Em textos anteriores, já escrevi sobre minhas primeiras impressões ao me mudar para o Chile e sobre algumas diferenças que percebi, mesmo conhecendo bastante o país e sua história antes de vir. Mas como sempre se diz: turistar é uma coisa, morar é outra bem diferente.
Uma questão particularmente difícil durante meu processo de adaptação no país, foi encontrar novas amizades não conectadas aos familiares que tenho por aqui e nem ao meu marido. Um verdadeiro grupo de pessoas com as quais eu pudesse me sentir à vontade e cuja companhia fosse apreciada em bons e maus momentos.
Por ter familiares no Chile eu conhecia muita gente, no entanto, não encontrava um grupo de pessoas no qual sentia me encaixar completamente, com toda segurança e apoio que precisava. Procurei por um tempo ficar mais próxima de meus conterrâneos, mas já contei um pouco sobre isso em meu texto sobre Comunidades de Brasileiros . No começo, mesmo com eles eu não estava conseguindo “me encontrar”. Mesmo trabalhando numa loja com muita gente, ainda assim era difícil dar o passo seguinte para deixar de ser a “colega de trabalho” e passar para um nível mais pessoal.
Sentia muitas vezes que havia intenção de ir um pouco além do papo furado e superficial do dia a dia, mas faltava um impulso. Com os homens a questão era ainda mais complicada, pois apesar de no Brasil eu ter tanto amigos quanto amigas, aqui minha personalidade efusiva e amorosa era confundida com segundas intenções, o que sempre acabava em conversas do tipo: “Não me comporto assim com você por te achar especial, a especial sou eu por me comportar assim”. E isso nunca dava pé pra começar uma amizade com alguém do sexo oposto.
Eu tive a sorte de chegar ao Chile em ano de Copa do Mundo. Convidar as meninas do trabalho para assistir aos jogos do Brasil em bares brasileiros foi uma boa forma de transformar a conversa de trabalho em algo mais pessoal, num ambiente mais informal. Aos poucos fui percebendo que, para fazer amizades, deveria baixar um pouco minhas expectativas e, como na maioria das situações ao mudar de país, parar com as comparações e tentar entender melhor como funcionam as relações interpessoais onde estou. Buscar uma maneira de ser eu mesma sem invadir espaços pessoais, respeitando o jeito de ser dos chilenos.
Algumas das coisas que descobri ao longo dos anos vivendo aqui – e com uma boa coleção de amigas chilenas – é que há vontade de ser amiga, mas ao mesmo tempo existe uma trava natural que ainda não consigo determinar de onde vem. Tenho amigas que considero muitíssimo, saímos quando podemos, mas jamais fui convidada para conhecer suas casas, por exemplo. Tive também amigas que duraram todo o meu período de mulher casada sem filhos, mas que se distanciaram durante meu pós parto. E tenho as amigas cujos laços se fortaleceram ainda mais depois que me tornei mãe.
Numa rápida pesquisa que realizei com um grupo de mães brasileiras, percebi que independentemente da quantidade de anos que se vive aqui, a maioria das mulheres têm poucas ou simplesmente não têm amizades com as locais por diferentes motivos.
Não há como negar que mulheres brasileiras e chilenas são muito diferentes. Em geral, minhas conterrâneas não têm papas na língua, são seguras de si mesmas, vaidosas (não necessariamente das que gastam em roupas, maquiagens e produtos de beleza, mas que se preocupam em ver-se tão bem quanto se sentem) e sorriem bastante. As chilenas costumam evitar conflitos diretos, são mais cobradas socialmente, o que as leva a ser mais inseguras e a manter uma linha mais discreta na hora de se comportar e vestir, além de não sorrirem com tanta frequência quanto nós.
Há uma rivalidade bem maior entre mulheres do que no Brasil também, o que faz com que elas sempre tenham uma pontinha de desconfiança sobre nossas intenções num primeiro momento. Passar por essa barreira é um desafio e muitas desistem durante o caminho. Desta forma, o “ser colega” nunca passa para o nível da amizade. Outro ponto que complica o relacionamento é a facilidade que os brasileiros têm em compartilhar coisas pessoais, enquanto os chilenos costumam ser bem mais reservados nesses assuntos.
Mas para mim, superar essas pequenas questões, respeitar a forma de ser de cada indivíduo e abraçar o diferente foi um tremendo aprendizado de vida. Sou bem mais tolerante com o comportamento das pessoas e mesmo quando não concordo, tento pensar que há toda uma bagagem emocional, cultural e social, que faz a pessoa ser como é.
Aos poucos pude entender que o conceito de amizade no Brasil e no Chile pode ser bem diferente. Por exemplo: meu marido é chileno, tem amigos de infância ainda da época do colégio, mas ainda assim, se tiver algum problema com o carro em plena madrugada, por exemplo, diz não ter certeza se algum deles iria socorrê-lo.
Hoje em dia muitas me consideram como amiga e mesmo que essa nomenclatura não seja a mais correta em meu dicionário pessoal, aceito com todo prazer e considero a pessoa minha amiga também.
Não se esqueça de que este é um ponto de vista pessoal, baseado em relatos de amigas brasileiras e chilenas, nem sempre correspondente à sua realidade. Esclareço que dentre minhas amigas brasileiras, sou uma das que mais amizades chilenas cultiva. Em meu círculo de amizades tenho pessoas do trabalho e vizinhas chilenas que foram tão importantes em minha adaptação quanto minhas conterrâneas. Mas ainda assim, atualmente tenho mais amigas brasileiras do que chilenas.
18 Comments
Muito feliz de ver que algumas brasileiras conseguem fazer e manter amizades chilenas,ainda que num padrão chileno. Mesmo porque se estamos no Chile,temos que aceitar seus padrões, né? Tentei as amizades e não consegui, esse esforço foi além da minha capacidade. Naturalmente sempre fui bem seletiva com amizades pelo fato de não me enquadrar em contextos onde a aparência social ou conveniência fossem preponderantes, tipo sair com alguém ou grupo só por sair, pra ter companhia ou porque de alguma forma me serviria de algo. Já trazendo isso enraizado em mim, diante de tudo ja comentado por você anteriormente, reforcei aqui a ideia de que só quero ao meu lado quem realmente me faça bem, pessoas na mesma sintonia e…..antes só do que mal acompanhada”…rs…
Beijo gigante pra você!!!
Gi!! Acho que depende da pessoa, do ambiente em que nos encontramos, do nosso estado de espírito e da nossa projeçao para o futuro. Eu preciso de tribo, de redes de apoio e como nao me vejo saindo do Chile num futuro próximo, tenho que me virar com o que a vida me dá. E insisto que decidir ter amigas chilenas me fez crescer demais emocionalmente e psicologicamente. Mas ainda bem que tem um belo grupo de amigas brasileiras pra fazer da minha vida mais leve e desfrutável também, nao é mesmo?? Beijos!
Bom dia! Estou com viagem agendada para conhecer o Chile e gostaria de ter seu contato. Podemos conversar?
quanto ganha em media o fisioterapeuta no chile?
Olá Clayton, nao saberia te dizer, pesquise pelo “sueldo de kinesiólogos” ou através do “Colegio de Kinesiólogos” para saber. Abraços e boa sorte.
Parabéns,seu texto ficou excelente Joy! Expressa bem o que sinto aqui na Bélgica em relação a amizades. .Nunca foi tão difícil fazer amigos, daqueles íntimos mesmo.
Muito bom mesmo!
Beijão!
Adorei o texto Joy! Fazer amizade no Chile com Chilenos?! O que teria sido de mim sem voces? Seu texto me fez lembar que o dia mais feliz da minha vida no Chile foi quando eu conhcei uma brasileira no parque Rio de Janeiro… que de uma forma ou de outra me levou ate voce! Parabens!
Minha inspiraçao!! Já tinha amigas chilenas e brasileiras… mas depois que vc apareceu na minha vida, a qualidade aumentou consideravelmente!! Um beijo e muita luz pra vc, querida!
Eu e meu esposo faremos uma viagem a Santiago em Maio e estou pensando em como tirar informação de Chilenos… vamos precisar de coisas básicas e não sei a quem recorrer… existe algum órgão de apoio?
Olá, Angélica. Em áreas turísticas, os chilenos costumam ser bem mais acessíveis. Se vocês falam espanhol ainda mais fácil. Há escritórios de informacao gratuita no Centro de Santiago, na praca de armas e em bellavista, no pátio bellavista onde podem te ajudar. Boa viagem para vocês!
Muito bom seu artigo, acho que isso é uma realidade de todo imigrante, para todo lugar. Morei 30 anos na Inglaterra, trabalhei no mesmo lugar por 28, adorava meu trabalho e os amigos que fiz ali e no entanto, e no entanto, mesmo minha com minha melhor amigona ate hoje só fui na casa dela uma vez e de passagem. Mas, e oh a do peito com quem contaria a qualquer momento, são simplesmente culturas diferentes e jeitos diferentes de serem amigos. Morro de falta deles e sempre que volto e maravilhoso. Mas, sou um pouco diferente também é me encaixo menos no Brasil
Te entendo perfeiramente. Conheci um chileno e morei com ele em Santiago por 10 anos. Senti a mesma sensação de distanciamento que descreves… das mulheres principalmente. Quanto aos homens, machistas. Um até me deu uma cantada, na rua! quando me ouviu falar em português!
É a má fama das brasileiras… infelizmente.
Adorei tua narrativa.
Um abraço.
Boa tarde pessoal
To indo pro Chile agora em julho e não conheço nada e ninguém… queria muito fazer amizade pois irei sozinho e quando se tem outra pessoa que fala a sua língua é seu conterrâneo de país a coisa fica muito mais fácil. Alguém aí me indica alguma pessoa?
Olá Gilmar,
A Joy Matta parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas no Chile que talvez possam te ajudar.
Você pode entrar em contato com elas deixando um comentário em um dos textos publicados mais recentemente no site.
Obrigada,
Edição BPM
alguem sabe ou conhece algum grupo de whats de brasileiros no chile estou indo morar ae daqui 2 semanas e queria que me adicionassem
11 947221887
Olá Cleriston,
A Joy Matta parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas no Chile que talvez possam te ajudar.
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Obrigada,
Edição BPM
Bom dia, gostaria de saber como faço para conseguir uma hospedagem solidária em Santiago , capital, durante este carnaval de 2019. Período, 28/02 a 06/03. Sou professora de português e francês e yoga e irei com outros professores amigos. Entretanto , eles já têm hospedagem, eu não tenho ainda . Alguém gostaria de me ajudar?? Atualmente , moro em Arembepe, (no litoral da Bahia) poderia no futuro fazer intercâmbio, ou seja , a pessoa se quiser poderá vir depois do carnaval se hospedar aqui na Bahia. Pessoal, quem poderia me dar essa força ??? Gratidão , Irene .
PS. posso enviar confirmações das informações , tipo docs. RG, diploma, etc.
Olá Irene,
A Joy Matta parou de colaborar conosco, mas temos outras colunistas no Chile que talvez possam te ajudar.
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Obrigada,
Edição BPM