Sempre tive vontade de fazer um intercâmbio durante a época de universidade. Creio que este seja um desejo de vários universitários. Porém, devido ao alto custo de uma viagem internacional e a necessidade de trabalhar e me graduar, decidi deixar essa aspiração em segundo plano, até o momento adequado. No último ano de faculdade, fiquei sabendo da existência desse grupo chamado AIESEC, que estava iniciando uma unidade operacional em minha cidade.
Reconhecida pela ONU, a AIESEC é uma organização não-governamental sem fins lucrativos, organizada por jovens universitários voluntários. É a maior organização estudantil do mundo e está presente em vários países. A proposta da AIESEC é de desenvolver o potencial nas gerações emergentes fazendo com que elas tenham espírito de liderança, responsabilidade e valores para elas próprias e para contribuir para a sociedade e o mundo.
A AIESEC possui dois tipos de intercâmbio internacional. Um intercâmbio social, chamado Cidadão Global e um intercâmbio profissional chamado Talentos Globais. Fiz minha inscrição para o Talentos Globais, cuja proposta é aplicar o conhecimento adquirido durante o curso de graduação em uma empresa internacional. Várias grandes marcas são parceiras da AIESEC global, como a Google, Volkswagen, Siemens, DHL, entre inúmeras outras.
Fui a pioneira a realizar o intercâmbio Talentos Globais na unidade operacional de Blumenau, um grande desafio para mim e para os AIESEC’ers envolvidos. Após a inscrição no programa, passei pelas entrevistas na sede da AIESEC local, que servem como um filtro para garantir que o universitário está qualificado a realizar o intercâmbio com êxito. As entrevistas foram em inglês, testando também a habilidade de liderança e de trabalho em equipe, que são requisitos fundamentais para quem quer se inserir em um ambiente completamente novo e multicultural.
Pesquisei e, poucos meses depois, encontrei uma oferta de intercâmbio muito interessante e vim parar aqui em Zhuhai, na China. Mandarim não era pré-requisito. A proposta era perfeita, principalmente pelo fato de que a empresa já tinha uma brasileira realizando o mesmo intercâmbio. Além de um país novo, ganhei uma irmã adotiva por aqui. Havia, ainda, uma alemã na equipe e a nossa sintonia me ajudou muito na adaptação. Diante de tantos caracteres indecifráveis, a experiência que elas tinham adquirido em pouco tempo de China foi suficiente para não asfixiar a nova peixe fora-d’água, desde qual a cor do “melhor” iogurte no mercado e onde se encontra um pão que não seja tão doce até coisas do gênero “como voltar para casa sem entrar em pânico!”.
Saindo da zona de conforto
O ambiente na empresa era muito dinâmico e todas realizamos projetos muito interessantes dentro da área de tecnologia da informação junto com colegas chinesas. A empresa fornecia apartamento e uma ajuda de custo mensal. É comum encontrar agências de intercâmbio que fornecem a mesma assistência. O horário era muito bom, das 9 às 18 horas e tínhamos quase 2 horas de intervalo no almoço. Morávamos perto, então podíamos fazer tudo a pé.
Na empresa não havia uma barreira linguística – havia um abismo linguístico. O idioma oficial do departamento era (em tese) o inglês mas, mesmo assim, a comunicação era muito difícil. Entender os surpervisores já é difícil em sua língua mãe, imagine se ambos estão tentando se comunicar em um segundo idioma no qual nenhum tem domínio total? Expressar suas ideias de forma clara e eficiente era um “Grand Canyon”, mas ajudou a desenvolver a capacidade de se comunicar de maneira mais eficaz. Com o tempo e – principalmente – a persistência, você perde o medo de argumentar. Muitas vezes, percebe coisas que vão além do quadrado.
O choque cultural foi bem grande no início, pois mesmo as cidades pequenas aqui na China são maiores do que as maiores cidades do Brasil. Tudo é muito desenvolvido e enchem os olhos nas primeiras semanas. Acho que é um tabu grande para muita gente. Enxergam a China como um país “feroz” e bem extremo. A realidade é que fui recebida com muita hospitalidade pelos chineses e o mesmo perdura até hoje. Além disso, quanto mais aprendo o idioma e percebo a cultura chinesa, mais compreendo o modo de pensar e agir deles. Parece que a lacuna entre o “estrangeiro” e o “local” é cada vez menor. Cada vez mais me sinto uma parte da equipe, da sociedade, na medida em que a fronteira do idioma vai diminuindo.
A minha experiência com a AIESEC durou apenas 3 meses, e logo depois que o prazo se encerrou, recebi diferentes propostas por aqui. Como ainda tinha em mente continuar meus estudos em mandarim, encarei diferentes desafios. Cada um deles só me fez crescer, tanto profissional quanto pessoalmente.
Indico o programa Talentos Globais da AIESEC para quem pensa em ter uma experiência internacional no currículo e ter uma estrutura básica de suporte. Na prática, a AIESEC pode ser falha em alguns pontos, e diferentes países irão apresentar diferentes restrições, porém é uma entidade que abre muitas portas, oferece boas oportunidades de aprendizado e reconhecimento global. Obtenha todas as informações necessárias antes de sair do país!
É importante que, acima de tudo, você possua um grande desejo dentro de si pelo desafio. Vários serão os obstáculos, entretanto é importante não perder sua motivação em nenhum momento. Esteja ciente de que está largando tudo! É preciso abrir sua mente, rever todos os seus conceitos. Você não está largando somente a casa e a família, mas também os seus gostos, as suas preferências. Caso contrário, você viverá frustrado por não encontrar uma padaria com um pão de queijo ou por encontrar apenas comidas cozidas de um jeito “estranho”. Se você está disposto a encarar uma mudança radical em sua vida que irá trazer a você, no mínimo, um grande conhecimento pessoal, encontre uma forte motivação que instigue a se jogar nesse mundão – e, quem sabe, nos encontramos por aí?
2 Comments
Bruna, eu adorei sua história!! Que inspiradora!
Achei incrível o fato de você ter ido pra China, um país tão longe e diferente do nosso. Além disso, vc fala mandarim! Muito bacana!
O fato de vc ter se formado em pp e agora trabalhar com ri mostra como a vida é curiosa!
Adorei!
Um gde bjo,
Lorena.
Obrigada Lorena!
Realmente, vejo muitas pessoas que se formaram em publicidade trabalharem em outras áreas. É um curso que abre muitas portas, e o aprendizado pode ser colocado em prática em diversas profissões.
Por incrível que pareça, existem vários brasileiros morando na China, e acredito que a maioria se encanta com o estilo de vida aqui. Os brasileiros são muito bem vistos e valorizados!
Obrigada pela visita ao blog! Espero ve-la de novo por aqui 😉