nessa montanha-russa de sentimentos, eu aprendi a me aceitar, me amar, ver que eu não preciso caber nessas roupas para estar bonita e me sentir bem, não preciso me encaixar em padrão algum. Aprendi a celebrar todos os tipos de corpos, meu corpo mais brasileiro e os corpos das espanholas, todos lindos e únicos, cada pessoa é uma, não podemos ser todos iguais.
Por esse motivo, quis trazer essa reflexão para cá, percebi que eu não estava sozinha e que esse efeito Zara ultrapassava fronteiras. Dessa forma, proponho que nos celebremos e amemos tal como somos e que a expressão “Efeito Zara” fique apenas nos estudos de economia, e não nos nossos padrões.
7 Comments
Quando li “efeito Zara” no título achei que você falaria sobre o trabalho escravo base dessa empresa.
Olá,
Desta vez resolvi tratar sobre essa questão, já que o Grupo Inditex é tão forte e presente na Espanha não apenas baixo a marca Zara, mas outras tantas que não estão no mercado brasileiro.
Abraços.
Amei a matéria … E realmente , eles não tem padrão nenhum para numeração de talla , uma boa parte das lojas da Espanha onde eu vivo só tem até 42, mas é um 42 que não entra nem na minha panturrilha , no começo fiquei chateada , mas por fim , não sou tão consumista e me aceito bem .
Sem palavras!!! Texto maravilhoso!!! ????????????
Muito obrigada e obrigada por acompanhar o blogue!
Abraços.
Texto perfeito e realmente o efeito zara acaba provocando desastres em meninas que não tem a maturidade de perceber o que estão fazendo… e não é só a zara… lojas como forever 21 tambem…bjos e saudades!
Na verdade, hoje a grandra maioria das as lojas acabam fazendo isso.
Beijos