Apesar de possuir uma beleza de assombrar qualquer mortal, uma economia considerada bastante estável, menos escândalos políticos do que os países vizinhos e uma série de aspectos positivos e invejáveis ao ser comparado com outros da América Latina, o Chile tem um aspecto assustador que nos faz perceber o quão pequenos somos diante da força da natureza.
Aqui estamos no “círculo (ou anel) de fogo do Pacífico”, uma área conhecida por sua atividade vulcânica constante e por ser epicentro de um grande número de terremotos no mundo. É formado basicamente por uma série de placas tectônicas que estão em constante movimento causando movimentos na superfície da terra, gerando tremores, erupções, tsunamis e outros desastres naturais.
Neste estreito país, podemos encontrar muitos vulcões ativos atualmente. É só dar uma olhada nas notícias recentes para verificar isso. Nos últimos anos, diversos deles resolveram entrar em erupção. Os casos mais recentes foram: o vulcão Chaitén em 2008, Puyehue em 2011, Llaima em 2012 e neste ano já houve dois alertas vermelhos com a erupção dos vulcões Villarrica e Calbuco.
Em geral as erupções das últimas décadas não têm causado tantas perdas de vidas humanas, os danos desse tipo de desastre natural são um pouco menos daninhos nesse quesito. Mas há muitas cidades que são atingidas pelas cinzas e precisam ser evacuadas, causando problemas para os moradores da região que temem que suas casas e animais sejam roubados por delinquentes oportunistas. Além disso, as cinzas levadas pelo vento inevitavelmente causam cancelamentos de voos e fechamentos de estradas, às vezes chegando a incomodar e modificar a rotina de cidades dos países vizinhos.
Em cidades como Pucón, próxima ao vulcão Villarrica, a diminuição de turistas na região causa problemas econômicos a curto e médio prazo. Afinal de contas, um dos grandes atrativos da região era justamente caminhar até as proximidades da cratera do vulcão. Ainda assim, sempre tem um ou outro curioso que quer chegar a uma proximidade segura desse tipo de eventos e acaba indo pra lá do mesmo jeito.
E já que estamos falando de desastres naturais, vamos falar de tremores de terra. No atual ranking dos dez terremotos mais intensos do mundo, DOIS foram no Chile. Em primeiro lugar encontra-se o de Valdivia, no sul do Chile, que em 1960 foi sacudida com uma força que registrou 9.5 na escala Richter e causou um tsunami que se alastrou até o Japão, Havaí e Filipinas, aumentando o número de mortos nesse evento.
Em sexto lugar está o terremoto de 2010, cujo epicentro foi nas costas da região do Maule, também no sul do Chile. A chacoalhada que nos acordou na madrugada do dia 27 de fevereiro chegou aos 8.8 graus na escala Richter e culminou com um tsunami que não foi avisado a tempo pelo sistema de emergência chileno, causando muitas mortes, já que muitos voltaram pra suas casas depois do tremor e foram surpreendidos pela força da água.
Eu cheguei em 2006 e antes disso já tinha vindo milhares de vezes ao Chile para visitar os parentes de meus pais. Presenciei mais de um tremor nesse tempo. Um que me assustou bastante foi no 12º andar de um edifício cuja fachada era inteira de vidro. Primeiro uma sensação de tontura, depois levantei a cabeça e vi minha inquietude refletida no olhar dos demais presentes. Todos levantaram, alguns mais calmamente do que outros (me incluo entre os não tão calmos) e começaram a se dirigir à zona das escadas de emergência. Mas antes mesmo de chegar lá, a terra se acalmou e tudo voltou a se normalizar. Menos eu, que fiquei sentido o vaivém por vários minutos.
Era a primeira vez que eu sentia um tremor em um edifício e confesso que a partir daí, a ideia de morar em apartamentos em Santiago passou a não me agradar tanto. Eu sei que os edifícios aqui estão mais do que preparados pra qualquer terremoto, inclusive, dizem que são construções melhores do que as do Japão. Mas na hora do tremor, eu esqueci completamente e me senti na ponta de um chicote, balançando de um lado para o outro.
De qualquer forma, posso afirmar que realmente o Chile está mais preparado do que se imagina pra esse tipo de desastre. Muitos chilenos nem se assustam com as tremidas eventuais. Meu sogro, por exemplo, nem acordou durante o terremoto! Acho que tem a ver com o fato de que eles recebem orientação desde o jardim de infância, com a chamada “Operación DEYSE” (De Evacuación y Seguridad Escolar), onde são orientados a como se comportar em caso de terremotos.
Mas para nós que moramos em um país “abençoado por Deus” onde a maioria dos desastres naturais se resumem a enchentes ou outros aspectos relacionados com chuva ou falta dela, ainda assim nos sentimos completamente despreparados pra esse tipo de eventualidade.
Pra você que está planejando vir ao sul do Chile, não precisa entrar em pânico nem cancelar a viagem. Apesar de haver muitos eventos naturais, as cidades próximas a vulcões (ativos ou não) estão mais preparadas do que se imagina (mesmo que muitos chilenos não concordem). Nas cidades altamente turísticas há sinalização sobre o estado em que se encontram os vulcões, sobre os pontos de segurança e as vias de trânsito em caso de emergência. Além disso, a menos que você realmente queira se aventurar por cidades menores, quase todas as cidades que recebem turistas ficam a uma distância segura e, em caso de alguma erupção, os danos seriam menores do que o imaginado.
De qualquer forma, sempre é bom que os familiares que ficam no Brasil estejam informados dos contatos e itinerário que serão utilizados na viagem, além de ter o número de emergência do consulado do Brasil no Chile: +56993345103.
6 Comments
Vivo en Santiago e n me acostumo con OS temblores 🙁 ….. Mto bomba seu texto….
Sandra… eu tb nao me acostumo. Mas depois que fui mae tive que aprender a conter um pouco o desespero pra nao assustar a cria. Mas exige muito de mim!! Abraços e segura! Porque balança mas nao cai!
Confesso que este tema me dá um pouco de nervoso, mas já fui aí 3 vezes e na ultima vez fiquei quase um mês e por sorte não senti nenhum temblor! Meu namorado diz que só é pra se preocupar se os objetos das paredes e tal começarem a cair hahaha ótimo ne? Bjs
Nathalia, os chilenos em sua maioria estão acostumados e alguns até acham engraçado quando a gente se assusta. O conceito “terra firme” não existe aqui e é uma grande diferença em relação ao que vivemos…. Difícil não se assustar nem um pouquinho.
Estou namorando um chileno há um ano e, mais cedo ou mais tarde, vou me mudar para morar com ele aí.
Ainda não passei por nenhum tremor e a ideia me deixa apavorada. Ele ri da cara que faço quando falamos no assunto.
Eu estava em Pucon no dia em que começou o alerta amarelo e isso já me deixou de orelha em pé. Tia e avó, que moram lá e tem uma lindíssima vista do vulcão, apenas deram de ombros.
Não sei se me acostumo, mas tentarei.
Ai, Andrea, confesso que acho uma falta de respeito quando riem dos que tem medo de tremores. Afinal, medo é medo e é incontrolável. A gente nao escolhe se sentir assim. Eu moro aqui há sete anos e nao acostumo realmente. Só já nao entro em desespero, mas nao acho “normal” nem fico SUUUUUUUUPER calma. Mas meu marido entende, respeita e me acolhe quando isso acontece. Um abraço e boa sorte. Espero que os tremores que vc sinta nao sejam tao grandes.